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Quinta, 02 Mai 2024

O recado das deusas sobre felicidade

Ela não era um bom exemplo, mas era uma boa pessoa, como ela mesma se definia. Era também uma grande artista. Uma das maiores. Suas músicas marcaram gerações e estão entre os grandes hits. Bateu diferentes recordes, como o de compositora mais censurada da ditadura, não porque ameaçasse o governo de então, mas porque colocava em xeque os chamados bons costumes. Fez rock, quando somente os homens estavam autorizados a fazer, como disse certa vez, com os seus óvulos e útero. Fez tudo que quis. Era corajosa mesmo nas viagens de fuga da realidade. Pagou o preço por cada loucura. Esteve nos céus e nos infernos. Suas duas autobiografias são como ela mesma, fortes, criativas, irreverentes e únicas. Textos brilhantes. No meio de irônicas metáforas, com sutileza ou não, dinamite nos falsos moralismos. As mais belas palavras, seguidas das mais chulas. Não fosse assim, não seria a jovem velha Rita, deusa do rock. São dela as palavras abaixo.

"Ficar velho é um sentimento de missão cumprida e comprida. Sei que estou mais perto da morte que jamais estive, mas não sinto o meu coração apertar de medo. Sei que vou deixar meu corpo físico e partir para o desconhecido do qual não tenho medo... A morte deve ser o grande gozo final da vida; aonde quer que eu vá, lá estarei eu".
Imagem: Reprodução/LinkedIn

Tia Rita está lá, onde quer que seja. Está vivendo o seu presente, como sempre o fez. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", disse Caetano. Mas é preciso estar presente na sua própria vida, o que também deve valer para depois dela.

Convido para esta conversa a Wendy Mitchel, um outro tipo de deusa. Ela convive com demência desde 2014. Tinha uma vida comum até que a demência a alcançou aos 41 anos. Hoje, vive um propósito maior do que ela mesma. Mora sozinha, é palestrante internacional, luta pelos portadores do mesmo mal e escreveu dois livros depois de diagnosticada a doença: Alguém que eu costumava conhecer e O que eu gostaria que as pessoas soubessem sobre a demência. São livros humanos, que trazem a voz de pessoas humanas que, frequentemente, são tratadas com impaciência ou como se já não estivessem aqui. Sem julgamentos. Sabemos o quanto é difícil para quem está por perto também. Meu pai teve Alzheimer e sei o quanto foi duro para a minha mãe, sempre do seu lado, cumprindo o "até que a morte os separe".

Neste momento, o que quero é trazer de Wendy é uma de suas reflexões sobre felicidade. "A felicidade para mim e muitos dos meus amigos, envolve a atenção plena e a apreciação do momento presente, porque o passado frequentemente é um borrão e o futuro é incerto. Entretanto será que algo realmente mudou? Não deveríamos todos viver no presente"?

Presença é um dos quesitos para a felicidade. É difícil estar presente. Enquanto escrevo sou interrompido pelas mensagens que não param de chegar. Elas vêm como que a gritar que são urgentes. Não são. Elas podem esperar, mas eu preciso convencer a minha mente disso.

A felicidade só pode ser desfrutada no presente. É a própria Wendy quem complementa: "ao crescermos perdemos o hábito de focar uma coisa de cada vez e deixamos que o desejo por outras, estrague o que estamos vivendo no momento. Mais do que tudo, a demência me ensinou que precisamos retornar ao agora".

Wendy e Rita, duas jovens deusas, vivendo hoje em planos diferentes. Ambas nos lembram uma verdade que já sabemos. Não é hora de nos prender ao passado e o futuro será sempre futuro. Somos felizes, ou não, unicamente no presente. Estando presentes no presente. É simples, embora não seja fácil. Vale para os mortais como eu e você. Vale para as deusas, roqueiras ou não. 

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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