O exótico valor de um abraço amigo

Caro leitor, quanto vale para você um forte abraço amigo?

“É provável que eu esteja em Curitiba na próxima sexta. Será que você teria um tempinho? A gente poderia almoçar ou tomar um café?”. Era uma mensagem de um amigo que mora em São Paulo e com quem não estava fisicamente há muito anos. Nos últimos meses nossos contatos vinham sendo frequentes, mas sempre virtualmente. Respondi: “sim, claro, será um prazer”, mas, na verdade, não sabia como fazer. Neste dia tinha uma reunião com um importante cliente, por toda a manhã, que deveria se complementar com um almoço. Já no início da tarde iniciavam outras reuniões e atendimentos que se estenderiam até às 21h, ou um pouco mais. Era um daqueles dias, previamente cheios. Como gerar uma brecha sem ficar em falta com ninguém? Ponderei e decidi que não participaria do almoço com o cliente (e amigos também) e teria um tempo para o meu amigo Cláudio.
Reprodução: Freepick

Estamos ambos vacinados, o que nos deixou mais à vontade. Relembramos histórias antigas e acontecimentos recentes. Cláudio passara momentos difíceis nos últimos anos e finalmente estava conseguindo retornar ao mercado de trabalho. Mesmo sendo em uma posição bem aquém da que já ocupara, estava muito feliz. Todas as dificuldades que enfrentara o transformaram em uma outra pessoa. Mais humana, mais sensível, mais espiritualizada. Ele mudara a tal ponto de ser agora cobrado pela família e pelas pessoas mais próximas de já não ser o mesmo. Sua ex-mulher, agora amiga, reclama brincando: “no meu tempo você não era assim, não era tão gentil, por que somente agora?”. Pensei como é estranho o fato de sermos cobrados para não mudar, para sermos coerentes com os nossos defeitos, não é mesmo?

Somente no fim do almoço, soube dos motivos de sua viagem, primeiramente para Itajaí e depois para Curitiba. Na cidade de Santa Catarina mora um amigo dele que, não apenas encaminhou o currículo de Cláudio para uma conceituada empresa, como defendeu que ele fosse ao menos entrevistado, mesmo o seu currículo parecer inadequado para a função, pelos excessivos atributos. O resto seria com Cláudio, que conseguiu contrapor os questionamentos dos entrevistadores e conquistar a vaga. Cláudio viajou de São Paulo para Itajaí para agradecer pessoalmente ao tal amigo. Também era este o motivo de sua ida a Curitiba, para agradecer pessoalmente o apoio que diz ter recebido de mim nos últimos tempos. Não foi um apoio material, mas entendi o que ele reconheceu ter recebido, não sendo necessária nenhuma explicação adicional.

Alguém próximo lhe questionou: “precisa de tanto sacrifício, ir tão longe, para dizer obrigado? Você não pode enviar um e-mail, dar um telefonema, ou coisa assim? Não seria a mesma coisa?”. Não para Cláudio. Não também para um outro amigo, Moreira. Ele tem o estranho hábito de sair de Brasília para São Paulo, Manaus, Rio, Vitória e até Paris apenas para dar um abraço pessoalmente a um amigo, no dia de seu aniversário. Recebi dele e da esposa, Lourdinha, esta homenagem uma vez. Vieram a Curitiba, almoçamos e eles voltaram para Brasília. Como explicar isto? Parece tão ilógico neste mundo tão prático, não é mesmo?”

Faltou dizer que não é a mesma coisa somente para eles. Também para quem recebe este abraço é muito diferente. Como diz uma destas pessoas homenageadas: “É receber o presente de um amigo estar presente, sendo este o melhor presente”. Neste momento somos obrigados a fugir de contatos físicos e muita coisa é feita virtualmente, o que é útil e necessário. Além disso, é difícil estar 100% presentes com alguém, sem os desvios do celular e dos pensamentos. Por tudo isto, vale lembrar o quanto é especial um abraço amigo verdadeiro, por mais estranho e exótico que possa parecer. Caro leitor, quanto vale para você um forte abraço amigo?

Julio Sampaio (PCC, ICF)

Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching

Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros

Texto publicado no Portal Amazôna e no https://mcinstitute.com.br/blog/

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