É Clara quem diz com toda a convicção: “o passado para mim morreu. Passado é passado. Para mim, o que importa é o futuro. Não quero saber do passado. Eu me sinto jovem e meu foco é o futuro”. Clara tem um pouco mais de 50 anos. É uma mulher com personalidade forte e bem comunicativa. No geral, tem bom astral, embora eu observe que o seu humor é um pouco oscilante. Ela odeia rotinas e está sempre procurando coisas novas, sendo difícil para ela ir até o fim em um projeto mais longo. Orgulha-se de parecer mais jovem do que a sua idade e investe tempo, energia e dinheiro nisso. Não gosta de cultivar lembranças. Decididamente, ela não tem uma boa relação com o passado.
Respeito a opinião e o jeito de ser de Clara, mas não concordo que o passado esteja morto. Nem quero que ele esteja. No passado, estão pessoas e acontecimentos importantes na minha vida.
Quando olho para a minha própria jornada, é evidente que o que vem pela frente é menor do que o caminho já percorrido, como também deve ser o caso de Clara. O que sou ou o que tenho hoje é mais ou é menos do que na juventude? Durante a caminhada, ficamos mais ricos ou mais pobres?
Concordo quando Viktor Frankl afirma que não há razão para se invejar os jovens. O que eles têm são possibilidades. Quem viveu mais tem realizações. O que vivenciamos, desfrutamos, conquistamos, está lá para ser acessado. Ninguém pode tirar isto de nós. Também as dificuldades e as perdas que ocorreram nos serviram e podemos tirar sempre o melhor proveito deles. Quanto aos erros, eles podem nos ajudar a ser melhor do que somos. Tudo vai para o nosso acervo e receberá o rótulo que dermos às coisas.
Focar no futuro é positivo. Significa olhar para frente, transformar sonhos em objetivos e metas e caminhar nesta direção. É algo que pode contribuir para a construção de felicidade. Tão ou mais importante é reaprendermos a viver o presente. Aqui, as tentações são grandes e vem de todos os lados: da tecnologia, de acontecimentos externos e de emoções internas de diversos tipos. Viver no presente é mais difícil do que parece.
Alguns afirmam que só temos o presente, o que não é verdade. O passado e o futuro são realidades, e não, abstrações. De onde viemos, onde estamos e para onde vamos? O que fomos, o que somos e o que queremos ser? São questões que costumam ser tratadas em um bom processo de coaching. Precisamos destas três dimensões: passado, presente e futuro para constituir um sentido de vida, o melhor remédio para o vazio existencial, para a propensão à tristeza crônica e para boa parte dos quadros depressivos.
No MCI, estimulamos as pessoas a buscarem a sua missão, a desenvolverem um propósito e a construírem um legado consciente, ajudando-as a viver com sentido, valorizando a sua própria história (passado), desfrutando o seu momento (presente) e cultivando sonhos e metas (futuro). Entendemos que esta é uma das principais práticas na construção consciente de felicidade.
Na linha do tempo, o passado crescerá sempre e o futuro será cada vez menor, ao menos, nesta existência. Não há como fugir desta realidade. O passado não existe para nos aprisionar, mas para nos empurrar para frente, enquanto protege tesouros que formos acumulando durante o caminho. Certamente, você, como eu e como a Clara, temos pessoas e momentos que desejamos que continuem a viver dentro de nós. Podemos estar tranquilos quanto a isso. Eles estão vivos e muito bem guardados.
Para terminar, uma pergunta para reflexão: como é a sua relação com o passado, com o presente e com o futuro?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
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