O mesmo tempo que me manteve aprisionado foi o meu grande aliado. Mais do que isso, foi meu mestre. Quando percebi estava livre.
— Tem muito tempo que não conversamos, não é?
— Sim, e foi graças à sua persistência. Obrigado por não ter desistido de mim. Passei muitos anos ocupado e sem dar ouvidos ao que você tinha para dizer.
— Você estava sempre com uma agenda muito intensa. Muita gente querendo falar com você. Parecia uma pessoa importante.
— Isto foi antes. As pessoas não queriam falar comigo e, sim, com o que eu representava, com o poder que eu parecia ter. Quando deixei o cargo, tudo acabou.
— Acompanhei a situação de perto. Como você lidou com isso internamente?
— No início foi bem difícil. Era como se eu tivesse morrido e continuasse por aqui, sem que ninguém me visse. As coisas continuavam a acontecer sem mim e eu tentando me fazer presente. Cheguei a sonhar que tentava me comunicar e as pessoas não me ouviam. O sonho me marcou muito, pois quando estava acordado era a sensação que eu tinha também.
— Sei o que é se sentir assim. Não foi um momento fácil para você.
— Pois é. Eu não me preparei para a mudança. Não parava para pensar. Minha agenda era ocupada de manhã à noite e foi assim até o último dia. De repente, tudo mudou de forma abrupta. Foi um choque, um choque de realidade. Percebi que vivia uma grande ilusão, que vivia alienado.
— Você fala em choque. Foi imediata sua tomada de consciência?
— Demorou ainda um tempinho. Como disse, no primeiro momento, foi como eu se eu tivesse me debatendo. Ainda trazia velhos hábitos e queria fazer uso do meu nome e do poder que achava que tinha.
— E o que fez “cair a ficha”?
— O tempo. O mesmo tempo que me manteve aprisionado foi o meu grande aliado. Mais do que isso, foi meu mestre. Quando percebi estava livre.
— O Mestre Tempo. Mas que notícia boa. Deve ter sido uma ótima sensação.
— Sim, você nem pode imaginar. Pude jogar fora muita coisa que não me servia para nada, mas que trazia dentro de mim, como se fossem tesouros. Descobri que, sem estas coisas, a vida podia ser mais divertida e até mais produtiva. Foi quando lembrei de você, que sei, sempre esteve comigo.
— Parece que você está envolvido em novos projetos.
— Sim, mas nada grandioso, do tipo dos projetos mega que pensava antes. Me atraem as pequenas ações. Aquelas que vão fazer diferença para aquela criança, para aquele idoso, ou para uma determinada pessoa. Não preciso de grandes causas e nem preciso assinar nada. Quero ser exatamente aquela pessoa do sonho. A diferença é que não quero gritar e não preciso que ninguém me perceba. Quero sentir que estou fazendo diferença pelo ato em si e não pelas recompensas. É o que me realiza agora.
— Puxa, parece que agora vamos conversar mais vezes. Estive estes anos aguardando que você chegasse até aí. Já tive pressa, mas aprendi a respeitar o nosso Mestre.
— Mestre?
— Sim, meu filho. O Mestre Tempo. Ele é vida. É amor. E é também muito rigoroso, não é mesmo?
—Sim, pai. É muito bom voltar a conversar com você.
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
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