Boas escolas e boas empresas ensinaram, há mais de uma geração, que o importante é o resultado. É preciso focar nos resultados. São eles que devem guiar as nossas ações e, ao final, nos premiar. Os resultados nos tornarão vencedores, respeitados, admirados e merecedores de vários tipos de recompensas, inclusive financeiras. Nos negócios, nos esportes e na vida, celebramos os resultados, já que um forte valor do espírito de nossos tempos(o que os alemães chamam de zeitgeist) é subir ao pódio. Queremos subir no pódio e também sermos campeões. É lá que estão os nossos ídolos.
Mas será que este valor é tão absoluto assim? Deveria ser? Se de um lado formamos alguns vencedores, do outro lado, um número incontável de pessoas sofre por não estar neste seleto grupo. Essas pessoas sofrem por ser percebidas como perdedoras e o mais grave, sentem-se perdedoras exatamente por isso. Para elas, este é o termômetro, o que os outros estão julgando. No livro “O Jeito Harvard de ser Feliz“, Shawn Achor conta que acompanhou o martírio de estudantes de Harvard, todos vencedores por terem chegado lá. No entanto, como ele diz, apenas 5% dos alunos conseguiriam estar entre os 5% melhores da turma. Baixa autoestima, depressão e desistências acabavam sendo frequentes entre os outros 95%.
Outra questão é quanto ao aspecto ético. Embora seja difícil alguém assumir isto no discurso –quando o que importa é o resultado –, às vezes é preciso dar um jeitinho na ética, principalmente quando há a crença de que isto não será descoberto. Há anos participei de uma reunião de diretoria de uma empresa, onde um dos sócios apresentava aos outros três acionistas duas planilhas de projeção de resultados: uma pagando todos os impostos, em que o resultado era negativo. Outra, sonegando tudo que era possível, com uma excelente margem. Ele mesmo concluía cinicamente: “o crime compensa”.Nenhum dos outros sócios teve coragem de questionar a afirmação, que representava também uma decisão. Zeitgeist.
Não iria tão longe. Não, os resultados não são irrelevantes. Eles são importantes. Mas eles não são o fim em si mesmos. Eles serão sempre consequência, frutos de uma ação. Se conseguirmos ser plenos no que estivermos fazendo, sem apego aos resultados e sem a preocupação sobre oque os outros estão pensando, os resultados serão maiores. Livres, podemos oferecer o nosso melhor. O ser intuitivo, criativo e artístico que habita dentro de nós produzirá um trabalho de mais qualidade para os nossos clientes e empresas. Mais do que isso, seremos mais felizes na realização destas tarefas. E a felicidade, como também prova cientificamente Achor (o mesmo de Harvard citado acima), produz melhores e maiores resultados. Eu acrescentaria: de forma mais consistente.
Um líder autêntico saberá estimular a sua equipe a trabalhar nesta frequência. Isto não significa não ter metas, pois elas são o meio para realizarmos os nossos sonhos. Significa compreender que elas serão atingidas como consequência de nossas melhores ações. Parece paradoxal, mas não ter os resultados, mas a Ação como o foco, pode ser o melhor caminho para subirmos no nosso próprio pódio. Não o pódio dos outros, a qualquer preço, ou de forma sofrida, mas como algo natural, apenas como uma colheita de quem fez o seu melhor.Deste jeito, todos poderão estar em seus pódios e não apenas alguns. Na sua realidade, caro leitor, como seria focar na ação e deixar que os resultados ocorressem apenas como uma consequência?
Julio Sampaio de Andrade Mentor e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute Diretor da Resultado Consultoria Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros.