Se alimentados, para onde nossos sentimentos nos levarão?

Diariamente tomamos conhecimento de tragédias familiares e perdas profissionais, que poderiam ser evitadas, se aprendêssemos a reconhecer nossas emoções e sentimentos, decidindo conscientemente se queremos alimentá-los, ou não.

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

Cândida declara estar algumas noites sem dormir. Inicia a conversa, dizendo-se perdida, sem saber como seria daqui para frente, pois tudo aquilo em que ela investira tanto, parecia estar se desmoronando. Para ela, a família sempre foi o mais importante, à frente de qualquer outra coisa. Quando descobriu que não podia engravidar, sofreu bastante, pois ser mãe era o seu grande sonho. Foi recompensada por uma verdadeira graça, como classificou na época, a adoção de João Pedro. O trâmite não foi muito legal, do ponto de vista jurídico, já que a criança foi entregue diretamente pela mãe, uma mulher humilde do interior, muito jovem, sem condições de criar o filho. Amigos do casal fizeram a intermediação e Cândida nem sequer chegou a conhecer a mãe da criança. Legalizou João Pedro como seu filho legítimo e do marido Carlos Alberto. Desde cedo, João Pedro soube que eles não eram os seus pais verdadeiros, mas isto não teve maior importância. Eles eram os seus pais.

Passaram-se décadas. João Pedro agora é adulto e tem a sua própria família. Cândida e Carlos Alberto estão separados e seguiram, cada um o seu caminho. Ambos se casaram novamente e ele teve uma filha no segundo matrimônio. Tudo ia bem até que um dia a mãe natural de João Pedro apareceu, o que, por si só, já causaria um impacto emocional nos envolvidos.

Ocorre que, além disso, com ela veio à tona, algo que caiu como uma bomba para todos. João Pedro não era mesmo filho da mulher que o criou, mas era filho legítimo do pai com a tal mulher, na época, uma menina bem mais jovem. João Pedro fez questão de comprovar isto por meio de exames e Carlos Alberto, que negara inicialmente, acabou por assumir que, sim, tinha tido um caso com a menina.

Mesmo estando separada de Carlos Alberto há tantos anos e praticamente não tendo mais contato com ele, Cândida viu-se tomada por fortes sentimentos que se misturavam dentro de si, como revolta, ódio e desejo de vingança. Como Carlos Alberto pudera ter mentido para ela, por tanto tempo, sobre algo tão importante? E agora? Como tudo ficaria? Teria ela perdido também o amor daquele que criara como filho, e que agora tinha mãe e pai verdadeiros? Era ela a intrusa na vida de João Pedro? Ele ia continuar a chamá-la de mãe?

Duas perguntas fizeram com que Cândida assentasse a sua mente e pudesse lidar melhor com a situação. A primeira pergunta foi: “Cândida, de tudo o que aconteceu, o que mais está incomodando você neste momento?” Ela refletiu um pouco e respondeu: “Está tudo misturado, mas acho que o que dói mais é o sentimento de ter sido traída”, disse ela baixinho. A segunda pergunta: “este sentimento, que é compreensível, é algo que você quer alimentar? Para onde ele levaria você?”.

A reflexão mostrou a Cândida que, entre erros e acertos do passado, a situação não mudara e que João Pedro nunca deixaria de ser seu filho, amado e criado por ela, e que isto não estava em questão. Depois de tanto tempo, cultivar o sentimento de vingança, de mágoa e de sentir-se traída, não mudaria a sua realidade, só causando sofrimentos. Conscientemente, Cândida decidiu que seguiria amando e sendo amada pelo filho, e que isto era o mais importante. Que todo o resto estava fora de seu controle e da zona de sua influência, como na metáfora do ovo na frigideira, comentada no artigo anterior.

O que possibilitou a mudança de Cândida foi olhar para si mesma e perceber qual sentimento a estava deixando tão desesperada. Era justificável, humanamente falando, mas para onde eles a levariam, se fossem cultivados?

Diariamente tomamos conhecimento de tragédias familiares e perdas profissionais, que poderiam ser evitadas, se aprendêssemos a reconhecer nossas emoções e sentimentos, decidindo conscientemente se queremos alimentá-los, ou não. Sentimentos e emoções quando cultivados poderão nos aproximar da felicidade ou nos afastar dela.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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