Os judeus na Amazônia: a terceira geração e o êxodo do interior para Belém e Manaus

A terceira geração de judeus marroquinos compreende o período da grande crise, que vai de 1920 a 1950, quando durante esse período de trinta anos, a economia amazônica entrou em crise.

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

A terceira geração de judeus marroquinos compreende o período da grande crise, que vai de 1920 a 1950, quando durante esse período de trinta anos, a economia amazônica entrou em crise e os descendentes da primeira geração e pioneiros, que se internaram nos mais remotos lugares, vilas, povoados e pequenas cidades da Amazônia, iniciaram o seu êxodo para Manaus e Belém. (BENCHIMOL, 1998).

Era, como disse acima, os tempos das vacas magras, de pobreza, penúria, quando os judeus – e juntamente os sírios-libaneses e nordestinos-cearenses – começaram a abandonar os seringais, castanhais, regatões, flutuantes, casas de comércio, sítios e fazendas, que já não valiam mais nada, em busca de sobrevivência nas capitais dos Estados do Pará e Amazonas.

E continua a narrativa do professor Samuel Isaac Benchimol, agora destacando Belém do Pará que já existiam organizadas duas comunidades religiosas:

[…] Em Belém do Pará já existiam organizadas duas comunidades, a de Essel (ou Eshel) Abraham, fundada em 1824 (1823) por Abraham Acris, e Shaar Hashamain, ao que tudo indica fundada antes, ou reinaugurada por marroquinos haviam emigrado para o Pará, no período de 1810 a 1920, ou seja durante cerca de um século, afluiu a Belém considerável massa de judeus que abandonaram as suas vilas e cidades de origem: Cametá, Baião, Gurupá, Breves, Macapá, Altamira, Santarém, Óbidos, Alenquer, Faro, Oriximiná, Itaituba, Boim, Aveiros, deixando pra trás os seus cemitérios abandonados, com os nomes de seus pais e mães esculpidos na lápide de mármore. Abandonaram as suas casas de moradias, os seus negócios e até, como no caso da Cametá, as duas sinagogas que chegaram a funcionar nessa cidade, de onde trouxeram os seus sefarim (rolos da Torah) para as sinagogas de Belém.

Muitos, principalmente mandaram os seus filhos para serem educados no pensionato de D. Sol Israel, bondosa e lutadora, esposa do senhor Elias Israel, filho pioneiro Judah (Leão) Elias Israel, que teve papel muito importante na salvação das crianças judias do interior do Pará e Amazonas, dando-lhes educação judaica e abrigando-as apesar da pobreza no seu lar. Seu marido, o senhor Elias Israel, que chegou a ser rico e próspero, para sobreviver foi ser Shaliaha da Sinagoga Shaar Hashamaim e como nada ou pouco recebia, vivia de ensinar, de casa em casa, os meninos judeus e, ao mesmo tempo, de vender no varejo como ambulante, botões de todos os tipos, para confecção e costureiras. Botões esses que os rebeldes e traquinos judeus tiquitos (pequenos) ralampeavam (haquitia para surrupiar) nas aulas de hebraico, para brincar nos seus times de futebol de botão.

Eram numerosas as famílias judias da terceira geração que haviam abandonado o interior para viver em Belém: Athias, Pazuelo, Benzecry, Serfaty, Levy, Obadia, Abtibol, Nahon, Bemergui, Benjó, Dahan, Elmescany, Bentes, Benchimol, Anijar, Aguiar, Benzaquem, Zagury, Hamu, Melul e centenas de outras famílias que, juntamente com os judeus locais, formavam um grupo de cerca de 600 famílias, num total de cerca de 3.000 judeus na década dos anos de 1930 a 1950.

A atividade comunitária era intensa, pois as duas sinagogas se encarregavam em proporcionar consolo espiritual para esses empobrecidos judeus que haviam, outrora, conseguido alcançar prosperidade durante o ciclo da borracha, de 1890 a 1910. As sinagogas Essel Abraham – Bosque, Arvoredo ou Pousada de Abraham, na Rua Campo Sales abrigavam os judeus mais pobres e os forasteiros (Toshavin), cuja rivalidade contra os sefaradins megorashin ainda permanecia.

