A fundação do Luso Foot-Ball Club

Foram 11 os portugueses que tão somente queriam jogar futebol, eram rapazes simples e sem grandes recursos financeiros, que labutavam no comércio de Manaus.

No dia 1° de maio de 1912, os portugueses, Francisco Gomes Rodrigues (Chaby), Antônio Lameirão, Francisco Ferreira de Carvalho (Carvalhinho), José Aguiar Sobral, Avelino Nunes Batista (Fantomas), Antônio Leitão Melita, Augusto Ornelas, Salvador de Castro Amorim, João Rodrigues (Acadêmico), Joaquim José Pereira e Joaquim A. Lima Crispim, na Rua Monsenhor Coutinho residência do sócio Francisco Gomes Rodrigues, que no ato de sua fundação fora batizado com o nome de Luso Foot-Ball.

Foram 11 os portugueses que tão somente queriam jogar futebol, eram rapazes simples e sem grandes recursos financeiros, que labutavam no comércio de Manaus.

Sua primeira apresentação oficial ocorreu no campo do Parque Municipal, realizando na oportunidade seu embate contra o Manáos Sporting Club, tendo sido um dos primeiros clubes a fazer parte da Liga Amazonense de Desportos Atléticos. Durante o período de 1912 a 1914, suas atividades limitaram-se a prática do futebol, principal razão de sua fundação.

Primeiro time do Luso, em 1912. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

É como se descerrasse a cortina que ocultava no anseio dos portugueses que o fundaram, na arte da perseverança e seus admiráveis sonhos. Seus fundadores foram artífices que se esmeraram acreditando na semente que acabavam de plantar. Naquele momento o clube já alcançava as culminâncias dos desportos no Amazonas, ao lado de outras competentes organizações existentes no gênero.

Os fundadores do Luso Foot-Ball Club, não criaram uma sociedade apenas para fins do Desporto Futebol. Apesar de serem homens simples, eles tinham ideias avançadas, trouxeram os métodos da Pátria-Mãe, colheram e puseram em prática os exemplos de respeito mutuo e amor à tradição que foi a verdadeira e indestrutível muralha construída no apoio à perpetuação da agremiação que acabara de nascer.

Nessas forças poderosas alicerçou-se a grandeza do clube ora fundado, tornando-se já naquela época o ponto de encontro dos finais de semana. Propagavam a cultura física, a educação moral e cívica, nascia uma sociedade que ostentava a lembrança das tradições que deixaram para trás na terra de origem.

Francisco Gomes Rodrigues (Chaby). Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

O líder do grupo e primeiro presidente, Augusto Ornelas, transfere a sede para sua residência na Rua Jorge de Moraes n. 14, hoje Rua Rui Barbosa. O clube foi consolidando sua participação no cenário esportivo do Amazonas. Havia necessidade de espaço físico maior. A partir daí os fundadores tomaram a iniciativa de alugar um espaço melhor para promover suas reuniões, nessa ocasião, transfere-se a sede para a Rua São Vicente n. 7 e depois novamente a sede muda para a mesma rua com o n. 16. 

A juventude e a inquietação ou talvez a falta de recursos fizesse com que novamente os portugueses que fundaram o clube partam em busca de melhores acomodações para sua sede social e novamente a diretoria transfere a sede do clube para a Rua da Instalação n. 17.

Casa onde foi fundado o Luso Foot-Ball Club. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Diretores faltosos pagavam multa 

Ninguém ignora que as inovações não encontravam acolhidas fácil no espírito da diretoria. Durante o ano de 1914, sem esmorecer um só momento, com entusiasmo de suas juventudes sadia e sonhadora, os fundadores trabalharam ardorosamente para construir com solidez a semente que fora plantada em 1912, granjearam adeptos, derrubando preconceitos sociais arraigados, transpondo todos os empecilhos que surgiram à frente e, com isso perpetuar aquela geração de imigrantes admiráveis, criaram uma associação que no decorrer dos anos, se tornaria orgulho de toda a colônia, permanecendo viva até os dias atuais.

