Caros leitores, estou atônito; leio nos jornais de Manaus e blogs, as manchetes: ‘Homem é perseguido por dupla misteriosa e é assassinado’; ‘Com tornozeleira eletrônica corpo de homem é achado em Manaus’; ‘Vocalista de conjunto é assassinado sem motivo aparente’; ‘Ladrão é amarrado e espancado por populares na Zona Leste’; ‘Assassinos invadem casa e executam rapaz com dois tiros na cabeça’, e aqui no Em Tempo, ‘Ajoelha e reza, disseram assassinos antes de matar detento no Novo Aleixo’, ‘Mais de sessenta presos foram assassinados na rebelião no inicio do ano’ e por aí vai.
Milhares de homicídios fúteis diariamente dão bem a ideia do quanto a vida deixou de ser um valor respeitado. Manaus tem no mínimo seis assassinatos por dia. De efeito, se não se preserva esse bem maior, o que dizer dos demais valores sociais e humanos como a honra, a honestidade, a solidariedade, etc? Dentro desse contexto, os principais jornais publicaram, dias atrás, uma foto estarrecedora: o corpo de um jovem mutilado depois de assassinado sendo levado em um carrinho de mão.
Chamo a atenção para o fato de que cena igual talvez só tenha precedente nos campos de concentração da época do nazismo. São cenas de desesperança, de tristeza mesmo, num País em que a juventude cada vez mais se envolve com as drogas. E, sem dúvida, as drogas refletem o desespero, a carência, o abandono. Aliás, esse mal do século não atinge somente as crianças pobres. Porque não atuam apenas onde há carência material, mas também dentro da fraqueza moral, onde existe abandono espiritual de indivíduos.
A partir daí, os tóxicos entram em ação e produzem a falsa ideia de superação dos problemas, em forma de prazer, mediante a liberação de certas substâncias no sistema nervoso central das pessoas, o que acaba produzindo dependência. No caso particular dos jovens da periferia e de outras áreas pobres ou miseráveis do País, a carência é total: sem escola, sem estabilidade familiar, sem perspectiva de emprego e renda, pais e filhos encontram “saída” nas drogas.
Essa situação representa mesmo um beco, uma viela. Triste tempo esse nosso: há dinheiro para o mal, mas falta para o bem. Ou seja, o crime organizado movimenta milhões de dólares e arregimenta os pobres jovens brasileiros. Eles terão “tudo”, desde que se envolvam com o tráfico. Por outro lado, o bom dinheiro sai pela porta da frente: o Brasil já paga mais de US$ 20 bilhões somente de juros de sua dívida externa, o que representa cerca de US$ 30 milhões por dia. Isso é o beco.
Então, só nos resta dizer: “Que importa a paisagem, a glória, o rio, a linha do horizonte? – O que eu vejo é o beco”. Qualquer que seja a sua posição no espectro ideológico, todos os indivíduos e categorias sociais defrontam-se, no Brasil, com a ameaça da violência. Hoje um projeto capaz de mobilizar a nação passa, inevitavelmente, pelo estabelecimento de uma política efetiva de segurança pública dentro da ordem democrática. Só assim poderemos implementar e consolidar nossa precária cidadania, condição básica para o futuro da nação brasileira.