Essa primeira e mais antiga sinagoga sempre foi denominada Esnoga de Los Pobres, (os judeus forasteiros, na sua pronúncia em hebraico, suprimiam a diferença fonológica entre o shin (chiante) e o sin (sibilante), e, por isso ao invés de Eshel Abraham se referiam a Essel Abraham, nome incorreto, pelo qual ficou sendo conhecida a esnoga dos forasteiros da Rua Campos Sales (Inácio Obadia, depoimento e correligionário), porém nunca faltava minyan (quórum de 10 judeus) para poder fazer certas orações como abrir o Hehal (área onde são guardadas os sefarim – rolos da lei) e dizer o Kadish (oração pelos mortos). Os forasteiros como eram muito mais religiosos e doutos do que os sefaraditas mantinham as suas tradições e eram muitas vezes mais exigentes no ritual, sobretudo na leitura da Torah, onde o Baal-Korê (leitor das escrituras em Lashon-Hakodesh-Língua Hebraica Sagrada) não podia cometer mais do que três erros.

Por esse motivo havia muitas discussões na sinagoga e muitas delas geravam brigas, desafios e malquerências, o que forçavam os revoltosos e dissidentes, muito a contragosto, a frequentar a sinagoga dos sefaraditas Shaar Hashamain, da Rua Arcipreste Manoel Teodoro, para depois regressar e fazer as pazes com a sua esnoga original. Esta era considerada, no passado, a esnoga dos aviadores e dos ricos, pois tinha muita imponência, embora o ritual não fosse tão rigoroso como na sinagoga da Campos Sales. Com o empobrecimento dos judeus de ambas as sinagogas, a primeira se tornou esnoga de los pobres forasteiros e a outra a pobre esnoga dos judeus aviadores falidos.

Prezença de Israel, Samuel e Isaac Benchimol, prefeito de Manaus Loris Cordovil, além de outros membros da Comunidade Judaica de Manaus, no lançamento da Pedra Fundamental da Sinagoga Beth Yaacov. Foto: Anne Benchimol/Acervo Sinagoga

Outra grande figura de judeu foi a do Major Eliezer Moyses Levy, que foi duas vezes Prefeito de Macapá e uma de Afuá, tendo o seu irmão Moyses sido Prefeito de Igarapé-Mirim. O Major Eliezer, mesmo nesses tempos de crise, jamais perdeu a sua consciência política e comunitária, pois após haver deixado o interior, onde além de político tinha uma companhia de navegação, foi um ardoroso sionista, tendo fundado o jornal A Voz de Israel. A sua filha Anita Levy fundou, na década dos anos 30, juntamente com seu primo, o erudito e sábio David José Perez, o Deborah Clube, uma associação de moças com o objetivo de fazer reuniões, festas e ajudar a comunidade. Um dos seus filhos, o Dr. Judah Eliezer Levy foi o arquiteto, construtor ou reformador de 3 sinagogas: Essel Abraham e Shaar Hashamain em Belém e Beth-Yaacov/Rebi Meyer em Manaus.

Muitos outros eminentes judeus atuaram, nesse período, tanto no campo religioso como na área comunitária e empresarial. Porém no campo religioso não podemos deixar de mencionar a liderança de Levy Obadia, Isaac Pinhas Melul, judeu de Cametá que ao se mudar para Belém, pelo seu notável conhecimento das escrituras e da Torah, tornou-se o Shaliah comunitário da Sinagoga Essel Abraham, até a sua morte aos 106 anos de idade, em 30/04/1974; Samuel Benjó, Leon Benjó, Isaac Dahan( natural de Alenquer), Abraham El-Mescany (de Óbidos), Abraham Moyses Melul, José Ricardo Anijar e o professor Inacio Obadia, todos eles ilustres hahamin, leitores da escritura (Baal Korê) e profundos conhecedores da Torah da Sinagoga Essel Abraham da Rua Campos Sales, de los pobres forasteiros toshavim.

