O resultado indireto da felicidade para as empresas

Mas empresas podem proporcionar felicidade às pessoas? Não, porque as empresas não têm este poder. Mas a resposta também é sim, porque as empresas podem atuar em pelo menos três frentes, visando favorecer a construção de felicidade de seus colaboradores e líderes.

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

Minha mensagem não é para as empresas que querem fazer bonito no marketing institucional falando em felicidade ou das que, simplesmente, buscam cumprir exigências legais ou de mercado para uma agenda ASG (sigla de Ambiente, Social e Governança). Minha mensagem é para empresas que buscam ser melhores empresas, como uma pessoa que busca ser uma melhor pessoa. Uns e outros podem buscar maximizar lucros ou serem melhor remunerados, como um efeito desta melhoria, e não como um fim em si mesmo.

Para empresas que tem esta aspiração, é preciso que a felicidade seja um alvo a ser atingido. Tenho defendido que na sigla ASG falta a letra F, a dimensão da felicidade, que sendo o objetivo maior do ser humano, como já destacavam os antigos filósofos gregos, mereceria uma dimensão própria. A sigla ASG-F traduziria uma aspiração legítima para empresas que querem ir além, que buscam promover felicidade para todos com quem se relacionam, incluindo clientes, colaboradores, lideranças e outros.

Não estou falando apenas em bem-estar. O verbo para a felicidade não é estar, mas ser. Alguém pode ser feliz mesmo que enfrente dificuldades e obstáculos, o que também se aplica às empresas.

Mas empresas podem proporcionar felicidade às pessoas? Sim e não. Ou melhor, não e sim.

Não, porque as empresas não têm este poder. Ninguém tem. A felicidade depende muito mais de questões internas da própria pessoa, do que de fatores externos. Estudos da psicologia mostram a existência do que chamam de felicidade basal, o nível de felicidade que cada um possui em circunstâncias normais, que é alterado para mais ou para menos, de acordo com os acontecimentos extraordinários, mas que retorna ao seu estado anterior, tão logo passem os efeitos de coisas muito boas ou muito ruins. Este processo, na psicologia, é conhecido como adaptação hedônica.

Mas a resposta também é sim, porque as empresas podem atuar em pelo menos três frentes, visando favorecer a construção de felicidade de seus colaboradores e líderes. Neste caso, visa-se uma elevação do nível de felicidade basal.

A primeira frente é oferecer as melhores condições materiais que estiverem ao seu alcance e dentro de sua realidade. Inclui a remuneração, os benefícios, o ambiente físico e as políticas gerais de RH, num relacionamento entre adultos, regido por direitos e deveres, sem exploração e sem paternalismo. Aqui sim, cabe falar em bem-estar.

A segunda frente é cuidar para que os gestores exerçam positivamente a liderança. Um chefe ruim pode causar grandes danos. À empresa cabe a responsabilidade de definir que tipo de líder deseja ter em seus quadros, oferecer qualificação para isto e acompanhar o seu cumprimento. Se ela não define ou não acompanha, serve qualquer estilo, prevalecendo o jeitão de cada um. Também não adianta, a cada ano, oferecer treinamentos de liderança que não conversam entre si e que não contribuem para uma formação profissional consistente da pessoa do líder.

Estas duas frentes são importantes e de responsabilidade exclusiva da empresa. No entanto, são condições externas à pessoa. A parte mais importante virá de dentro de cada um. A empresa pode, porém, contribuir, em uma terceira frente, oferecendo programas opcionais que estimulem a criação de um modelo mental positivo e pragmático (aplicável à vida), que aproxime a pessoa da felicidade. Mas lembrando que, como diz o ditado: “você pode levar o cavalo a beber água, mas não pode obrigá-lo a beber água”. Há pessoas que resistirão a qualquer estímulo de melhoria e até aquelas que possuem um estranho prazer em ser infelizes e, assim, poderem reclamar da vida. Há suficientes trabalhos que comprovam que há ações conscientes que podem ser ensinadas e estimuladas.

Empresas que adotem estas três frentes irão além do ASG, sendo ainda pioneiras no ASG-F. São três frentes essenciais a cumprir e a parte mais importante, ainda caberá a cada um. Puxa, dá mesmo trabalho construir felicidade. Mas vale a pena. Felicidade é efeito indireto e traz outros resultados indiretos, incluindo maiores lucros.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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