O imigrante português Francisco Rodrigues Gomes

Gomes foi fundador do Luso Sporting Club, um marco da história de Manaus.

Se a arquitetura é o símbolo mais visível de uma sociedade, a fisionomia de Manaus daquela época reflete bem o espírito da sociedade que aqui floresceu em fins de 1800 e início de 1900. Na verdade, a arquitetura de Manaus mais antiga exprime uma atitude emocional e estética do apogeu do período do látex e da burguesia enriquecida pelo processo produtivo nos seringais.

A cidade que despertou a admiração de tantos estrangeiros imigrantes ou visitantes, nas primeiras décadas de 1900, surgiu por encantamento. De uma aldeia dos índios Manaus, o antigo Lugar da Barra se transformara num dos mais importantes centros do mundo tropical graças à vitalidade econômica da borracha que lhe deu vida, riqueza e encantos, como na antiguidade o comércio intenso no Mediterrâneo e Adriático possibilitou a Roma, Florença e Veneza papel preponderante na economia nas artes, nas letras e na arquitetura da Velha Europa.

Francisco Rodrigues Gomes, fundador do Luso Sporting Club. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Tal como Veneza por meio de seu comércio de longo alcance com povos europeus, Manaus veio conhecer o gosto e a experiência de países americanos procurava inspirações de vida e de ação. O passeio de férias à Europa era a ocorrência de rotina para as famílias que residiam em Manaus que por sua vez, de lá traziam ideias e sugestões transformados em valores culturais, às vezes um tanto invulgar de uma sociedade desejosa de crescer e firmar-se como força civilizadora.

Os imigrantes portugueses tiveram, ainda, importante função na modelagem da sociedade e da economia amazônica, tanto nas cidades como no interior. Naturalmente, como classe politica dominantes e com o surgimento das atividades agrícolas e florestais extrativistas, tornaram-se agentes decisivos, suprindo essas atividades de liderança empresarial necessária, como produtores, mercadores, exportadores e comerciantes, alcançando posição oligopolista, que se manteve no ápice da atividade socioeconômica baseada na borracha até o advento de novas corrente e grupos culturais mais dinâmicos e inovadores.

Residência do Sr. Francisco Rodrigues Gomes, onde foi fundado o Luso Sporting Club. 

Durante a fase áurea do látex, no fim do século XIX e na primeira década do século XX milhares de imigrantes lusos, atraídos pela fortuna conquistada por meio do trabalho, foram pioneiros na organização do sistema mercantilista de intercâmbio, cujo, a maior atuação era representada pelo comércio típico das casas aviadoras. As firmas portuguesas estabelecidas em Manaus e Belém transformaram essas cidades em entrepostos comerciais e, por algumas décadas, estabeleceram as linhas logísticas de suprimento rio acima de mercadorias à base de crédito pessoal, com os seringalistas recebendo, em contra partida, rio abaixo, mediante compra e venda, os gêneros e produtos extrativos destinados a exportação.

Esse período histórico da economia amazônica, como bem escreveu o professor emérito Samuel Isaac Benchimol, denominou-se a era dos “J”, em decorrência da preferência dessa letra nas iniciais das firmas pertencentes a portugueses de então, como por exemplo: J. G. Araújo, J. S. Amorim, J. a Leite, J. Soares, J. Rufino e tantas outras.

Avenida Joaquim Nabuco esquina da Rua dos Andradas sendo a residência do governador Silvério Nery, 1906. Foto: Marco Di Panigal

Fundação do Luso Sporting Club 

Foram onze jovens portugueses, que tão somente queriam jogar futebol, eram rapazes simples e sem grandes recursos financeiros, que labutavam no comércio de Manaus

No dia 1 de maio de 1912, os portugueses Francisco Rodrigues Gomes (Chaby), Antônio Lameirão, Francisco Ferreira de Carvalho (Carvalinho), José Aguiar Sobral, Avelino Nunes Batista (Fantomas), Antônio Leitão Melita, Augusto Ornelas, Salvador de Castro Amorim, João Rodrigues (Acadêmico), Joaquim José Pereira e Joaquim A. Lima Crispim, na Rua Monsenhor Coutinho, residência do sócio Francisco Rodrigues Gomes, que no ato cedeu sua casa para a fundação do clube que fora batizado com o nome de Luso Foot-ball Club. Sua primeira apresentação oficial ocorreu no campo Parque Municipal, realizando na oportunidade seu embate contra o Manáos Sporting Club, tendo sido um dos primeiros clubes a fazer parte da Liga Amazonense de Desportos Atléticos.

