Magdalena tinha como lema que “quem não nasceu para servir, não serve para viver”.
Clarim Abandonado (Álvaro Maia)
“Bendito seja”
[…] Foi nessa emergência que você lhe surgiu, enfermeira aureolada com diploma haurido no Céu, trazendo a cruz de Jesus nos diagnósticos de oração. Porejava-lhe da fronte o hausto das dores lancinantes, que resistem aos entorpecentes: Dentro da noite, em pancadas dolentes, piavam as horas da igreja vizinha, alegrando-se apenas às primeiras vozes da manhã, anunciada no mostruário luminoso.
O olhar da enfermeira derramava-se em óleo santo sobre o ferido: Suas mãos aplicavam o medicamento e, logo em seguida, se entreabriram em preces, ou apertavam um Crucifixo mercurizado, como um braço de estrela entre nuvens escuras.
Havia, num simples copo d’água, o refrigério de uma fonte encantada reproduzindo essências de selvas floridas.
A vela próxima ao altar, esvaia-se: o soldado parecia adivinhá-la no momento supremo, escorrendo bagas de cera em seus dedos imobilizados.
Fonte: REVISTA DA ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS. ANO XLVII, DEZEMBRO DE 1969. N° 14.
No passeio de sua existência, Magdalena Arce Daou, colecionou referências aos amigos e admiradores, pessoas com as quais ela conviveu e deixou impresso nesses corações a marca de uma fraterna amizade.
Ela soube pintar com as cores da alma generosa, usando as tintas do coração quando escolheu sua profissão, enfermeira, cuja, personalidade forte foi capaz de encantar o jovem jornalista Phelippe Daou.
Magdalena Arce Daou foi a beleza do servir, que se ocultou por trás da simples dimensão do seu corpo material, soube compreender o milagre do servir que é o enigma e condição indispensável para uma existência enriquecedora e feliz.
Era amazonense de Antimari, no município de Lábrea, nasceu no dia 11 de dezembro de 1929. Foram seus pais Benjamin Leôncio Arce e Maria de Souza Arce, ambos já falecidos. Foi casada com o jornalista e empresário das comunicações Phelippe Daou, presidente do Grupo Rede Amazônica. Desse enlace matrimonial trouxe ao mundo dois filhos: Phelippe Daou Júnior, hoje CEO do Grupo Rede Amazônica e Cláudia Maria Daou Paixão e Silva, Diretora Presidente da Fundação Rede Amazônica.
Veio muito jovem estudar em Manaus. Normalista formada no tradicional Colégio Santa Doroteia em 1949, exerceu o magistério por um período de um ano no Grupo Escolar Saldanha Marinho.
Transcorria o ano de 1951, quando foi aprovada no vestibular para a Escola de Enfermagem Ana Nery da Universidade Federal do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, tendo sido diplomada em 20 de maio de 1954, como bolsista do SESP (Serviço Especial de Saúde Pública). Foi designada para trabalhar em Manaus na Escola de Enfermagem, tendo exercido sua profissão durante o período de dez anos no tradicional Hospital Santa Casa de Misericórdia, que à época servia também como Hospital Escola.
Foi no centro cirúrgico onde atuou preferencialmente suas atividades, exerceu com dedicação a função de orientadora de alunas estagiárias, tendo contribuído nesta função para a formação de dezenas de profissionais, que beberam na fonte de seus ensinamentos. Desligou-se do Hospital Santa Casa de Misericórdia e, imediatamente, foi exercer função burocrática na Delegacia Federal de Saúde em Manaus, função essa em que conquistou sua aposentadoria, com relevantes serviços prestados, em 1984.
Sob a proteção de Deus, Magdalena Arce Daou, abriu seus braços como se fossem muitas asas. Asas da bondade que se abriram luminosas sobre as pessoas necessitadas, dedicando-se então, ao serviço assistencial. E foi nesse contexto que ela participou com dedicação do Conselho Permanente da Mulher Executiva do Amazonas (CPMEA), órgão auxiliar da Associação Comercial do Amazonas (ACA), que fora instalado em 18 de outubro de 1984.
Por conta de sua dedicação e capacidade de liderança em aglutinar pessoas, foi eleita para a Presidência do Conselho no biênio 2006/2008, sendo reeleita para o mandato de 2008/2010
Magdalena Arce Daou tinha como lema de que “quem não nasceu para servir, não serve para viver”, com este princípio direcionou seus projetos à frente do Conselho Permanente da Mulher Executiva do Amazonas, às camadas menos favorecidas da nossa Sociedade.
Teve seu nome perpetuado na Maternidade Nazira Daou com a Unidade Cangurú, cuja implantação foi designada pela portaria 1.683 de 12 de julho de 2007, pelo Ministério da Saúde. Este importante setor promove uma atenção de qualidade humanizada e individualizada às gestantes, aos recém-nascidos e as suas famílias.
Seu nome foi imortalizado no Centro Estadual de Convivência da Família, no Bairro de Santo Antônio, na creche Municipal de Santa Luzia e no prédio que abriga o canal temático, Amazon Sat. Faleceu no dia 20 de agosto de 2010, deixando saudades aos amigos e familiares.
*Texto construído a partir das informações do seu esposo Phelippe Daou.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
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