Comida Cabocla, uma questão de identidade na Amazônia

Desde uma perspectiva fotoetnográfica no olhar de Miguel Picanço 

Mesmo sem querer arvorar-me a crítico longe de mim tal pretensão, atrevo-me a dizer que a obra do professor doutor Miguel Picanço, mostra na sua obra autoridade e sensibilidade da sua expressão de reconstruir uma memória e costume muito usados na Amazônia, encarnando o autor um desses momentos de nos trazer essa importante contribuição.

Vale ressaltar que homens que lograram êxito em suas histórias, tiveram como seu principal atributo a coragem como pesquisador. Foram sobretudo, seres que acreditaram em seus sonhos e projetos movidos pelo entusiasmo e pelos ideais de mostrar a Amazônia para o mundo e legaram a sociedade uma história de feitos e conquistas.

Café da manhã regional. Foto retirada do livro: Comida cabocla, uma questão de identidade na Amazônia

A maior herança desses espíritos esclarecidos e altivos é o exemplo que deixam para a comunidade acadêmica, especialmente para os jovens, de que transformar sonhos em realidade não é impossível. A ação exemplar do professor doutor Miguel Picanço é ilustrativa da capacidade de superação e realização do ser humano.

Não é sem razão que podemos afirmar de que a Amazônia escasseiam por demais os subsídios. Os livros dos grandes pensadores que visitaram a Amazônia e descreveram as marcas infinitas de sua natureza em que se alinham impressões a terra, de seus aspectos, de sua pujança e grandeza de sua gente. Só agora em tempos modernos pesquisadores talentosos como o professor doutor Miguel Picanço vem trazendo a lume assuntos diferenciados da nossa Amazônia.

Vale a pena lembrar o trabalho publicado de grande importância do autor Alexandre Ferreira, Viagem Filosófica pela Capitania de São José do Rio Negro, um trabalho memorável escrito no século XVIII

“… O professor doutor Miguel Picanço destaca: Isso posto, cabe ressaltar que a cozinha é pensada aqui muito além de um lugar, onde os produtos e ingredientes são processados e convertidos em alimentos. Contrariamente a essa ideia, ela é notadamente percebida como um lugar no qual coexiste e coabita uma multiplicidade de práticas experiências que alcançam as paisagens os territórios, as representações, as crenças, os mitos, etc., que configuram, marcam e definem os modos de estar e viver em um país, em uma região, ou em uma comunidade. Pensar a cozinha nessa perspectiva, nos permite, entre outras coisas, compreender que cada lugar é portador de sua própria cozinha, a qual implica um conjunto muito complexo de classificações, taxiomanias, regras e maneiras que dizem respeito não somente aos tempos e aos modos de produzir, fazer e combinar, determinados alimentos, mas, também definem as escolhas e as proibições desde ou aquele produto, tornando-os não apenas comestíveis, mas, comíveis. Estabelecem ainda, os modos de estar na mesa e nos levam a definir com quem, quando e como comer. 

(FISCHLER, 1995).”

Café da manhã regional. Foto retirada do livro: Comida cabocla, uma questão de identidade na Amazônia

É nesse gesto simples, que talvez pareça sem grande sentido para alguns, a Amazônia retira da mãe natureza para alimentar seus habitantes e talvez também, nos ensinar a força da beleza da natureza amazônica. O festejado professor doutor Miguel Picanço traz a lume em preto e branco, cores com nuances dando ao retrato da vivência de uma família amazônica e, principalmente um outro patamar da valorização dessa história e costumes, que faz de sua arte e da natureza um existir de resgate de uma alimentação diferenciada. 

Café da manhã regional. Foto retirada do livro: Comida cabocla, uma questão de identidade na Amazônia

“… Minha adesão à fotografia como recurso metodológico foi decididamente influenciada pelas proposições dos professores Ashutti (2004) e Samain (2012,2005,1997), apenas para citar alguns, os quais me fizeram notar que a fotografia permite ao antropólogo conhecer certos detalhes, que são próprios do objeto estudado e, que, por vezes, fogem ao olhar primeiro do pesquisador.”

Com esses autores pude perceber a fotografia como uma excelente técnica de coleta de dados que tem marcado positivamente outra abordagem antropológica, digo, a antropologia visual, que conforme apontado por Achutti (2004), trata a realidade sob duas perspectivas: a escrita e a imagem e, “[…] cada uma delas tem contribuído por meio de suas especificidades, enquanto, forma de saber ver e saber dizer melhor para fazer pensar através da imagem”. (p.83), pois, de acordo com Samain (1993), apud Achutti (2004), não será possível falar por meio da escrita o que pretendemos mostrar por meio das imagens. Sobre a narrativa imagética, Achutti assertiva que … 

(p. 29,30).

Professor Doutor Miguel Picanço. Imagem reprodução internet

A trajetória do professor doutor Miguel Picanço é reveladora de seus múltiplos compromissos com a vida e a Amazônia, especialmente na construção de uma sociedade fundada no respeito aos valores humanos, com uma profunda consciência do valor da alimentação da nossa região. A existência desse mestre é uma prova do poder da transformação de uma comunidade, fazendo de sua vida, de vivências e desafios que em muito contribui para formação e conhecimento da nossa cadeia alimentar.

É nesse apostolado de eleitos, que o professor doutor Miguel Picanço com a grandiosidade de seu talento, o mister de plasma em sim mesmo e a ambiência leva ao mundo um pedaço da Amazônia. Toda essa vivência de sua terra e de sua gente, se traduz num labor humanamente inexplicável, com a finalidade de oferecer uma mesa farta com o que se produz na Amazônia.  

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