Em meio a essa enxurrada de casos de desvios de dinheiros, envolvendo, principalmente, políticos de diversas origens partidárias e doutrinárias, observo as mais variadas opiniões, na TV, nas conversas, nas cartas de leitores e mesmo em artigos e editoriais. Uns, céticos, dizem que o Brasil não tem jeito. Os revoltados asseguram que não votam mais em ninguém.
Não tenho o exagerado otimismo do Dr. Pangloss, nem navego o meu barco num mar-de-rosas. Entretanto, recolho alguns aspectos positivos nas dores que estamos todos sofrendo, nesse parto monstruoso. Acho que os partidos estão dando à sociedade brasileira, neste momento de triste história, o que espero venha a ser a última comprovação da falência do conto dos diferentes, alimentado por aqueles que se arvoram em salvadores da pátria e guardiões exclusivos da moralidade e da ética.
Pelo menos nos últimos 50 anos, para não ir mais longe na História, o Brasil passou da esperança para a decepção, quando algumas corporações, cada uma ao seu modo, impuseram, ou venderam, o sonho da salvação nacional, da pureza moral e da retidão ética. Os militares, em 64, comandaram o País, orquestrando o bordão Brasil, ame-o ou deixe-o, sob o qual se escondia a falaciosa mensagem maniqueísta: fiquem os bons; os maus se retirem (ou desapareçam). O fim gradual dessa prolongada experiência foi melancólico.
Anos depois, o colorido Caçador de Marajás renovou esperanças de grandeza moral e de soluções épicas, reprisando o estilo Indiana Jones, mas sem final feliz. O Partido dos Trabalhadores, por sua vez, durante os últimos 25 anos, conquistou, paulatinamente, os brasileiros, combatendo o autoritarismo, denunciando a corrupção e anunciando um novo estilo de governar. Afirmavam os seus ativistas que o PT era diferente. No exercício do poder, lamentavelmente, não foi diferente.
Temos aí lições sofridas, mas preciosas, que nos ensinam a não mais marcharmos, patrioticamente, ao lado do autoritarismo discricionário; não ficarmos embevecidos e esperando milagres de pretensos salvadores da pátria e não aceitarmos, por hipótese alguma, que os fins justificam os meios. Se assim julgava o núcleo duro do PT, talvez, até, com o distante assentimento do Presidente, inebriado com o seu Sonho de Poder, na prática, deu no que estamos, melancólica e democraticamente, presenciando…
Uma velha advertência cabe ser sempre lembrada: a ocasião faz o ladrão! O que devemos fazer, doravante, depois dessa quase mortal infecção generalizada, é fecharmos as portas para as ocasiões tentadoras. E isso, conquanto não seja alcançado, do-dia-pra-noite, deve constituir o objetivo perene a ser perseguido, tendo como viga-mestra instituições harmônicas, sadias e independentes, assentadas em robustos pilares democráticos. Vamos tirar o Estado da execução e aprimorar as suas funções de planejamento integrado, supervisão e controle.
Vamos eleger a educação, em sentido amplo, a maior prioridade nacional. A liberdade de imprensa responsável é um exemplo dessas forças catalisadoras. É a sua prática que vem nos permitindo assistir, em tempo real, o desmonte de patifarias e falcatruas que, em outras épocas, de menor transparência, proliferavam, impunemente.