Crítica Kubo e a Espada Mágica

Foto: Laika Entertainment

A primeira, e até então única coisa, que tinha visto sobre o filme Kubo e a Espada Mágica fora um pequeno teaser publicado em um site de entretenimento. O vídeo mostrava um pequeno garoto que com seu instrumento musical dava vida a pedaços de papel. Foi algo bem curto mas que me chamou a atenção. Animações em stop-motion levam um tempo de pré e pós-produção bem mais elevado do que as animações que utilizam apenas computação gráfica. Levou um bom tempo até encontrar notícias sobre a obra novamente, neste último fim de semana, minutos antes da escolha do filme que iria assistir, em detrimento da perda do horário combinado.

Um simples vislumbro da imagem me fez refrescar a memória e optar por assistir o filme, assim, de forma despretenciosa sem saber quase nada da história e sem grandes expectativas. Esta condição me proporcionou uma agradável experiência.

Travis Knight fez sua estreia na direção com Kubo e a Espada Mágica, mas já tem uma certa bagagem na área: atuou como produtor e animador principal, fazendo parte da equipe de trabalho em stop-motion e CG em filmes como Coraline, ParaNorman e os Boxtrolls, todos do Estúdio Laika onde é membro do conselho de administração. O Laika é referência em animações do tipo, já descrevi aqui mesmo no site que Coraline é um marco do gênero. A experiência de Knight nestes trabalhos mostrou que os anos como animador valeram a pena, nos presenteando com uma singular e encantadora animação.

A trama é focada no cotidiano de um jovem com poderes mágicos, contador de histórias, Kubo, que junto a sua alienada mãe vive tranquilamente em uma pequena vila no Japão antigo. A vida do garoto muda repentinamente, quando um espírito vingativo começa a agir motivado por um segredo de família. Kubo descobre ser filho de um lendário guerreio e as razões para que sua mãe viva de modo tão recluso e atormentada vem à tona.

O Rei Lua, seu avô, proibiu o relacionamento entre seus pais e enviou suas duas outras filhas para acabar com o romance. Ainda quando era uma bebê, foi salvo por sua mãe de seu avô, que acabou tirando um dos olhos do menino no processo e tem como objetivo tirar o outro. Com isso, o garoto e a mãe devem viver longe da luz do luar, mas por descuidado, Kubo acaba sendo descoberto. A partir daí começa a jornada do herói que parte em busca encontrar uma armadura lendária que o possibilitará enfrentar seu avô, nada mais que a armadura de seu pai.

O enredo não deve atrair crianças muito pequenas, apesar de todo o simbolismo representado e explicado nos atos dos personagens, como o símbolo do olho que revela o conhecimento e a sabedoria, que envolve perda e aceitação. Tudo isso seria muito para crianças muitos jovens, fato que explica a classificação como sendo de 10 anos.

O filme nos é apresentado de forma sútil, mas sem monotonia. Não foi difícil de me surpreender com o trabalho realizado em stop-motion. Sempre fui admirador dos efeitos práticos, aquela visão palpável das coisas, muitas vezes me sinto incomodado como uso de CGI, sei que se trata de uma fantasia, mas não consigo ver veracidade nos elementos. Neste quesito sou grande defensor dos efeitos práticos (se os Yorks de Star Wars fossem em CGI não seria a mesma coisa, já tivemos a prova disso com o mestre Yoda). Devemos considerar o grande esforço da equipe em produzir estes elementos. É claro que houve a combinação de outras técnicas de animação como desenho a mão e computação gráfica, mas não tira o mérito artístico dos artesãos, principalmente nos elementos gigantescos que foram utilizados. 

Fotos: Estúdio Laika

Cultura oriental

Outro fator favorável foi de não apenas usar a cultura oriental, em especial a japonesa, como um simples pano de fundo e argumentação rasa no roteiro. O filme soube aproveitar muito bem a cultura japonesa e mais importante, respeitá-la. A última animação estrangeira ambientada em aspectos do oriente (na China para ser preciso) que soube respeitar aspectos culturais da fonte, foi Mulan. Kung Fu Panda é muito americanizado.

Segundo o diretor, o filme tem base estética em pinturas japonesas, as referências à cultura da Terra do Sol Nascente não param por aí: fazem parte da trama. Os origamis ganham vida, divindades, elementos mágicos, moral e relação entre natureza e espiritualidade de tão presentes.

Quem é fã de anime deve se familiarizar bastante com alguns aspectos principalmente nas lutas. O roteiro tem alguns pontos que conseguimos prever, mas no âmbito geral, somos pegos de surpresa pelos pontos de virada da narrativa e a forma como trabalham elementos como amor e a família, nos contando uma bela história sobre a aceitação das diferenças, mais um ponto para a direção.

Os olhos aqui ganham um sentido muito maior que o literal, trata-se de enxergar e não do simples olhar, a possibilidade de se encontrar beleza nas coisas mais simples da vida.

Kubo se diferencia das produções do gênero, nos trazendo uma animação que prende o espectador mantendo sua atenção desde o início da projeção. Além disso, conta com um roteiro que foge do comum e não tem medo de abordar temas difíceis como a morte e a aceitação do diferente, além de um desfecho tocante. 

 

Foto: Divulgação

Ficha Técnica

Direção: Travis Knight
Roteiro: Marc Haimes, Shannon Tindle
Elenco de vozes: Rooney Mara, Charlize Theron, Matthew McConaughey, Ralph Fiennes, Minae Noji
Gênero: Animação, Fantasia
Produtora: Laika Entertainment
Distribuidora: Universal Pictures
Nota:
8.5 (Bom)  .

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