Muitas vezes, ao correr da vida e do teclado, os assuntos ficam atropelados, empenados, quando a vontade de escrever é grande e o tempo é curto. Para tanto, os articulistas do século XIX criaram a forma dos fatos diversos ou, como poderiam dizer, em expressão de hoje, eventos vários, sem fazer colunismo, e alinhá-los em ABC, como assuntos de interesse geral, assim suponho.
Hoje resolvi escrever sobre o amor. Alguém já disse que Amor é uma palavra de quatro letras, duas vogais, duas consoantes e dois idiotas. Para início de conversa, convém dizer que não existe uma teoria sobre o amor. Defini-lo, nem pensar, fazê-lo caber dentro de um conceito, não tem como.
Os poetas usam a linguagem figurada, plena de metáforas para representar o amor. Tentam encontrar o seu significado através de comparações e imagens. A Teologia diz que junto com o livre arbítrio e a inteligência, a capacidade para amar é inerente à criatura, é herança do Criador. Uma herança em potencial, que, ao longo da vida, é nossa tarefa de criaturas administrar, desenvolver.
O assunto é vasto e complexo, mas vamos abordar nesta reflexão a capacidade para amar, que é o tema central. A capacidade para amar é como se fosse uma semente plantada. Regar, cuidar, colher e replantar “mudinhas” é tarefa e responsabilidade de cada um de nós. É da maneira como se desempenha esta tarefa que se origina a diversidade das “maneiras de ser”, a singularidade e estilo das pessoas, de modo que não existe uma igual à outra dentro deste processo contínuo de ser pessoa.
Como são muitas as possibilidades, não existem “receitas”. Existe sim – o que é próprio do amor – a construção gradual do estilo e da personalidade de cada um. O amor então, repito, não se conhece por uma definição ou conceito, mas por seus efeitos.
Se nos relacionamentos nos sentimos estimulados a desenvolver potencialidades e recursos internos, podemos dizer que aí existe amor. Mas este estímulo nem sempre é uma aprovação, ou reprovação indiscriminada do comportamento de alguém. Precisamos fugir da noção simplista e “açucarada” do amor, ou seja, da ideia equivocada de que quem ama sempre aprova as atitudes do ser amado.
Quem ama aceita o outro enquanto pessoa única em sua subjetividade e jeito de ser. Para responder ao título do artigo digo, não, o amor não é cego. Ao contrário, abre os olhos. Nós é que às vezes não queremos enxergar a realidade, e assim reconhecer a necessidade de fazer mudanças, reorganizar a “bagunça” física e emocional da nossa vida. Parece que fica mais fácil acomodar-se a um esquema onde se reclama muito, e pouco se questiona.
Sou um apaixonado pela vida, por suas vicissitudes, por seus descaminhos, por seus desencontros, pelo lado árido, pelo lado doce e por sua imprevisibilidade. Parece estranho alguém que escreve sobre educação, política e governo, fazer devaneios sobre o amor, principalmente na Semana Santa, mas como no inicio do artigo citei, há fatos vários e dentre estes o amor, hoje tão solicitado pela necessidade da paz, mas cego perante a vaidade, ganância e falta de espiritualidade entre os homens. Este artigo vai dedicado a muitas das que me pediam um artigo sobre o amor, cita-las seria desencadear ciúmes, já escrevi sobre paixão, e hoje dedico a quem sabe que me pediu um artigo sobre a cegueira do amor. Feliz Páscoa a todos.