Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas: um Legado, uma História e uma Ação

“O Hospital Português como é conhecido em nossa sociedade é uma entidade de assistência à colônia portuguesa local nascida como as demais em nosso país do espírito de solidariedade de um grupo de cidadãos portugueses”

Na verdade é que, para se reconhecer-se em toda a sua extensão, em todo o seu significado e em todas as suas minúcias, o que tem sido a ação dos portugueses na Amazônia e muito especialmente no Estado do Amazonas, é fundamentalmente indispensável saber como eles aqui chegaram, como se aclimataram e, por que forma exerceram sua natural adaptação a nossa região, qual foi as suas diretrizes sob o ponto de vista regional e de que recursos se serviram para ocupar a nossa região.

Farmácia de Manipulação em 1913. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

Cumpre ver como eles aqui trabalharam e seus descendentes continuam trabalhando para contribuir com a nossa economia e sociedade, imprimindo, quer pela comodidade da língua e dos sentimentos, quer pelo caldeamento operado pela formação de suas famílias, imprimindo sempre o caráter nitidamente lusíada. Foi de importância capital o fato de terem preservado uma unidade religiosa que aqui implantaram criando as mais remotas e profundas raízes da unidade do catolicismo. Para tanto, temos que fazer, embora em resumo, mas com possível clareza um estudo histórico.

Foi sem sombra de dúvida uma caminhada repleta de dificuldades, porém, no simbolismo do sagrado lenho feito de rígida madeira da primeira árvore derrubada na floresta por mãos europeias. Há digamos assim, um prenúncio, uma promessa, um compromisso e até um pacto. Aí se define o que mais tarde virá a ser o caráter brasileiro, formado pela influência espiritual do cristianismo e pela influência racial da civilização lusíada. 

Beneficente Portuguesa em 1893, na Rua Corrêa de Miranda hoje Av. Joaquim Nabuco. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

Foi com tanta firmeza que se solidificaram esses dois princípios. Foi essa ação constante, metódica, consciente, heroica e algumas vezes abnegada que marcaram sua presença entre nós. Temos que admitir que a aliança Luso-Brasileira não depende de tratados porque está nos glóbulos sanguíneos de todos nós. Somos dois povos absolutamente independentes, vivendo em espaços diferentes, porém separados unicamente pelo grande oceano, mas somos só uma raça. “Lusíadas do Brasil”.

O conhecimento dessas circunstâncias constituem o mutuo e legítimo orgulho de brasileiros e portugueses. Registrar os fragrantes memoráveis e histórico da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas no momento do seu aniversário de fundação é motivo de satisfação profunda com a sociedade amazonense.

Na atividade comercial, na construção civil, na direção de bares, padarias, mercearias e na construção civil figuram eles, os lusitanos, com uma parcela muito grande no desenvolvimento do Amazonas, em particular no período áureo da borracha, em Belém e em Manaus e nos núcleos urbanos no interior do Estado com maior expressão demográfica e econômica, criaram dezenas de estabelecimentos comerciais, com que exerceram uma salutar atividade econômica promovendo nosso desenvolvimento.

Essas verdades históricas contadas tantas vezes na literatura, resultam do espírito de luta dos bravos irmãos lusitanos que se deslocaram do seu país. A figura importante do Presidente da Província a época, Doutor Domingos Monteiro Peixoto, representa de forma brilhante a personalidade que marca na fase pré-hospitalar, como doador da terra solicitada, sob a autorização e proteção de sua Majestade Dom Pedro II, o chefe supremo do Governo Imperial. O Tenente Coronel José Coelho de Miranda Leão, Presidente da Câmara Municipal da época, teve seu papel de sua importância na vida inicial do referido hospital, promovendo “O Auto da concessão do terreno de 9.952 metros quadrados lá no largo da Uruguaiana onde hoje encontra-se a Igreja e o Colégio Dom Bosco e parte do campo do Colégio Militar de Manaus. 

Comendador José Teixeira de Souza, fundador e primeiro Presidente. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

Concedido o terreno, o então presidente da época José Teixeira de Souza tomou providências no sentido de implantar o hospital, chegando inclusive a lançar a Pedra Fundamental, no dia 16 de agosto de 1874, Pedra Fundamental que representa o grande símbolo do velho sonho que só veio concretizar-se vinte anos depois, em outro local bem distante.

O esforço em busca do vil metal, promoveram quermesses, arraiais, peças de teatro, festivais de música, subscrições e arrendamento do pavilhão, construído para este fim, foram algumas destas atividades que promoveram os heróis fundadores, com isto, somando recursos para a construção do sonhado hospital, cuja, primeira enfermaria chegou a ser construída e não foi usada, em fase da desapropriação do terreno pelo governo da época.