Na outra sinagoga, da outrora rica, e durante a terceira geração dos judeus pobres judeus aviadores e comerciantes falidos – Shaar Hashamaim da Rua Arcipestre Manoel Teodoro- funcionaram como líderes espirituais: Judah (Leão) David Israel, no período de 1890 a 1898, Rebby Messod Dabella, Rebbi Jacob Benualid, Elias Leão Israel (1909 a 1912), Abraham Anijar (rabino atual da Sinagoga Shel Guemilut Hassadim do Rio de Janeiro), Leão Samuel Aguiar, David Benzaquem, Leon Bengio, Menasseh Zagury, Rabino Abraham Hamu e Rabino Moyses Elmescany, este último da cidade de Óbidos e que hoje é o líder religioso e espiritual do Centro Israelita do Pará, dirigido pela arquiteta Oro Serruya e pelo Dr. Marcos Serruya que a sucedeu no período de 1998-2000. Há ainda uma terceira Sinagoga do Grupo Beit/Chabad, dirigida pelo Rabino Disraeli Zagury, que tem conseguido aumentar o número de seus fiéis mais conservadores, atraídos pelo seu fervor religioso.

O Centro Israelita do Pará foi fundado em 20/06/1918 em Belém, e desde então tem sido presidido por grandes figuras do judaísmo paraense: Moyses Levy, Marcos Athias, Abraham Athias, Jaime Bentes (durante cerca de 20 anos) Isaac Barcessat, Elias Pazuello, Ramiro Isaac Bentes, Aarão Isaac Serruya, Isaac David Nahon, Oro serruya e agora Marcos Serruya.

Lançamento da Pedra Fundamental da Sinagoga Beth Yaacov. Foto: Anne Benchimol/Acervo Sinagoga

Na parte empresarial, os judeus paraenses da terceira geração, que haviam falido durante a crise da borracha, ou ficaram muito empobrecidos, tentaram reerguer-se com a ajuda de suas esposas, trazendo as suas famílias para Belém, onde reiniciaram a sua luta e a sua nova vida. Uns como empregados e funcionários públicos, outros como vendedores, negociantes e lojistas. Alguns se transformaram em grandes exportadores de borracha, sorva, castanha, couros e peles, cumaru, timbó e outros produtos regionais, na década dos anos de 1930 a 1950. Nesse período sobressaíram-se: Jayme Pazuello, Marcos, Marcos Athias, Jacob Benzecry, Y. Serfaty, Major Levy e Samuel Levy (de Macapá) Marcos Abitbol e muitos outros.

Os negócios durante a Segunda Grande Guerra, com os Acordos de Washington de 1942, a criação do Banco da Amazônia, em 1940, e a Nova Constituição Federal de 1946, que no seu artigo 199 instituiu o Fundo de Valorização da Amazônia, com recursos de 3% retirado da receita federal durante 20 anos, ajudou a recuperar a economia amazônica, e os judeus tiveram uma prosperidade efêmera, pois passaram a dominar o comércio exterior e a agregar valor aos produtos nativos através da industrialização e beneficiamento da borracha, castanha, couros de jacaré, timbó, serraria, destilação de pau-rosa e etc.

E continua o professor Samuel Isaac Benchimol a narrativa histórica da civilização deste povo que se constituiu sob o signo do sofrimento, do silêncio e da esperança. Rio sem margens que converge para o largo mar da memória, cemitério de lembranças, onde jazem velhos barcos arruinados, náufragos e viajantes em busca de um porto seguro. Como se fossem velhos navegadores conduzindo suas naus através de rotas antigas, reconstruindo a geografia de um passado perdido no tempo e que descrevo aqui na minha obra. Agora com destaque para a cidade de Manaus de um período importante para nossa história.

[…] Em Manaus idêntico movimento repetiu os mesmos padrões seguidos pela terceira geração de judeus paraenses. A luta talvez tenha sido mais difícil para os israelitas amazonenses, pois vivendo no interior da selva, a 1500 Km de Belém, tudo se tornava mais difícil, oneroso e caro.

