“Todo mundo desta empresa precisa seguir o deus do crédito e do débito”, bradou Eduardo em uma reunião do conselho. Ele, diretor financeiro experiente, baiano, bem-humorado, criador de metáforas inteligentes e divertido, mesmo quando não pretende ser. Era um momento de virada da empresa. Custos e despesas foram cortados drasticamente, aumentou-se a produtividade e, depois de alguns anos de sacrifícios para quem ficou, havia um espaço para respiro, e o otimismo parecia contagiante. No meio deste clima, Eduardo alertava: é preciso que cada um tenha foco nos resultados: “não adianta só aumentar a venda, é preciso olhar o resultado. Tem que seguir o deus do crédito e do débito”. Não faltou alguém para nomear Eduardo como o sacerdote desta nova religião.
O interessante é que, o que vale para as empresas, vale também para as finanças de qualquer um de nós. É meio óbvio dizer que tão importante quanto se olhar o quanto se ganha é não descuidar do quanto se gasta. Parece óbvio mesmo, mas quantos esquecem-se disso. Lembro de um importante executivo que, há alguns ganhava cerca de 50 mil reais mensais, o que equivalia a quase 30 mil dólares, um excelente salário em qualquer lugar do mundo. Ainda assim, este executivo vivia no cheque especial que cobrava, nesta época, juros de 10%, ao mês. A riqueza não vem do ganho, mas da relação ganho menos despesas, o tal do crédito e do débito do Eduardo.
Mas será que isto se aplica em outros setores? Na relação com as pessoas, por exemplo, será que não fazemos esta conta intuitivamente? Com alguns, somos rigorosos, exigentes, ou mesmo, intransigentes. Com outros, somos tolerantes e compreensivos, reconhecendo que todos têm defeitos e que tais pessoas já nos fizeram ou fazem coisas boas, mesmo que cometam algum deslize. Não qualquer deslize, mas um que caiba nos seus “créditos”.
Um líder espiritual observou que o marido de uma das suas seguidoras não se aproximava. Incentivava a esposa, deixava-a de carro nas proximidades do templo e partia, fugindo de qualquer contato. Um dia, o religioso chamou-o para uma conversa. Constrangido, o marido da seguidora compareceu à sua presença e surpreendeu-se com o questionamento: “Por que o senhor não participa das orações? Só porque tem uma amante?”. Atônito, o homem não sabia o que responder. Mas o sacerdote seguiu: “Não tem problema. Vou lhe dar umas tarefas no templo e o senhor oferece a Deus o dobro do tempo que ocupar com a sua amante. Se fizer isso, vai dar tudo certo”. O homem não questionou e foi cumprindo as tarefas, diminuindo gradualmente a atenção à amante. Insatisfeita com a situação, ela largou o homem. Parece que o casal, a partir daí, foi feliz como nunca. O deus do crédito e do débito atuou a favor.
E se estendermos este raciocínio para a vida em geral? O que entra na conta de nosso crédito e o que entra no débito? Como aumentamos os créditos? Como minimizar os débitos sem nos concentrar excessivamente nas nossas limitações e defeitos? Podemos pensar que ao final de cada dia e de cada ciclo, estamos deixando algum tipo de resultado. Entre acertos e erros, restará um legado. Não temos como ignorar esta contabilidade que, ao final, nos devolve a responsabilidade da gestão de nossas próprias vidas, assim como nos negócios. Um brinde ao sacerdote Eduardo e ao seu deus do crédito e do débito!
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros
Texto publicado no Portal Amazôna e no https://mcinstitute.com.br/blog/