Ferreira de Castro escreveu o seu romance a Selva de abril a novembro de 1929, aproximadamente quinze anos de sua saída do Seringal Paraíso
Ferreira de Castro escreveu o seu romance a Selva de abril a novembro de 1929, aproximadamente quinze anos de sua saída do Seringal Paraíso, na cidade de Humaitá no Amazonas, em outubro de 1914. Naturalmente ele convivia com o medo e as fortes lembranças de reviver sua passagem pela selva amazônica, motivo pelo qual demorou um certo tempo para escrever e publicar seu livro o que ocorreu somente em 1930.
Foi na hospedaria “Flor da Amazônia” , na cidade de Belém do Pará. A sua história tem início com a vinda de homens e mulheres nordestinos, cheios de sonho e de esperança e naturalmente a busca pela riqueza, todos eles embarcados no navio “Justo Chermont”, para levá-los a um dos seringais da Amazônia no Rio Madeira.
A narrativa de seu romance situada no início do século XX, conta a aventura de um adolescente português que fora obrigado a imigrar para o Brasil. Sua passagem vivida no Seringal Paraíso é praticamente vivenciada pelo final do ciclo do látex. Sua obra trata dos problemas sociais vividos.
(…) José Maria Ferreira de Castro nasceu em Salgueiros, Vila Oliveira de Azeméis em Portugal, em 24 de maio de 1898. Foram seus pais, José Eustáquio Ferreira de Castro e da senhora Maria Rosa Soares de Castro. O autor da obra a Selva viveu parte de sua infância em sua cidade de origem tendo chegado em Belém do Pará em 1911 e, partindo em seguida para o seringal, essa fase vivida no seringal de semiescravidão o que lhe permitiu toda inspiração para escrever seu principal livro “A Selva.
De 1914, quando retornou para Belém do Pará permaneceu até 1919, quando retorna a Portugal. Em Belém do Pará trabalho como jornalista, onde escreveu seu primeiro livro com o título “Criminoso por Ambição”. Ainda na sua vida profissional, foi presidente do sindicato dos profissionais da imprensa em 1927, ano em que passou a viver com Diana de Lis e no ano seguinte fundou o Magazine.
Sua vida foi contada através de dois filmes A Selva, dirigido por Márcio Souza e o segundo filme dirigido por Leonel Vieira, cujas filmagens ocorreram de maio a julho de 2001, com a participação de artistas portugueses e brasileiros, dentre eles Diogo Morgado, Maitê Proença, Cláudio Marzo, Paulo Gracindo Júnior, Roberto Bonfim, Chico Dias, que contracenaram com artistas espanhóis e amazonenses, além de mais figurantes.
O escritor acadêmico Robério Braga, quando na época era Secretário de Cultura promoveu a construção do Seringal Vila Paraíso, no Igarapé do Taramã-Mirim, no Rio Negro, em Manaus, cuja implantação do referido museu tornou modelo cultural que até os dias atuais permite a presença de visitantes permitindo uma viagem ao passado histórico vivenciado por desbravadores e heróis anônimos. Este espaço monumental usado a época para a produção do filme permanece aberto aos visitantes.
(…) “Percurso inicia com a chegada ao trapiche, onde aportavam as embarcações para desembarque das mercadorias e embarque das cargas de borracha, levadas para as casas aviadoras de Manaus. Ao lado do ancoradouro, encontra-se o barracão de armazenamento das pelas.
Em seguida passa-se pelo casarão, residência do proprietário do Seringal, erguida sobre palafitas, com extensas varandas de onde se descortina a paisagem da floresta e do rio. Decorado com móveis e objetos de época, o casarão dispõe de uma sala ampla, com ambiente de jantar, sala de estar e canto de leitura e música. A cozinha, com fogão a lenha: dá acesso aos dois quartos que, no filme, foram dos personagens dona Yayá e Alberto. Da varanda do casarão, avista-se do lado esquerdo, o barracão dos seringueiros onde geralmente ficavam os nordestinos contratados para trabalhar no seringal, enquanto aguardavam a determinação de onde iriam se instalar.
Ao sair do casarão, o visitante é conduzido ao barracão de aviamento, onde se desenrolavam os verdadeiros dramas e a face cruel das relações de trabalho entre o seringalista e os seringueiros. O barracão possui todos artigos manufaturados e industrializados vendidos aos seringueiros, numa relação comercial em que estes sempre ficavam devendo, pois a borracha extraída nunca era suficiente para quitar seus débitos com o patrão. Ao lado do barracão encontra-se a Capela, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, com as paredes cobertas de ex-votos e bilhetes de agradecimentos pelas graças alcançadas.
Na descida em direção ao rio, passa-se pela Casa de Banho das Mulheres, denominada no filme de “Banho da Yayá”. Logo em seguida, surge a trilha que conduz a “Estrada com as seringueiras a ao Tapiri de Defumação da Borracha, onde os seringueiros preparavam as pelas, posteriormente conduzidas à sede do seringal. A visita prossegue à Casa do Seringueiro, tosca construção de paus, coberta de palha.
O roteiro é concluído com a volta à sede do seringal, com passagem pelo rústico Cemitério cenográfico, pela Casa de Farinha e pela Estrebaria.
Homem do interior, conhecendo as barrancas dos rios e as estradas dos seringais, um dos herdeiros do seringal Sabóia, nos altos rios Eirunepé, sei o que representa para o Amazonense a redescoberta da forma de vida dos que sangraram nas matas para vestir o Amazonas, de seda e ouro. E tudo se dá no Governo em que decidi e promovi uma verdadeira revolução cultural, que servisse ao turismo, valorizando o homem, retomasse temperos de nossa gente perdidos ao longo dos anos.
O Museu do Seringal Vila Paraíso é um exemplo desta política cultural vitoriosa, que tem no turismo o vetor principal, colocando ao conhecimento de quantos queiram saber da vida verdadeira do homem do seringal e dos navios que se singravam os rios nos belos anos de 1900.
É um projeto audacioso que vai se complementar nos próximos três anos, como Ecomuseu, com variadas e expressivas locações, mas plantado no chão e sobre as águas do Taramã.”
Amazonino Armando Mendes – Governador do Estado à época.
(…) “O Museu do Seringal Vila Paraíso vai se consolidar como polo de turismo, atraindo o interesse de quantos buscam conhecer de perto, o modo de ser e viver dos que construíram a riqueza. É também consequência direta da criação do polo de cinema no Amazonas, porque o Governo ao viabilizar as filmagens de “A Selva”, contratou a edificação do seringal e recuperação do navio “Justo Chermont”, valendo-se da experiência dos produtores internacionais.
A selva do Tarumã que conheceu a primeira Cruz de Cristo da velha Manáos, abre as águas para acolher o Museu do Seringal Vila Paraíso transportado de Humaitá. E vai ver o velho navio levar grupos de estudantes, professores, cientistas, turistas e o povo amazonense, para visitar o casario do seringal, a capelinha, o barracão, tudo como foi encontrado por Ferreira de Castro em 1911.
E tudo será como antes, no sonho de ver o látex derramar mil reis nas vilas do interior e na sede da capital.”
Robério dos Santos Pereira Braga – Secretário da Cultura Turismo e Desporto à época.
Fonte: Folheto Museu do Seringal Vila Paraíso