As lamentáveis características negativas que apresenta constituem verdadeiro cemitério e assinalam a morte cultural de sucessivas gerações. São os índices de exclusão do ensino básico de crianças de sete a 14 anos, que deixam as salas de aula para engrossar uma das vergonhas nacionais, a população dos chamados “meninos de rua”, e pior ainda aqueles recrutados pelo narcotráfico.
Esse é o quadro gritantemente real que as pesquisas sociais e as estatísticas nos apresentam, refletindo as deformações educacionais do nosso cotidiano, mas sem identificar os fatores agravantes da crise. Fatores menos tangíveis, é verdade, mas ativos, que atingem em cheio, e de forma devastadora, principalmente aquela população iletrada.
Entram em nossas casas mesmo sem convite. São simpáticos, belos, galantes, admiráveis, talentosos, quase semideuses, conquistando o público mesmo quando desempenham papéis maldosos. Aparecem nas revistas especializadas, expondo não raros bens valiosos, além de familiares, namorados ou namoradas, e amigos. Frequentam as telinhas das TVs, incorporando personagens que nos encantam, que nos emocionam, mas que se esvaem, ao fim do programa, deixando no ar, para nossa ansiedade, apenas as cenas capitais de um próximo capítulo.
No entanto, esses veículos parecem esquecer o próprio potencial de eficácia para participar do esforço educacional, potencial que muitas vezes dirigem para o boicote arrasante ao penoso trabalho do educador. Também é cômodo, embora falacioso e até mesmo irresponsável, atribuir-se aos pais o poder de polícia na seleção de programas e horários aconselháveis a cada faixa etária. Como se a classe média, desdobrando-se, às vezes, em dois, três empregos, tivesse a disponibilidade de controlar, dia e noite, o que as crianças veem na TV…
Ao longo dos últimos anos tenho afirmado, em artigos, que alguns desses programas estão arranhando a simetria moral do País. Basta que se mostre o exemplo de jovens atores e atrizes, alguns recém-saídos da puberdade, que confundem eles próprios fantasia com realismo, protagonizando tragédias, dramas e até comédias passionais, que só a ausência de parâmetros éticos, confiáveis e coerentes pode explicar.
Não desconheço que todos os meios de comunicação dispõem de quadros competentes para fazer reportagens de alto nível. No caso das televisões, existem programas muito bem feitos, de interesse didático e científico, nas áreas do meio ambiente, da saúde, da informação agrícola, da tecnologia, entre outras. Cite-se o telejornalismo como um dos pontos exponenciais do que há de mais destacável nos nossos horários televisivos. E não tenho dúvida de que os líderes das grandes redes, os escritores e produtores das emissoras de rádio e TV têm talento e capacidade suficientes para redirecionar suas programações, para se tornarem poderosos instrumentos de revigoramento moral da infância e adolescência.