A região Norte do Brasil segue enfrentando uma das situações mais graves do país em relação ao saneamento básico. É o que mostra o levantamento mais recente do Instituto Trata Brasil, divulgado em 2025.
Segundo o estudo, cerca de 15 milhões de moradores da região ainda vivem sem acesso à coleta de esgoto. O número equivale a quase 90% da população do Norte. Quando se fala em água tratada, o cenário também é preocupante: 6,5 milhões de pessoas ainda não têm acesso regular ao serviço.
Outro dado alarmante é o desperdício de água. De acordo com o levantamento, 51,22% da água potável produzida na região Norte se perde antes de chegar às torneiras. O índice é o pior do país e está bem acima da média nacional, que atualmente é de 40%.
Impactos na saúde e meio ambiente
A falta de saneamento básico segue impactando diretamente a saúde da população e o meio ambiente em todo o país. Segundo levantamento do Instituto Trata Brasil, divulgado em 2025, o Brasil registrou, em 2024, 344,4 mil internações por doenças relacionadas ao saneamento inadequado.
Do total, 168,7 mil casos foram de doenças transmitidas por insetos vetores, como a dengue, e 163,8 mil casos envolveram doenças de transmissão fecal-oral, como gastroenterites. Os dados revelam a gravidade da situação e reforçam a ligação entre a ausência de saneamento e o aumento de problemas de saúde pública.
Além do impacto direto na saúde, a falta de coleta e tratamento de esgoto também provoca a contaminação de rios e igarapés, o que prejudica atividades econômicas importantes para diversas regiões do país, como a pesca e o turismo.
Desigualdade entre estados
Dos 20 piores municípios no ranking de saneamento básico de 2025, quatro são do Rio de Janeiro, quatro de Pernambuco e três do Pará. Entre os demais, quatro estão localizados na macrorregião Norte, três na macrorregião Nordeste, um no Centro-Oeste e outro na região Sudeste.

Além disso, oito dessas cidades são capitais estaduais: Recife (PE), Maceió (AL), Manaus (AM), São Luís (MA), Belém (PA), Rio Branco (AC), Macapá (AP) e Porto Velho (RO).
Investimentos abaixo do necessário
Os 20 melhores municípios no ranking de saneamento básico apresentaram, entre 2019 e 2023, um investimento anual médio de R$ 176,39 por habitante, cerca de 20% abaixo do valor médio necessário para a universalização, que é de R$ 223,82. Porém, muitos desses municípios já possuem indicadores avançados ou até universalizados, o que permite manter níveis satisfatórios de atendimento mesmo com investimentos abaixo da média nacional. Isso está alinhado às metas do Novo Marco Legal do Saneamento Básico e da Portaria 490/2021.
Já os 20 piores municípios investiram, no mesmo período, em média R$ 78,40 por habitante — cerca de 65% abaixo do patamar necessário para universalizar o saneamento. Esses municípios, com indicadores muito atrasados e distantes da universalização, enfrentam uma situação crítica, que exige decisão urgente por parte das administrações municipais.
Manaus lidera investimentos, mas ainda tem desafios
Apesar do cenário crítico, Manaus se destaca como a capital que mais investiu em saneamento na região Norte entre 2019 e 2023. Foram R$ 1,158 bilhão aplicados, o que representa 89% dos investimentos da região no período.
“O Ranking do Saneamento divulgado pelo Trata Brasil já mostra a evolução dos serviços em Manaus. A cidade vive uma transformação com o acesso à água já universalizado, e com o Trata Bem Manaus, teremos, também, esse processo com os serviços de coleta e tratamento de esgoto, serviços fundamentais para que a população tenha mais saúde e para que a cidade veja, novamente, os seus igarapés limpos”, destaca o diretor-presidente da Águas de Manaus, Pedro Augusto Freitas.

Em relação à cobertura de água e esgoto, Manaus está entre as dez capitais brasileiras que mais evoluíram no quesito entre 2019 e 2023. Hoje, o abastecimento de água está universalizado na cidade e a cobertura e o tratamento de esgoto seguem em expansão — desde 2018, a cobertura de esgotamento sanitário mais que dobrou na capital amazonense e, em 2025, passa dos 34% de alcance.
Saneamento e gestão de resíduos: temas interligados no debate da temporada do Amazônia Que Eu Quero
A relação entre saneamento básico e gestão de resíduos é fundamental para garantir a saúde pública e a preservação ambiental, especialmente na Amazônia. A falta de um sistema eficiente de coleta, tratamento de esgoto e manejo adequado dos resíduos sólidos agrava a contaminação dos rios, do solo e do ar, impactando diretamente a qualidade de vida das populações locais.

Pensando nisso, a nova temporada do programa Amazônia Que Eu Quero dedica espaço especial para discutir a gestão de resíduos, ampliando o debate sobre a importância do saneamento integrado. O programa reúne especialistas, gestores públicos e representantes da sociedade civil para apresentar soluções que promovam o desenvolvimento sustentável da região, alinhando políticas públicas de saneamento e manejo de resíduos.
Sobre o Amazônia Que Eu Quero
Concebido em 2019, o Programa ‘Amazônia Que Eu Quero’ é uma iniciativa da Fundação Rede Amazônica e do Grupo Rede Amazônica, com o objetivo de promover a educação política por meio da interação entre os principais agentes e setores da sociedade. O programa também realiza o levantamento de informações junto aos gestores públicos e incentiva a participação ativa da população, por meio de câmaras temáticas estabelecidas para esse fim.