Foram homens precursores de ideias e ação, planejando e executando com maestria suas intenções, mesmo que para isso revolucionassem velhos costumes da ausência de reunião em uma época em que pouco ou quase nada tinham que fazer, pois, a reunião era a razão de se organizar para decidir e executar as pelejas futebolísticas.

Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

[…] O Luso Foot-Ball Clube nasce sob a égide de obrigatoriedade de se fazer presente nas reuniões e no campo, pois estava impregnado pelo rejuvenescimento e sustentado pela supremacia da prática do futebol. A ausência da reunião era penalizada com a pesada multa de 2.000 entre (dois mil réis), tudo isso era símbolo de amor e disciplina, exemplo de tenacidade, organização e dedicação. Esse fato hoje é apenas memória de uma época, que repousa silenciosamente nos papéis envelhecidos de um livro de ata, cuja reunião ocorrera no dia 8 de março de 1916.

Fonte: Ata da reunião ordinária do dia 24 de novembro de 1916. BAZE, Abrahim. Luso Sporting Club — A Sociedade Portuguesa no Amazonas — Manaus: Editora Valer, 2007. Pág. 59.

Chaby. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Francisco Gomes Rodrigues (Chaby) nasceu na cidade de Arcos de Valdevez, Portugal, era filho de Agostinho Rodrigues e de Clara Rosa Gomes. Em Manaus passou a trabalhar como guarda-livros da Manaus Harbou. Companhia inglesa que comandava a administração dos portos. Veio em companhia de sua esposa Clementina Costa Rodrigues e de três filhos: João Gomes Rodrigues, Clara Costa Rodrigues e Fantina Costa Rodrigues, nome em junção a homenagem aos dois nomes Francisco e Clementina. Tinha especial predileção pelo esporte.

Faleceu muito cedo, mas a família que era de Abrantes, em Portugal, permaneceu em Manaus, cujos filhos também de dedicaram ao esporte. Seu filho João Gomes Rodrigues jogou futebol juntamente com Flaviano Limonge, Kandu, Tuta e outros tantos de sua época, foi goleiro do Olímpico, tendo a participação importante como diretor de esportes do Olímpico Clube em 1967, ano em que o clube foi campeão amazonense.

Fonte: Informações cedidas pelo seu neto, professor João Rodrigues. 

Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Nota de falecimento publicada em Manaus pelo O Libertador

[…] A colônia portuguesa aqui domiciliada registrou, anteontem, com imenso pesar a morte de Francisco Gomes Rodrigues, o Chaby, um de seus elementos mais simpáticos e de real valor com guarda-livros que era, ocupando lugar elevado nos escritórios da Manáos Harbou. Gomes Rodrigues era um espírito bom, amigo do progresso, integralizado em nossa sociedade pelos muitos anos que aqui residiu.

Amigo devotado physica, Chaby foi cyclista no antigo Velódromo Amazonense, e depois com a força de vontade que era dotado, em 1912, fundou o Luso Foot-Ball Club, hoje Luso Sporting Club onde era considerado o avô do clube. Há esse tempo, iniciava-se em Manáos o grande movimento em prol do Foot-Ball, e o Luso com seu infatigável presidente a frente deu o melhor de seu esforço para formação da Liga Amazonense de Foot-Ball.

Dessa entidade, Chaby foi um baluarte ao lado dos esportsmen Ramalho Júnior, Willian Gordon, Alcebiades Antongine, Fanton, Pacheco Borges, José Mello, Chaves Ribeiro, Edgar de Freitas, José Gesta e tantos outros. Em nossa sociedade foi um elemento acatado. Gomes Rodrigues era guarda-livros formado pela Escola Municipal de Comércio. Como dissemos, sua morte foi muita sentida, dahi ter sido seu enterro muito concorrido. Gomes Rodrigues era português, filho do senhor Augostinho Gomes Rodrigues, casado com dona Clementina Rodrigues deixando três filhos. O libertador apresenta a família enlutada e a honrada colônia lusa suas condolências.

Texto com escrita da época. 

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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