Na resiliência, persistimos, nos provocamos a buscar caminhos, encontrar soluções e não paralisar diante das dificuldades.
Dependendo de sua idade, caro leitor, você não viu o Dario jogar. Não era um jogador habilidoso. Ao contrário, era considerado um “perna-de-pau”, com seu jeito atrapalhado e desengonçado. Algumas vezes, parecia que estava brigando com a bola e perdia muitos dos chamados gols feitos. Começou a jogar pelo Campo Grande, um pequeno clube do Rio, e poucos poderiam apostar que iria se firmar como jogador. Quando o conheci, como torcedor, Dario era centroavante do Atlético Mineiro. Destacou-se como um dos maiores artilheiros do país e protagonizou um episódio que derrubou o vitorioso técnico João Saldanha. Ele simplesmente se negara a convocar Dario, contrariando a vontade do, então, Presidente Médici, general da ditatura militar. Irreverente, consta que João Saldanha teria respondido: “Presidente, o senhor escala o seu ministério e a seleção, escalo eu”. Zagalo, que o substituiu como técnico, convocou Dario para a copa de 70, mas não o utilizou um único minuto.
Dario teve uma infância difícil. Sua mãe suicidou-se, foi parar na FEBEM (Federação Estadual do Bem-Estar do Menor) com os dois irmãos, conviveu com jovens que cometiam crimes, e ele mesmo se envolveu em alguns, segundo consta. Viu um de seus amigos morrer aos 17 anos e decidiu mudar de vida. Foi parar no futebol como zagueiro e acabou como centroavante. Era atrapalhado, mas fazia gols. Gostava de lembrar que, no futebol ganha quem faz mais gols. Polêmico, irônico, de alto astral, autodeclarou-se o maior artilheiro do mundo nos anos de 1971 e 1972, superior, inclusive, a Pelé.
Dario era amado pela torcida quando fazia gols e odiado quando perdia. Estes últimos eram em número muito maior, numa proporção de três ou quatro vezes mais. Assim, Dario era xingado durante a maior parte do jogo para, depois ser consagrado pela mesma torcida, após o gol ou gols da vitória.
Em 1973, como uma das maiores contratações da história até então, Dario foi para o Flamengo, por uma verdadeira fortuna. O Rio de Janeiro parou. Dario desfilou de carro aberto pela cidade, sendo ovacionado por multidões por onde passava. O “perna-de-pau” virara um herói. No seu estilo, respondia às críticas com frases como: “o treinador dá a problemática que eu dou a solucionática” ou “comigo ou ‘sem-migo’, o Flamengo será campeão”.
Tenho um amigo que jogou com o Dadá Maravilha, e vem do seu relato o que para mim acabou sendo a grande lição, e que não aparecia na mídia. Conta este meu amigo, ele mesmo um craque da seleção de 70: “o que impressionava no Dario é que ele perdia um, dois, três gols, a torcida vaiava e ele ficava falando para si mesmo, sem parar: ‘vou marcar, vou marcar, vou marcar’, até que…”. Dario não prestava atenção nas vaias, mas dizia para o seu espírito, cérebro e corpo: “vou marcar”, e isto raramente deixava de acontecer. Eram raros os jogos que Dario não fazia os seus gols. Isto se chama resiliência.
Na resiliência, persistimos, nos provocamos a buscar caminhos, encontrar soluções e não paralisar diante das dificuldades. Em momentos atuais, com tantos dados estatísticos a nos assombrar, na saúde e na economia, vamos nos informar, sim, mas não deixemos que eles sejam motivos de desesperança. Vamos focar mais atenção no que temos a agradecer e na resiliência. Vamos fazer o que está ao nosso alcance, mesmo chutando para fora, recebendo vaias, levando caneladas de todos os lados. Vamos marcar. Vai passar. Vamos vencer. Como nos ensina o velho Dadá.
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros
Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/