Mas como seres vivos conscientes, somos responsáveis por gerir a nossa própria vida, fazer escolhas, assumir as responsabilidades por elas e fazer o melhor ou o pior uso de nossas vidas, o nosso tempo.
O tempo é algo complexo. Às vezes pensamos que o controlamos, tentamos enquadrá-lo com nossos medidores, estabelecemos projetos com datas e prazos e falamos em administrar o tempo. No entanto, ele segue absoluto. Horas, dias e anos caminham em seu próprio ritmo, independentemente de nós, que corremos para acompanhá-lo, encenando para a plateia, fingindo que o estamos dirigindo. Não nos é permitida outra escolha que não seja sermos levados por ele. Muitos gostariam de não envelhecer, mas isto não está no cardápio. Estamos submetidos ao tempo e não o contrário. Podemos dizer ainda que o tempo é a própria vida, justificando que medimos a nossa vida pelo tempo.
Mas como seres vivos conscientes, somos responsáveis por gerir a nossa própria vida, fazer escolhas, assumir as responsabilidades por elas e fazer o melhor ou o pior uso de nossas vidas, o nosso tempo. Seria isto uma contradição, caro leitor? A complexidade costuma parecer mesmo contraditória, escondendo uma lógica superior que não enxergamos. Assim, não controlamos o tempo, mas somos responsáveis pelo uso do que foi nos dado, sob a forma de vida.
É relativamente recente a valorização do que se costuma chamar de administração do tempo, tema de livros, seminários, cursos e programa de treinamentos. Na medida em que possuímos mais liberdade no trabalho e na vida, mais o fator tempo ganha importância como fator crítico de sucesso e de felicidade. Um operário de trabalho manual repetitivo, típico da era industrial, tem claramente definido o que vai fazer naquelas 8 ou 9 horas de trabalho de seu dia. Tal não ocorre com um vendedor, um gerente ou um profissional da área do conhecimento. Com liberdade, suas escolhas definirão se ele será bem ou malsucedido, com muito rigor.
Também a tecnologia contribuiu para a crescente relevância do tema. Sua promessa inicial era de gerar tempo livre. No início dos anos 70, sociólogos discutiam o que se faria com o tempo de sobra, pois o ser humano trabalharia apenas 3 ou 4 horas por dia. Stanley Parker escreveu A Sociologia do Lazer e Domenico de Masi O Futuro do Trabalho. Estas e outras obras tratavam do tema e a promessa era: teremos sobra de tempo.
Sabemos que a promessa não foi cumprida e não preciso ilustrar, caro leitor, situações que eu e você vivemos e que demonstram que trabalhamos muito mais, estamos acessíveis e conectados durante todo o dia e o fator tempo tornou-se um elemento de luxo, de tão raro. Talvez a maior definição de riqueza hoje possa ser expressa na quantidade de tempo que dispomos para fazer o que queremos que inclui, inclusive, o trabalhar no que nos faz feliz. Há alguns dias, ouvi de um jovem de 21 anos que a quantia paga para ele trabalhar tantas horas por dia, ele pagaria para ser livre para fazer o que quisesse. Mais pessoas começam a pensar assim em todo o mundo e isto não está relacionado à idade ou à classe social. Todos querem ser felizes.
Quando pensamos no ser vivo empresa, tudo isso fica ainda mais complexo, uma vez que este ser é formado por um conjunto de células, sócios, líderes e colaboradores, cada um com uma maneira própria de lidar com o tempo. Muitos nunca pensaram sobre ele, nem perceberam o quanto a sua produtividade e felicidade dele dependem. No conjunto, todas estas células formam a maneira como este ser vivo empresa lida com o fator tempo e isto definirá o próprio destino da organização. Será também um elemento importante de sua personalidade que compõe o seu jeito de ser, sua felicidade, sua forma de ser percebida e sua capacidade de acumular ou desperdiçar riquezas. Caro leitor, o tempo e o espaço avançaram, vamos seguir com o assunto na próxima semana?
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros
Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/