No dia 17 de dezembro de 1893, portanto, vinte anos após a fundação inaugurava-se o hospital na sede atual, na antiga Estrada Correa de Miranda, hoje, Avenida Joaquim Nabuco, na presidência em exercício do senhor Francisco Nicolau dos Santos, cuja inauguração foi presidida pelo então governador Eduardo Gonçalves Ribeiro, como registra a ata do hospital.

O Hospital Português como é conhecido em nossa sociedade é uma entidade de assistência à colônia portuguesa local nascida como as demais em nosso país do espírito de solidariedade de um grupo de cidadãos portugueses reunidos na casa do Comendador Francisco de Souza Mesquita, cujo, endereço a ata não registra planejaram discutiram e decidiram a sua organização. Presidia a Província o Doutor Domingos Pereira Peixoto, que solidarizando-se com os abnegados fundadores, assegurou-lhes a facilidade que o poder público podia oferecer, de tal modo que se havendo na concessão dessa facilidade recebeu o reconhecimento do Governo Português que lhe concedeu a graça do título, de “Barão de São Domingos”. A Rua Barão de São Domingos de nossa cidade tem sua história ligada ao Hospital Português.

Sessão de Instalação, em 31 de outubro de 1873

“… Presidência do Doutor Teixeira de Souza. Às 7h da tarde, presente os senhores sócios Teixeira de Souza, Mesquita, Souto, Barros, Bernardo de Souza, Marçal, Oliveira, Oliveira Filho, Pinto Ribeiro, Afonso, Fontão, Tavares, Saldanha, Alves, Almeida, Álvaro, Correa da Silva, Bernardo da Costa, Pinto, João Antônio Claudini, Roque, Ferreira e Pingarilho. O senhor Presidente declara aberta sessão. Em ato contínuo, mandou proceder a leitura das atas das sessões de 19 e 26, que postas a voto foram aprovadas sem alteração.

Em seguida, foi presente a casa um ofício do senhor Doutor Felipe Honotato da Cunha Mininéa, oferecendo gratuitamente os seus serviços como advogado perante os tribunais desta capital, a todos os portugueses indigentes, membros desta associação, foi aceito com especial agrado, deliberando-se que fosse dirigido um agradecimento ao dito do senhor, em nome da sociedade. O senhor presidente comunicou a casa, a escusa do sócio Chaves, tanto de procurador como de sócio e convidando os sócios presentes para proceder-se a eleição do cargo que vagava por essa rejeição. Correu o escrutínio recolhidas 24 cédulas, obtiveram votos os sócios Bernardo Rodrigues D’Almeida, 23 e Antônio Francisco Afonso 1 voto, pelo que foi proclamado procurador e sócio Bernardo Rodrigues D A’lmeida.

E nada mais havendo a tratar com relação ao expediente, o senhor presidente convidou o sócio Domingos D’Almeida a ocupar a cadeira da presidência e ao sócio Bernardo José de Souza, José Ferreira de Barros aquele para ocupar o lugar de primeiro-secretário e este para o lugar de segundo, a fim de receberem dele o juramento de presidente efetivo, aceito o convite o sócio José Teixeira de Souza prestou juramento na conformidade dos Estatutos e em seguida assumiu a presidência efetiva, recebendo o juramento dos mais funcionários eleitos que compõem a diretoria do primeiro ano. Em seguida, o senhor presidente leu um pequeno discurso agradecendo à casa, a confiança que nele depositou. Em seguida, o primeiro-secretário leu um outro felicitando a colônia portuguesa por tão plausível acontecimento. Um e outro foram arquivados. Nada mais havendo a tratar o senhor presidente levantou a sessão.

Eu, Domingos D’Almeida Souto, primeiro-secretário a escrevi e subscrevi.

José Teixeira de Souza.

Domingos D’Almeida Souto.

O atual presidente Doutor Vítor Vilhena, juntamente com seu diretor clínico Doutor Eduardo Manarte acompanhado de toda diretoria vem conduzindo com esplêndido marco de dignidade, operosidade e dedicação. Tem sido uma tarefa exaustiva. Este fato tem deixado marcas de dignidade e sabedoria na trilha da operosa existência do Hospital Português com uma paciência e capacidade incomum para lidar com as ocorrências do dia a dia, dando continuidade a saga da colônia portuguesa em Manaus.

Temos que destacar a administração do Comendador José Cruz que por sua vez dedicou-se mais de trinta anos de sua vida ao Hospital com um invólucro de sentimento de amor, carinho e respeito. Outro presidente que marcou época foi o senhor Alfredo Monteiro Vieira, dando a dinâmica modernização do hospital no período em que foi presidente. 

Hospital Beneficente Português, em Manaus. (Foto:Divulgação/HPAM)

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