No dia 31 de outubro do ano de 1904 a Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas comemorava os seus trinta e um anos de lutas, sofrimentos, alegrias e vitórias. Três decênios decorridos na jornada de manter viva a vela votiva do hospital, caminhando hora por uma estrada pedregosa e espinhenta, hora florida e tranquila, mas, sempre estimulada a avançar no projeto do hospital.
O diretor Comendador Costa Porto enalteceu naquela oportunidade a fundação do hospital, com destaque para matéria publicada a época pelo Jornal do Comércio. Naquela oportunidade foi celebrada às 9horas da manhã uma Missa Solene pelo Monsenhor Luiz Gonzaga. Durante a missa em ação de graças, as alunas do Instituto Benjamim Constant, cantaram hinos sacros, sendo acompanhadas por um grupo de irmãs de Sant’Anna. Nesta ocasião o excelentíssimo Coronel Adolpho Lisboa Comandante das Forças Estaduais, acompanhado do Alferis Francisco Passos seu ajudante de ordem que cedeu gentilmente duas bandas de música do Primeiro e Segundo Batalhão do Regimento do Estado, que na parte da tarde tocaram alternadamente alguns trechos do seu repertorio, no jardim do hospital, tendo uma delas tocado na solenidade da manhã.
Foram muitas as autoridades presentes, tais como: Doutor Jônathas de Freitas Pedrosa, Coronel Domingos de Andrade, Doutor Adelino Costa, Major J. Rocha dos Santos, Bento Tenreiro Aranha, Doutor Alcides Bahia e Nilo Batista. Ainda compareceram os diretores da Associação Comercial do Amazonas J. Nunes de Lima, Bertino de Miranda Lima, Alberto Leal, Bernardo A. da Silva Ramos, este provedor da Santa Casa de Misericórdia, Coronel Domingos de Andrade, etc. Nesta mesma ocasião o então Governador do Estado do Amazonas Coronel Antônio Constantino Nery, oferece ao Comendador José Cláudio de Mesquita Presidente do Hospital à época, a escada de granito da frente do hospital.
Justo elogio ao Doutor Jônathas de Freitas Pedrosa
O doutor Jônathas de Freitas Pedrosa, a época considerado uma sumidade médica do seu tempo comestágios na Europa e tradição politica, cultural e científica com especial dedicação ao hospital como Diretor Clínico.
Sobre a vida desse grande vulto do passado, foi publicado no boletim do Grande Oriente do Estado do Amazonas, de agosto de 1922, página 58. Segundo o professor Agnello Bittencourt:
Faleceu a 7 de julho de 1922, em Manaus, o doutor Jônathas de Freitas Pedrosa. Nascido na Bahia, a 8 de abril de 1848, veio para Manaus, em 1876, já formado em Medicina, como Segundo Tenente Cirurgião do Corpo do Exército. Demitiu-se desse posto em agosto de 1878, sendo então, nomeado médico da Guarda Policial, Inspetor de Saúde Pública e Comissário Vacinador. Em 1879, em vista das provas exibidas em Concurso foi nomeado Professor de Francês do Antigo Liceu Amazonense, em cujo cargo se aposentou a 9 de maio de 1901.
Ainda em outubro de 1879, ocupou o cargo de Primeiro Suplente de Juiz Municipal do Termo da Capital. A 19 de junho de 1872, passou a desempenhar as funções de diretor da Escola Normal, da qual era professor de francês. Foi nesse mesmo ano em novembro, contratado para coadjuvar ao Serviço Médico de Militar da Guarnição. Por ato de 14 de abril de 1883, serviu no cargo de Diretor Geral da Instrução Pública durante o impedimento do servidor efetivo.
Em março de 1884, seguiu para Europa em viagem de recreio, regressando em 1885, reassumiu o cargo de Diretor Geral da Escola Normal, sendo nomeado em 1 de abril para exercer interinamente o cargo de Diretor Geral da Instrução Pública. Em 8 de julho foi nomeado médico do Instituto Amazonense e, em 3 de agosto Inspetor de Saúde Pública, em 15 de setembro de 1887, assume a função de médico da Câmara Municipal da Capital.
Em janeiro de 1889, fundou em Manaus o Ateneu Amazonense, então, um dos maiores colégios do norte do Brasil. Neste mesmo ano a 20 de julho foi designado para o cargo de Inspetor de Higiene Pública. Em 1890, fundou o Partido Republicano e depois Nacional, sendo por ele apresentado candidato ao cargo de Senador Federal, na eleição de 15 de setembro daquele ano.
Foi chefe do Corpo Clinico da Santa Casa de Misericórdia de Manaus, desde a sua fundação. Em 1880, foi chefe do Corpo Médico da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas, tendo sido considerado Sócio Honorário das duas instituições. Foi eleito Senador Federal em 1907, assumindo o cargo com a renúncia do Almirante Alexandrino de Alencar, que passou a ocupar a função na Marinha do Brasil.
Eleito Governador do Amazonas, assumiu administração em 1 de janeiro de 1913, tendo renunciado o cargo de senador. Ao deixar o governo do estado, em fevereiro de 1917, seguiu para Capital Federal, onde regressou à Manaus, em dezembro de 1919.
Era uma individualidade respeitável, tendo vivido sempre cercado de prestígio. Médico humanitário e cidadão prestante, possuía grande número de amigos e simpatias. Era o decano da classe médica do Amazonas, em cujo seio seu nome era sempre acatado. Com seu falecimento, desaparece uma das figuras mais antigas e representativas do nosso meio social.
Doutor Jônathas de Freitas Pedrosa foi casado duas vezes: primeiro com dona Ermelinda Pedrosa e a segunda vez com dona Carolina Pedrosa, deixando de seu primeiro patrimônio duas filhas, sendo uma casada com doutor J. Rodrigues Vieira e sua outra filha Anchises Câmara, cirurgião dentista, além dos seguintes filhos Jônathas Pedrosa Filho, Osman Pedrosa, Waldemar Pedrosa e Major Gileno Pedrosa e nenhum do segundo matrimônio.
Foi assim que, desde seu primeiro momento como político, teve oposição cerrada chefiada pelo Coronel Antônio Guerreiro Antony, que não lhe deu tréguas até o dia do mandato. Era um adversário indomável, tendo como sua voz e pensamento o Senador Rui Barbosa, que durante o ano de 1913, proferiu no Senado da República numerosos discursos contra seu governo. Como se não bastasse surge a Primeira Grande em 1914, pondo o estado em contingências de não poder exportar seus produtos, fontes quase exclusivas de suas finanças, ficaram os créditos do estado reduzidos a menos da metade da arrecadação ordinária.
Fonte: BITTENCOURT, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado. Rio de Janeiro: Editora Conquista,1973. Pág.: 291, 292 e 293.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
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