Os judeus falidos e empobrecidos do interior começaram a chegar a Manaus que, em 1930, tinha cerca de 90.000 habitantes (o senso de 1920 indicou 75.704 e o de 1940 106.399 habitantes). Como não houve senso em 1930, pode se estimar a população de Manaus em cerca de 90.000 habitantes. A maioria dos judeus amazonenses veio de Itacoatiara (Perez, Ezagui, Azulay), Parintins (Cohen, Assayag), Maués (Levy, Abecassis), Borba (Laredo), Humaitá (Julio Levy), Porto Velho (Querub), Guajará Mirim (Benesby), Fortaleza do Rio Abunã (Isaac Israel Benchimol e seus 8 filhos), Tefé (Siqueira, Cagy), Coari (Pinto), Tarauacá (Henry Cerf Levy e seus 12 filhos católicos), Iquitos (Tapiero, Toledano), apenas para mencionar alguns nomes, correndo sempre o risco grave de omissão que será reparada quando mencionar os nomes dos judeus das cidades interioranas, em outro capítulo.

Deve-se também mencionar que muitos judeus paraenses de Alenquer, Óbidos, Santarém e, sobretudo, de Belém começaram a migrar para Manaus, em busca de novas oportunidades de trabalho e emprego. Entre os judeus paraenses que vieram reforçar a comunidade de Manaus, devemos mencionar nessa terceira geração os Sabbá, Benarrós, Bemergui, Benmuyal, Aguiar, Azulay,Benzecry e outros que se estabeleceram e muitos tiveram extraordinário sucesso e liderança na economia e sociedade amazônica. O maior deles foi Isaac Benayon Sabbá, que foi o pioneiro da industrialização da Amazônia, com a construção da Refinaria de Petróleo de Manaus, inaugurada em janeiro de 1957 e que durante sua vida construiu um império de 41 empresas e estabelecimentos industriais.

A comunidade judaica de Manaus, nesse período de 1930 a 1950, cresceu para 250 famílias, com a vinda de migrantes do êxodo rural proveniente do interior do Estado e da capital Paraense, Por ser menor do que a comunidade paraense de Belém e pelo fato dos judeus viverem na sua quase totalidade, no interior do Estado, somente em meados da década dos anos 20 tiveram oportunidade de organizar as instituições da comunidade judaica (sinagoga, cemitério, hebrá, escola, clube social e os cinco pilares da vida comunitária).

Essas organizações foram sendo criadas pelos novos migrantes do interior que se estabeleceram em Manaus. Depois de reconstruir as suas vidas, alguns judeus se tornaram líderes como: Isaac José Perez, o grande prefeito judeu que revolucionou, urbanizou Itacoatiara (1926 a 1930) e fundou os cemitérios judeus de Manaus.

Era casado com Rachel Hilel Benchimol, cujos pais vieram de Gilbratar para Cametá em 1850 e depois se transferiu para Itacoatiara, onde realizou como prefeito a urbanização da cidade como veremos em capítulo especial, no segundo volume desta pesquisa. Isaac José Perez veio para Manaus em 1928, ainda como Prefeito de Itacoatiara conseguiu, com o seu prestígio, junto ao Governador Efigênio de Sales, a troca de um terreno aos fundos do Cemitério São João Batista, que havia sido comprado para ser o cemitério judeu por um terreno melhor situado ao lado do Cemitério São João Batista, na esquina do Boulevard Amazonas, hoje Avenida Álvaro Maia.

Comprado o cemitério judaico e feito seu gradeamento, Isaac José Perez teve o grande infortúnio e desdita de ver morrer de febre amarela o seu querido e amado filho Leon Perez, jovem engenheiro politécnico, que estava em visita aos seus pais. Por ironia do destino, o fundador do Cemitério Judeu de Manaus o inaugurou, enterrando seu próprio filho, em 12 de setembro de 1928. Foi o primeiro kadish (oração pelos mortos) dito por um judeu para seu filho na Mearah (cemitério em haquitia) de Manaus, pois anteriormente os judeus eram enterrados no cemitério católico ao lado sem nenhuma cerimômia, pois praticamente não existia comunidade organizada e nem talvez minyan (quórum de 10 judeus) para poder dizer o kadish à beira da sepultura (qeburah).

O segundo passo para organizar uma sinagoga. Os exilados (os novos megorashim e toshavim-sefaraditas e forasteiros) do interior resolveram a Sinagoga Beth Yaacov, cuja a primeira sede foi na Rua Lobo D’Almada, perto do antigo escritório de A Crítica, e depois transferida para Rua Barroso, quase em frente da Biblioteca Pública, para em seguida ser novamente mudada para um sobrado na Avenida 13 de Maio (atual Getúlio Vargas), ao lado do cine Polytheama, onde coloquei os meus telefim (bar-mitzvh), cerimônia de maior idade e integração à comunidade, realizada aos 13 anos de idade no ano de 1936.

