Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas: a conquista do terreno próprio no primeiro ano de existência

Em agosto de 1874 foi solenemente colocada a pedra fundamental do hospital projetado no terreno do Largo da Uruguaiana, momento em que estiveram presentes todas as autoridades da província.

Espelho fiel do nascimento e desenvolvimento do hospital sob o comando do empresário Comendador José Teixeira de Souza, cujo poder de síntese e segurança em suas assertivas estimula qualquer historiador a transcrever o seu valor histórico e a sua objetividade de conceitos e avaliações.

Eleita esta diretoria de 26 de outubro de 1873, tomou posse no dia 31 do mesmo mês e se reuniu 12 vezes para deliberar sobre assuntos concernentes à sociedade. Nessas reuniões foram apresentadas e aceitas 72 propostas para sócios, sendo 64 não aceitas por não cumprirem o artigo 7 dos estatutos da época.

José Teixeira de Souza, fundador da Grande Benemérita Loja Simbólica Esperança e Porvir n°1. Fez parte da comissão composta dos irmãos para organizar os estatutos internos da loja. Foi fundador da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa do Amazonas. 31 de outubro de 1873. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Naquele período, o hospital contava com 108 sócios. Era, assim, um número expressivamente de minuto em relação à quantidade de portugueses que habitavam o Amazonas, mas, infelizmente, teve a diretoria de lutar com causas que de maioria eram desconhecidas, achando-se além disso um número expressivo de portugueses espalhados pelo interior, sem domicílio certo, onde poderiam ser procurados.


Receita e despesa: A receita daquele período teve a cifra de 8:090 $ 505, incluindo os produtos adquiridos através dos Bazares de Prendas e cuja despesa foi de 1:167 $ 445.

A conquista de um terreno próprio

Por intermédio de sua excelência o senhor Presidente da Província, a Câmara Municipal da Capital sob a presidência interina do Excelentíssimo Senhor Tenente Coronel José Coelho de Miranda Leão, foi concedido um terreno numa área de 9.952 metros quadrados, na Praça Uruguaiana, um dos melhores locais de Manaus pelas suas condições higiênicas, como consta do respectivo termo de posse em 17 de março do mesmo ano, mediante o pagamento do foro que a Câmara Municipal marca para os terrenos urbanos.

Este terreno foi cercado em toda sua extensão, com duas estradas, uma pela nascente e outra pelo poente, tendo-se gasto com a obra a importância de 2:529 $ 900, de acordo com o balancete da época, dentro do mesmo terreno foi edificado, um pavilhão com as condições precisas para nele se fazerem os Bazares de Prendas. Esta obra que, a época, tornou-se de absoluta necessidade, foi feita com solidez e representava um valor de 1:959 $ 743.

José Coelho de Miranda Leão, fundador da Grande Benemérita Loja Simbólica Esperança e Porvir n°1, tesoureiro e fundador e primeiro presidente da Associação Comercial do Amazonas em 1871. Também foi o presidente da Câmara Municipal em 1873, quando autorizou a doação do terreno do Largo do Uruguaiana para a Beneficente Portuguesa. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A pedra fundamental

Em agosto de 1874 foi solenemente colocada a pedra fundamental do hospital projetado no terreno do Largo da Uruguaiana. Nesse ato solene estiveram presentes todas as autoridades da província, que prestaram a abrilhantar aquela festa de caridade com suas presenças. A convite da diretoria, também se fizeram presentes grandes número de famílias e cavalheiros. Desta festa foi lavrada uma ata, que depois de assinada por todos os cavalheiros e senhoras presentes, foi encerrada dentro de uma pedra com um buraco no centro onde foram colocados os jornais do dia e moedas portuguesas, cuja pedra jamais enterrada encontra-se no museu do hospital.

Em seguida foram proferidas várias alocuções, depois que o Reverendo Vigário Geral celebrou a santa missa e abençoou a pedra fundamental com a solenidade da liturgia católica e entoaram-se os vivas do estilo, dando-se todas as demonstrações de regozijo em festas de tal natureza. E das obras que deram continuidade até aquele período, já se havia feito 39, 560 metros cúbicos de alvenaria no valor de 845 $ 050.

Os serviços prestados ao hospital pelo Excelentíssimo Senhor Doutor Domingos Monteiro Peixoto, Presidente da Província, foram à época de fundamental importância para o início do hospital. A diretoria da época destacou que o Excelentíssimo Senhor Tenente Coronel José Coelho de Miranda Leão, honrado presidente da Câmara Municipal de Manaus, foi de suma importância para o hospital. O distinto Engenheiro Doutor João Carlos Antony, manifestou-se em prestar auxílio a instituição. O ilustrado Magistrado Doutor Felipe Honorato da Cunha Mininéa, na instalação da sociedade, ofereceu-se espontaneamente para advogar os interesses da sociedade.

Outros nomes foram de fundamental importância a época: Domingos D’Almeida Souto, José Ferreira de Barros, Francisco de Souza Mesquita, Marçal Gonçalves Ferreira e José Joaquim Ribeiro Couto. Estes desenvolveram com zelo e dedicação suas atividades como diretores da instituição, principalmente nos Bazares de Prendas. Todos foram fundadores do hospital.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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