Números. Feliz com eles e sem eles

Que tal pensarmos menos em números e nos permitir usufruir cada coisa pelo seu sabor em si?

“Sou o seu décimo terceiro leitor”, disse Lemmos, editor do Portal da Amazônia. Que bom, pensei. Mesmo que seja como dever de ofício, fiquei feliz com o aumento representativo da audiência. Em outros tempos, talvez, ficasse ainda mais, porém venho reduzindo a minha dependência dos números. Isto foi libertador. Desde pequeno, eles me aprisionavam. Primeiro, eram os números das notas, na escola. Em casa, era pressionado a ser o primeiro ou, ao menos, a estar sempre entre os primeiros. Meu prestígio na família dependia muito disso. Me deram esta reputação e eu tinha que cuidar dela.

Depois vieram os números das metas de vendas. De novo, tinha que estar entre os primeiros e, além da reputação, pesava o dinheiro e a promessa de carreira. Dependia daqueles números. Ainda muito jovem, trabalhei na indústria farmacêutica. Os laboratórios, além das vendas, exigiam um número mínimo de visitas diárias e uma boa pontuação nas provas de anatomia, fisiologia e produto. Naturalmente, se queria ser reconhecido, bem remunerado e promovido, tinha que estar nas primeiras posições no ranking. 

Depois vieram outros números, como a renda mensal, as despesas, as dívidas, os investimentos. Números, números, números. Eles não mentem. São objetivos, frios, precisos e representam os resultados concretos. Se a lógica é: “o que importa é o resultado”, nada melhor do que os números.

Com a internet, os números ganharam, porém, uma dimensão paranoica. Alguém que não seja, não saiba e não faça nada relevante pode conquistar milhares ou milhões de seguidores do dia para a noite. O contrário pode ocorrer com algum tipo de mensagem que faça diferença na vida das pessoas. Algoritmos e fórmulas são aplicados com o único intento de gerar grandiosos números de audiência, de negócios, de manipulação coletiva. A felicidade passa longe desta fórmula.

Os números, como lógica de resultados, ou como de manipulação, podem ser cruéis e nos distanciar do que realmente queremos, ser felizes. Abraham Maslow, conhecido pela pirâmide de necessidades humanas, diferenciava o que ele denominou como experiências-produto, que visavam um resultado, das atividades que se bastavam por si mesmas, pelo simples ato de fazê-las, sem nenhuma expectativa de benefício futuro. Csikszentmihalyi, um dos maiores estudiosos sobre a felicidade, denominou-as de experiências autotélicas (finalidade em si mesmas), diferenciando ainda o que seriam motivações intrínsecas (internas) de motivações extrínsecas (externas).

Que tal pensarmos menos em números e nos permitir usufruir cada coisa pelo seu sabor em si? Que tal priorizar as atividades por elas mesmas, ao invés de seu possível retorno? Desenvolver relações menos utilitárias e mais enriquecedoras? 

Neste sentido, vale muito a leitura do Lemos e sua, caro leitor. Que não gere nenhum número concreto para você, para ele, para quem anda chegue ou para mim. Mas que ainda assim, valha a pena.

Julio Sampaio

Mento-Coach e Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria

Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros

Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/

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