Sede da antiga Sinagoga Beth Yaacov. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

No ano seguinte, Isaac Israel Benchimol, um próspero e rico seringalista da Fortaleza do Rio Abunã, que faliu e empobreceu na grande crise da borracha, de 1930 e que se transferiu para Manaus com seus 8 filhos em 1933, recomeçou a sua vida como humilde e pobre guarda-livros.

É eleito Presidente do Comitê Israelita do Amazonas e um dos seus primeiros atos foi comprar a sede própria da Sinagoga Beth-Jacob, que passou a funcionar no novo prédio, adquirido na Rua Ramos Ferreira nº 596 (Praça da Saudade), desde o dia 4 de junho de 1937, quando o referido prédio foi comprado de D. Francisca Regallo Araújo.

O Comitê Israelita do Amazonas foi fundado em 15 de julho de 1929, sendo seu primeiro presidente o Sr. Raphael Benoliel, sócio presidente da firma B. Levy & Cia., a mais rica e próspera firma exportadora de aviamentos para o interior do Estado, que nessa altura já estava em situação difícil, vindo a liquidar-se em 1943. Os fundadores do Comitê que assinaram a ata de presença foram, além de Raphael Benoliel, os Srs. Raphael Benayon, Isaac José Perez, David Alberto Sicsú, Alberto Abraham, Jacob Benchimol, S. J. Aben-Althar, Pacífico Ezagui, Moyses Benchimol, Jacob Abecasis, Jacob Chocron, Isaac Sabbá, David Leão Israel, Samuel J. Benoliel, Simão Benchimol, Marcos Ezagui, Abraham Samuel Alves, Leão Abraham Azulay, Jacob I. Benzaquen, Salomão Alves, Augusto Ezagui, Marcos Esquenasi, Isaac Rozenstein, José David Israel, Laão Abraham Pinto, Nessim Pessah, Mogluff Cohen, Salomão Benemond, Solon Benemond, Moyses Julio Levy, Isaac S. Benoliel, David Israel, Julio Levy, Raphael José, David Fortunato Benarrosh, Samuel A. Ohana, David J. Israel, Joseph Tapiero, Hebron Levy, Lazaro Klein, José Samuel Levy, Lazaro Sasson Tayah, Elias Benchimol, Jacob Sabbá, Fortunato Berrarrosh, José David Sicsú (Fonte: Manuscrito descoberto pelo Dr. Isaac Dahan, atual Presidente do Comitê Israelita do Amazonas).

Todos esses fundadores eram na sua maioria, líderes empresariais de Manaus, com exceção do Dr. Raphael Benayon, que era advogado e Professor e Catedrático de Direito Internacional Privado da Faculdade de Direito do Amazonas e que havia traduzido do francês para o português o famoso livro de R. Von Ihering -O Espírito do Direito Romano, que durante várias gerações foi livro de teto de quase todas as Faculdades de direito do Brasil ( Menezes, Aderson, 1959:57).

Desde a sua fundação, o Comitê teve 11 Presidentes: Raphael Benoliel (1929/1931), Jacob Benoliel (1932/1937), Isaac Israel Benchimol (1937/1957), Israel Siqueira Benchimol (1958/1961), Isaac Israel Benchimol (1962/1974), Samuel Isaac Benchimol (1975/1985), José Laredo (1985/1988), Franklin Isaac Pazuello (1988/1991), Samuel Koifman (1991/1994), Celso Neves Assayag (1994/1997) e Isaac Dahan (1997/2000).

A segunda sinagoga de Manaus foi fundada pelo nosso correligionário Jacob Azulay com um grupo de judeus forasteiros (Toshavim) e sefaraditas (megorashin), descontentes com a comunidade da esnoga Beth-Yaacov, que era considerada a sinagoga dos sefaraditas megorashin y de los ricos. Este segundo templo com o nome Rebby Meyr funcionou no começo num prédio familiar cito a Praça 15 de Novembro, perto da antiga firma Higson & Cia., e da Rua Tamandaré. Posteriormente foi transferida para um prédio próprio na Av. 7 de Setembro 385 com fundos para a Rua Visconde de Mauá nº 301, conforme escritura de 20 de maio de 1945.

