Tem alguém aqui na reunião?

Se você pertence ao mundo corporativo, certamente você já participou de alguma reunião ou palestra em que a maior parte da audiência, abertamente, faz uso do celular.

Esta era a frase mais utilizada pelo presidente de uma empresa – cliente. Era uma pessoa tranquila, que mantinha sempre uma maneira educada de lidar com os seus executivos, mesmo quando os resultados não eram os mais satisfatórios. Não era o tipo de chefe que se impunha apenas pelo cargo, exercendo o que podemos chamar de liderança autêntica. O clima das reuniões costumava ser descontraído, entremeado pela seriedade da pauta e de brincadeiras, entre uns e outros. No entanto, havia momentos em que o tempo fechava. Era quando ele percebia que alguém, apenas um era suficiente, disfarçadamente entrava em uma rede social, lia ou respondia a ume-mail, ao WhatsApp ou a uma mensagem de qualquer espécie, durante a reunião (ligação de celular, então, nem pensar). Bastava isto para ele perguntarem um tom completamente diferente: “tem alguém aqui na reunião?”. A partir dali o clima seguia tenso, como se o grupo tivesse feito algo grave, perdido a sua confiança. 

Foto: Reprodução/ Internet

É interessante notar que todos sabiam disso. Era algo notório, conhecido não apenas pelos seus auxiliares mais diretos, mas por toda a empresa. E ainda assim, parecia algo acima do controle. Volta e meia alguém não se continha e, parecendo um viciado diante de uma grande tentação, arriscava o “apenas um gole, não vai fazer mal”.

Acontecia em reuniões de pequenos grupos ou mesmo no auditório. Nas apresentações mais longas, muitos apresentavam sinais explícitos de crise de abstinência e o banheiro era o local de fuga mais usual. Podiam, assim, aliviar-se com os seus smartphones.

Se você pertence ao mundo corporativo, ou convive nas suas proximidades, certamente você já participou de alguma reunião ou palestra em que a maior parte da audiência, abertamente, fazia uso do celular. Ou talvez você mesmo já tenha sido um palestrante que, ao procurar o olhar confortante de alguém da plateia, interessado no assunto, não tenha encontrado um sequer. Ninguém olhando para você diretamente. Ninguém acenando afirmativamente com a cabeça, sinalizando aprovação. Uma só pessoa atenta aos gráficos e à apresentação, cuidadosamente preparados por você. Talvez nem mesmo uma pergunta buscando a interação do público tenha funcionado.Quem respondeu, o fez, enquanto digitava com dois dedos, sem precisar olhar para o texto, que também não precisava ser mesmo muito inteligível.

Uma das grandes ilusões de nossos tempos é a tal da multitarefa. A neurociência explica que nosso cérebro não é multitarefa. Ao tratar de dois ou mais assuntos, ele faz interrupções para um e para outro, alternadamente. Isto até mesmo para as mulheres que, como sabemos, possuem esta aparente capacidade maior do que a dos homens.

Há empresas que chegam a incluir, entre as competências a serem desenvolvidas na equipe, a multitarefa. Não precisamos de mais este estímulo. Sendo a multitarefa impossível, há, porém, pelo menos, três grandes efeitos que se tornam cumulativos: a perda de qualidade (como desenvolver excelência sem cuidar dos detalhes?), o estresse (estamos vivendo o agora ou o futuro?) e a dificuldade de estabelecermos diálogos enriquecedores (o que pessoa está mesmo dizendo?). O que dizer destes efeitos também nos relacionamentos conjugais e familiares?

Aprendemos no coaching a importância do estar presente 100% e a do ouvir verdadeiramente. São competências fundamentais para qualquer pessoacada vez mais difíceis de serem aplicadas. Além do sentido prático, elas nos ajudam a sermos mais felizes. É o que ocorre na concentração relaxada, existente nos estados de flow, como nos ensina Mihaly Csikszentmihalyi, um dos pais da Psicologia Positiva. Antes dele, Abraham Maslow (o mesmo da pirâmide das necessidades) falou sobre os “momentos culminantes”, de intenso bemestar subjetivo (felicidade). Eles podem ser obtidos em qualquer tipo de trabalho ou atividade, se estivermos mesmo lá. Quem tiver interesse no assunto, vale a leitura do livroFoco de Daniel Goleman.

Fico imaginando o meu cliente – lá do início do artigo – num mundo em que as reuniões estão acontecendo remotamente, alguns com a câmera desligada (será que ele permitiria?). “Tem alguém aqui na reunião?”,perguntaria ele. “Tem alguém aqui no artigo?”, pergunto eu. Se você ainda estiver por aqui, parabéns e muito obrigado. Que você esteja 100% durante esta semana, esteja onde estiver.

Julio Sampaio de Andrade Mentor e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute Diretor da Resultado Consultoria Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros Texto publicado no Port, Vestial Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/

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