Durante um período de 1912 a 1914, suas atividades limitaram-se à prática do futebol, aliás, essa foi a principal razão da sua fundação. É como se descerrasse a cortina que ocultava no anseio dos portugueses que o fundaram, na arte da perseverança e seus detalhes admiráveis. Seus fundadores forma artífices que se esmeraram acreditando na semente que acabavam de plantar em solo amazônico. Naquele momento o clube já alcançava as culminâncias dos desportos no Amazonas, ao lado de outras organizações existentes no gênero.

Os fundadores do Luso Foot-ball Club não criaram uma sociedade para fins do desporto. Apesar de serem homens simples eles tinham ideias avançadas, trouxeram os métodos da pátria mãe, colheram e puseram em prática os exemplos de respeitos mútuo e amor a tradição que foi a verdadeira e indestrutível muralha construída no apoio a perpetuação da agremiação que acabara de nascer.

Fotografia de Silvino Santos do Largo de São Sebastião. Foto: Silvino Santos

Segundo a família do fundador Francisco Rodrigues Gomes: 

[…] Francisco Rodrigues Gomes nasceu em 21 de setembro de 1888, na Freguesia de Peso da Régua, Conselho de Peso da Régua, Distrito de Vila Real em Portugal, nessa época em Portugal ainda era uma monarquia.

A igreja católica era responsável em fazer os registros cíveis de nascimento, casamento e óbitos no Estado Monárquico Português. Somente em 1910 com advento da Instalação da República Portuguesa, os registros cíveis passam a ser administrados pela República Portuguesa.

Os Acentos de Batismo Paroquial valiam como registros de nascimentos, só o primeiro nome da criança eram escrito, porque naturalmente os sobrenomes (apelidos) eram herdados do pai compondo o nome completo.

A mãe de Francisco Rodrigues Gomes a senhora Maria Margarida Guedes faleceu com problemas relacionados ao parto no dia seguinte ao nascimento dele em 22 de setembro 1888, ela tinha 18 anos. O pai Manoel Rodrigues Gomes posteriormente se casou novamente com a senhora Maria de Jesus Gomes, ela criou Francisco Rodrigues Gomes como filho e ele a reconhecia como mãe.

Posteriormente, Francisco Rodrigues Gomes homenageou a madrasta dando o nome dela a uma de suas filhas gêmeas que foi registrada no Brasil com o nome de Maria de Jesus Gomes. Em 9 de outubro de 1901 Francisco Rodrigues Gomes com 13 anos de idade tem o seu primeiro registro de passaporte português emitido para viajar para o Brasil (provavelmente com autorização dos pais), mas não viajou e esperou a idade de 21 anos. Em 14 de abril de 1910 ele já com 21 anos de idade faz seu segundo registro de passaporte português e logo em seguida viaja para o Brasil com destino a cidade de Manaus. Chegou em Manaus no mês de setembro de 1910, seu primeiro emprego no comércio de Manaus foi de guarda-livros já que tinha qualificação nessa profissão a época.

Luso Sporting Clube. Foto: Silvino Santos/Acervo Abrahim Baze

Juntamente com dez jovens portugueses, movidos pela paixão do futebol fundaram o Luso Sporting Clube no dia 1 de maio de 1912, cujo, o nome a época era Luso Foot-ball Club em sua residência cito a rua Monsenhor Coutinho. Em 1917 conforme a ata do clube numa Assembleia Geral sobre a presidência de Francisco Rodrigues Gomes que presidiu de 1915 a 1918 é substituído o nome de Luso Foot-ball Club para Luso Sporting Clube como forma de abranger outras categorias de esportes e atividades culturais. Na data de 20 de setembro de 1914 Francisco Rodrigues Gomes recebe da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas o diploma de sócio efetivo.

Já a partir de 1920 ele passa a trabalhar comercializando mercadorias transportadas em barcos para o interior do Amazonas (regatão), até a cidade de Canutama. Nesta cidade ele conhece sua futura esposa Raimunda do Carmo Lima, imigrante nordestina da cidade de Limoeiro do Norte, Ceará. Em 18 de fevereiro de 1933 nasce a primeira filha Nayad do Carmo Gomes. Depois do nascimento de sua filha primogênita passa a trabalhar como gerente de um seringal na área rural do município de Canutama, conhecido a época como Vista Alegre. Na década de 40 retorna para Manaus com a família e recebe como indenização uma casa situada na Rua Tapajós.

*Estas informações foram cedidas pelo seu neto Francisco Ângelo Gomes.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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