O risco da autocorrupção

Todos corremos algum risco de autocorrupção, que é quando nos afastamos de nossa essência. Você já pensou o que o colocaria neste tipo de risco?

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

Os pais não sabiam explicar de onde surgiu a ideia de Olavo. Lá pelos 5 ou 6 anos de idade, ele começou a dizer que queria ser padre. Com 7 ou 8 anos, nos almoços de domingo, abençoava toda a família. Todos riam, mas não entendiam bem. A família não era católica e nem os convidados, na sua maioria. De onde Olavo havia tirado estas ideias?

Na adolescência, Olavo ganhou um apelido. Era o profeta. Aquele que sempre tinha um bom conselho para os amigos. Parecia o mais maduro da turma e tinha um interesse genuíno em ajudar os colegas. Na escola, conseguiu desviar alguns do uso de drogas, fazendo uma verdadeira catequese quando descobria que alguém estava querendo experimentar ou tinha experimentado entorpecentes. Contava histórias, supostamente reais, de pessoas que caíram na desgraça, por irem por este caminho. Não se sabe como, na época, Olavo tinha acesso a estes casos. Não havia internet e nem tantas informações disponíveis. Com as meninas, Olavo era gentil e até romântico. Fazia poesias e música, quando se apaixonava.

Adulto, Olavo não se tornou padre, mas criou uma igreja. Era chamado de Mestre. O que mais surpreendeu era que Olavo costumava estudar religiões orientais, especialmente o budismo e o xintoísmo, além de adotar práticas místicas de diversos tipos. A igreja criada por Olavo, no entanto, era genuinamente ocidental e, pode-se dizer, no estilo mais ortodoxo e radical. Contra as expectativas do que seria um bom marketing, em uma sociedade mais contemporânea, a igreja de Olavo, de estilo mais antigo, começou a atrair adeptos aos poucos, por um boca-a-boca, entre os que se sentiam acolhidos. Olavo não parecia preocupado com quantidade. Seu objetivo era ajudar as pessoas que o procuravam. Ele mesmo levava uma vida simples e voltada para os fiéis.

Em algum momento, porém, algo aconteceu. Olavo e sua equipe de auxiliares mais próximos, todos agora graduados como sacerdotes, desviaram o foco das pessoas para a organização. A pauta agora era o número de seguidores, as doações recebidas e os diversos eventos que precisariam ser organizados, envolvendo grandes operações. Olavo parecia mais vaidoso, tinha poder e o seu padrão de vida elevou-se consideravelmente. Segundo ele, era necessário tornar a igreja grande, a fim de levar a mensagem para todos os quatro cantos do mundo. O empreendimento ia bem, mas o próprio Olavo não estava feliz.

O que aconteceu com Olavo é mais comum do que parece e pode ocorrer com qualquer um de nós. Na origem, somos idealistas e queremos fazer o bem. Quando isto ocorre, nossa alma e nossa mente sentem-se realizadas, pois esta é a missão comum de todos nós. Acredito que seja por isto que nos sentimos tão felizes quando fazemos alguém feliz. Como seres humanos, somos capazes de grandes sacrifícios para cuidar de uma única criança ou de contribuir com causas que beneficiem muita gente. Mas temos dentro de nós a dualidade. Mais uma vez me vem à mente as forças Yang e Yin. Elas se complementam, se juntam e produzem movimentos, em parte, contrários.

Somos vulneráveis pelo poder, pela vaidade e pelo dinheiro, para citar apenas alguns. É fácil os fins se confundirem com os meios e, se não estivermos atentos, seremos vítimas do pior tipo de corrupção: a autocorrupção. Se pensarmos bem, todas as corrupções começam por aí.

O autoconhecimento, as reflexões contínuas e o criar uma segunda pessoa, que nos observe e nos critique, podem ser bons antídotos para nos manter vigilantes e atuantes na construção da felicidade, para os outros e para nós mesmos.

Todos corremos algum risco de autocorrupção, que é quando nos afastamos de nossa essência. Talvez ninguém o perceba, nem nós mesmos. Você já pensou o que o colocaria neste tipo de risco? Fica o alerta para o Olavo e para cada um de nós. E fica também a esperança de que sempre haverá tempo para retornarmos ao nosso verdadeiro caminho.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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