Eram seus dirigentes e depois de sucessivos presidentes os correligionários Salvador Bemergui, Salomão Benmuyal, Augusto Pacíficico Ezagui, David José Israel, Vidal David Israel, Samuel D. Israel, Elias D. Israel, Salomão José Laredo, Miguel Cohen e outros. Era conhecida como la esnoga de los pobres, tal como a esnoga Essel Abraham da Rua Campos Sales, de Belém do Pará.

Ambas as sinagogas foram fundidas com a construção do novo templo, em 18 de janeiro de 1962, com o novo nome de Esnoga Beth-Jacob/Rebi Meyr, que assinala o fim da rivalidade sefaraditas/megorashim e forasteiros/toshavim em Manaus, com a reconciliação das duas correntes do judaísmo marroquino do século XIX. Esta fusão foi realizada graças ao trabalho do Presidente Isaac Israel Benchimol Z’L’ (Zichronô Libracha – de abençoada memória) falecido em 24 de dezembro de 1974, e Vice-Presidente Samuel Isaac Benchimol, com a plena cooperação do Sr. Jacob Azulay, que passou a funcionar como nosso Shaliah (oficiante) comunitário, grande conhecedor da Torah (Baal Korê) até a sua morte, em 09 de fevereiro de 1976.

Funcionaram como Shaliah, Hazan, Baal Korê (oficiante, cantor, leitor das escrituras bíblicas), desde a fundação os nossos correligionários: Jacob Azulay, Isaias Abensur, Isaac Pazuelo, Miguel Cohen, todos Z’L’ de abençoada memória e, mais recentemente, os Srs. Leon Benjó, Dr. Isaac Dahan, Moyses Elmescany (atual rabino da comunidade de Belém) Prof. Dr. Inácio Obadia, também Shaliah da Esnoga Essel Abraham de Belém, David Salgado Filho, Dr. Abraham Elmescany e novamente, a partir de 1998, o Prof. Inácio Obadia.

Sinagoga Beth Yaacov. Foto: Anne Benchimol/Acervo Sinagoga

A vida social comunitária de Manaus foi iniciada em 1940 com a fundação do Clube Azul e Branco, pelo nosso correligionário David Israel jornalista fundador do jornal Folha Israelita, que circulou em Manaus no período de 1948 a 1958), sendo a sua primeira presidente a jovem Gimol Levy, esposa do sr. Israel Siqueira Benchimol. Posteriormente, esse clube foi transformado em 1945, no Grêmio Cultural e Recreativo Sion, que funcionava na casa de D. Sultana Esquenazi e depois passou a funcionar na Rua Henrique Martins (conhecida como a Rua dos Judeus, pois lá viviam, naquela época, cerca de 40 famílias e casa comerciais de judeus).

Finalmente, em 1976, na gestão do Presidente do Comitê Israelita do Amazonas, sr. Samuel Isaac Benchimol, foi fundado o atual Clube A Hebraica, com a compra do prédio situado na Av. Joaquim Nabuco, 1842, com fundos para a Rua Dr. Machado, adquirido em 30 de janeiro de 1976, da Grande Loja do Amazonas, com a ajuda financeira de toda a comunidade e com o produto da venda da antiga sinagoga da Praça da Saudade ao Banco Nacional de Habitação.

O seu primeiro presidente foi o correligionário Ilko Minev, seguido de Samuel Benzecry, e depois um colegiado dirigido por Nora Benchimol Minev, Sonia Assayag Cohen, Denise Benchimol Rezende, Fátima Assayag, Sarah Foiquinos, Bonina Bemergui. Em 1995 foi eleito Presidente Dany Schwarcz e, em 1997, a nossa correligionária Nora Benchimol Minev, tendo como Vice-Presidente o Sr. Samuel Appenzeller.

Fonte: BENCHIMOL, Samuel. Eretz Amazônia: os judeus na Amazônia. Manaus: Valer, 1998, p. 104-122.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade