Como fazer uma transição de carreira

A transição de carreira é um assunto profissional muito discutido pelos profissionais de RH. Por alguns motivos: a complexidade de dar esse passo, as formas como o(a) profissional terá como estratégias para que alcance o objetivo que pretende, se o mercado vai ver com bons olhos e quais tipos de interpretações haverão em processos seletivos.

Diferente do que eventualmente lemos e ouvimos, transição de carreira é diferente de recolocação profissional. Cada um tem uma característica diferente de ações, planejamento e direções para serem seguidas. A transição, como o nome já fiz, se trata da mudança de uma área para a outra. Exemplo: João era supervisor de estoque e agora quer mudar para a área de Mecânica de Manutenção de Máquinas. A recolocação, por sua vez, se trata de um processo “mais simples”: é o reposicionamento de um(a) profissional na mesma área. Exemplo: João era supervisor de estoque e busca uma recolocação de acordo com o seu perfil. Ou seja, também como supervisor de estoque ou na mesma área de atuação.

Foto: Pixabay

Para executar uma transição de carreira de forma eficiente, precisamos analisar alguns pontos e avaliar a sua viabilidade:

– Normalmente não é rápido: qualquer mudança radical tem efeitos colaterais. Um(a) profissional que atuou muito tempo em uma área, por exemplo, não terá facilidade de migrar para outro setor diferente de todas as suas experiências. Para se construir uma marca de referência no mercado se leva, pelo menos, de 2 a 10 anos, dependendo da forma como isso será construído. Os envios de currículo podem não surtir mais efeito como uma busca “convencional” de recolocação. Em envios de currículos a desconhecidos, o normal é que as interpretações sejam, em sua maioria, com alguns questionamentos ou dúvidas como: “Mas ele(a) não tem nenhuma experiência nessa área que pretende como objetivo. A atuação dele(a) sempre foi em outro setor”, ou “Será que fracassou no atual setor que está?”, ou “O que faria um(a) profissional trocar anos de experiência por um recomeço?”. Por isso, um processo de transição de carreira requer contatos mais próximos, com amigos, conhecidos, parceiros, pessoas que lhe conhecem como profissional e pessoa, e afins.

– Estar disposto(a) a perder “mordomias”: o recomeço sempre é lento. Salário menor, mais tempo de trabalho operacional, mais cobranças, mais erros e mais aprendizados. Por exemplo: se você é um(a) executivo(a) com nível de cargo de Supervisor de Produção e quer migrar para a área de Relacionamento Com o Cliente, precisa ter a consciência que dificilmente migrará para essa área já sendo Supervisor(a). Assim, provavelmente ocorrerão algumas perdas de benefícios que cargos executivos normalmente têm. O provável é que recomece como Assistente ou Auxiliar de Atendimento. Não pela falta capacidade, mas sim pela falta de segurança da inexperiência na nova área. É como entregar um avião para um mecânico que recomeçou a sua carreira como piloto. Para a prática, leva-se um tempo de adaptação e proficiência nas atividades.

– Analisar o que se pode aproveitar da área atual: em algumas transições de carreiras, a área pretendida pode estar próxima da área atual. Exemplo: Maria é Assistente de Custos e quer ir para a área Fiscal. Existe uma certa ligação, correto? Enquanto a área de Custos trata sobre o controle de gastos gerais da empresa, a fiscal trata sobre os impostos, obrigações acessórias, cálculos, análises de riscos e afins. O ideal é que a Maria liste os pontos que podem estar relacionados com a nova área. Com isso, saberá até mesmo como criar novas ideias, novas formas de trabalho e novos modus operandis. No final, surpreenderá quem possibilitou a mudança e a si mesmo.

– Apoio familiar: esse fator também é fundamental. Sem o apoio da Família, muitos desentendimentos podem ocorrer, seja com o(a) esposo(a), com o(a) filho(a), mãe, pai e afins. O entendimento que esse é um momento frágil é necessário, pois o salário pode diminuir significativamente, pelo menos no início. Por isso, uma conversa e a decisão em conjunto é o melhor caminho. Dessa forma, em qualquer momento de aperto financeiro, todos se sentirão responsáveis e agirão juntos para tentar resolver o problema.

– Tentar a transição de carreira com o “carro em movimento”: se um(a) profissional tem muita experiência em uma área específica, pode tentar se recolocar nela, afinal terá mais chances de ser convocado(a) para entrevistas e ser efetivado(a). Após isso, pode se articular internamente na empresa para que assim faça a migração de uma área para a outra. Estando dentro de uma empresa, a transição fica “mais fácil” do que estando fora.

– Conhecimento específico sobre algum determinado assunto: no Brasil, de uma forma geral, existem muitas áreas que alguns conhecimentos são escassos. Por exemplo: profissionais com um segundo idioma fluente/avançado. Em muitos processos seletivos, empresas aprovam e contratam profissionais com o segundo idioma, mesmo que não se tenha experiência efetiva na área. Dessa forma, o idioma se torna um fator fundamental e facilitador para a mudança de área. Normalmente, esse profissional é treinado(a) e desenvolvido(a) para a função nova. Outro exemplo: o ORACLE é um sistema de TI que pouquíssimos profissionais dominam ou conhecem. Apesar de essa capacitação ser um pouco cara para ser realizada, também pode ser um conhecimento que levará ao profissional a contratação, mesmo sem experiência. Outro exemplo: um(a) profissional que quer migrar para a área bancária precisa ter o credenciamento CPA. Hoje em dia, qualquer profissional que quer ir para essa área, precisa tê-lo. Dessa forma, também se cria uma probabilidade maior de ser contratado(a) sem experiência efetivamente obtida.

– Escolha de um tutor para a nova área: em dias de tecnologia, muitas redes sociais nos possibilitam a interação com profissionais experiências das mais diversas áreas. Dessa forma, é interessante que escolhamos um(a) profissional referência na área que queremos migrar e solicite a ele(a) que seja o(a) tutor(a). Exemplo: Mário quer migrar para a área de comunicação. Em determinada rede social, ele encontra uma jornalista muito conceituada e lhe envia uma mensagem pedindo que ela seja a sua tutora. Dessa forma, ele se aproximará dela, sem que peça algo diretamente. É claro que muitos podem não aceitar a proposta e isso acontecer, partimos para outra pessoa. Com essa tutoria, estaremos próximo da área que pretendemos, e assim, nos tornaremos lembrados em eventuais processos seletivos da nova área que escolhemos.

E então? Vamos praticar a transição de carreira ou você mudou de ideia?

Flávio Guimarães é diretor da Guimarães Consultoria, Administrador de Empresas, Especializado em Negócios, Comportamento e Recursos Humanos, Articulista dos Jornais Bom Dia Amazônia e Jornal do Amazonas 1ª Edição, CBN Amazônia, Portal Amazônia e Consultor em Avaliação e Reelaboração Curricular.

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