O cineasta português Silvino Santos imigrou para o Brasil no início do século, tornando-se um dos pioneiros do cinema e da fotografia na Amazônia
O cineasta português Silvino Santos imigrou para o Brasil no início do século, tornando-se um dos pioneiros do cinema e da fotografia, muito bem retratado no documentário do também cineasta Aurélio Michilis. Na verdade ainda é uma das personalidades portuguesas que legou um importante enriquecimento cultural a Amazônia ao Brasil e ao mundo. Quanto a isso, não há resquícios de dúvida. Não há palavra que possa rebater sua condição de apaixonado pela nossa Amazônia.
A Manaus daquela época, histórica elaborou o seu idealismo humano, a qual prendeu Silvino Santos às nossas raízes, o modo de ver e sentir encarnaram uma espécie, de arquétipo daquele período. Foi assim, que a nossa Amazônia, do ciclo do látex esqueceu os padrões limitados e entregou-se ao romantismo da aventura, do capital dos bancos ingleses e americanos. Sem pensar na aventura e com ações de desbravadores esses novos barões do látex, aviadores, comerciantes e seringueiros embrenharam-se no seio de nossas florestas.
Silvino Santos representou para nós o bem fluir de um profissional qualificado, conseguiu ser mais que um pioneiro, justamente pelo talento extraordinário e pela capacidade de construir uma linguagem ainda inexistente, estabeleceu uma gramática diferenciada do cinema daquela época. O cinema produzido por ele ainda precisa ser reconhecido e contextualizado no processo generativo do cinema nacional e principalmente estudado nas grandes universidades do nosso país.
Temos que admitir que a Amazônia jamais seria a mesma no tocante ao ciclo do látex. Se ainda é possível reconhecer-se algumas lembranças da velha ordem daquele período é só olhar para o nosso patrimônio histórico, muito especialmente das cidades de Manaus e Belém do Pará. Quando se fala daquele período, é como se fizesse uma viagem das atividades do cineasta, principalmente aquela ligada ao látex, afinal, foi uma fase marcada por grande crescimento econômico e, por que não dizer com profundo crescimento na economia de nosso país.
Temos que lembrar do velho seringueiro, homens, árvores, látex, floresta, trabalho, extração, fome, ostentação, seringais, grandes joalherias, lojas de roupas finas importadas da Europa, bazares, teatros, navios e povos indígenas. Tudo isso, foi herança deixada por Silvino Santos sob as lentes desse homem fantástico.
Nascido em Sernache, do Bom Jardim, em Portugal, Silvino Santos, entrou na Amazônia por Belém do Pará, em 1899, fotografou e pintou por um longo período, cujas as telas são valiosíssimas. Transferiu-se para Manaus em 1910, onde conheceu o seringalista Dom Júlio César Aranã, empresário que financiou seu primeiro filme. Foi patrocinado por Dom Júlio de Aranã que Silvino Santos chegou a fábrica dos irmãos Lumière, em Paris, onde estudou toda a técnica da fotografia e da cinematografia.
Não podemos esquecer o seringueiro que na sua maioria eram retirantes nordestinos que abandonavam a seca de suas terras e da miséria que eram uma espécie de sistema opressivo. O seringal fora lhe oferecido como redenção, porém, aquela estrutura montada no seringal os levaria a se tornarem escravos daquele processo econômico e naturalmente da opressão do seringalista.
Silvino Santos que convivia com a elite local não passava de um importante funcionário da empresa do maior exportador de látex da época, J. G. Araújo, o famoso Comendador Joaquim Gonçalves. Segundo alguns autores que falam da sua humildade afirmando que, ele nunca foi considerado um artista ou pretendeu ser um intelectual, porém, foi sim um artista e um intelectual e, ainda carente de muito estudo sobre sua obra. Para alguns ele era beletrista da época, tido como figura excêntrica, era sim um intelectual trabalhava com inteligência a máquina de filmar e de fotografar.
O escritor Márcio Souza, assim destaca Silvino Santos:
“… O cinema de Silvino Santos é um cinema que ainda precisa ser contextualizado no processo generativo do cinema nacional,”
“… O cinema brasileiro precisa também se reencontrar em Silvino Santos, porque ele têm enormes afinidades com Humberto Mauro. Ambos são fundadores e alicerces do cinema nacional. Tanto quanto Mauro, Silvino era um apaixonado ingênuo e um virtuoso.”
*SOUZA, Márcio. O Cineasta do ciclo da borracha. 2°edição. Manaus. Edua, 2007.
Márcio Souza é romancista, ensaísta e dramaturgo. É um apaixonado pela Amazônia, sua terra natal, de onde vem a inspiração para a criação de sua vasta e variada obra. Nela se destacam, entre outras: Galvez, Imperador do Acre e Mad Maria, adaptada para a Minissérie da Rede Globo de Televisão. Seus livros são editados em vários idiomas.