Não é hora de desistir

Como falar de felicidade em tempos sombrios?

Parece que há uma nuvem escura no ar. Os noticiários nos lembram a toda hora: recordes de casos, recordes de mortes, dia após dia. Os sistemas de saúde em colapso. Profissionais de saúde esgotados. Jornalistas, seguranças, caminhoneiros e outros tantos anônimos, da linha de frente, abalados emocionalmente. O Brasil torna-se referência no surgimento de novas variantes do vírus, mais propagáveis e mais letais. É apontado como um risco mundial e classificado como um pária internacional, por algumas instituições e países. Há desemprego e subemprego de uma massa de dezenas de milhões de pessoas, que moram mal, têm pouca educação e que voltam a experimentar a fome. A desigualdade se aprofunda ainda mais e os mais ricos ficam mais ricos e os mais pobres, ainda mais pobres, até onde isto é possível. A doença está mais perto e todos conhecem alguém bem próximo que se foi, ou que luta para sobreviver na briga por uma vaga de UTI, ou por um tubo de oxigênio. O que falar dos que deveriam ser os nossos líderes? Sobre eles, sem palavras.
Foto: Freepick

Diante deste quadro, que não traduz, nem de perto, o que é vivenciar tudo isto, como falar em felicidade? Para que serve, aliás, tudo que se tem estudado nos últimos anos a respeito da felicidade? Ser feliz é o que todos almejamos. Quando temos prazer, somos felizes. Quando estamos servindo a algo que acreditamos, mesmo com sacrifícios, somos felizes. Na dor e na falta de sentido, como ser feliz?

Lembro-me, então, de Viktor Frankl. Ele foi prisioneiro de Auschwitz e, pode-se dizer, viveu a morte. No clássico Em Busca de Sentido, Frankl relata que era possível perceber os que logo morreriam, pois eram os que perdiam o sentido para viver. Ao contrário, aqueles que tinham alguém esperando por eles e eram capazes, como o próprio autor, de criar uma visão futura, uma razão pela qual viver, conseguiram ultrapassar o que parecia impossível de ser suportado por um ser humano. Viktor não apenas sobreviveu ao Holocausto, como publicou 32 livros e criou a Logoterapia, a cura a partir do sentido. Faleceu em 1997, depois de ser ele mesmo uma prova de sua teoria.

Refletindo sobre a pergunta acima, para que servem os estudos sobre a felicidade, concluo que é justamente para momentos como os que vivemos agora. Quando está tudo bem, talvez, não façam tanta diferença. Mas há momentos que precisaremos ser lembrados, por exemplo, de que ter um sentido maior para nós mesmos nos dá forças para ir muito além. Que, se não conseguimos mudar certos fatos à nossa volta, podemos lidar de uma maneira melhor ou pior diante deles. Que encontrar, no meio de nossas vidas, o que agradecer nos dará força. Que ajudar e fazer diferença na vida de alguém, também. Que fazer o que estiver ao nosso alcance e, a partir daí, entregar a Deus, nos gerará uma confiança extra. Que não deixar de buscar novos caminhos, fará o nosso cérebro encontrar alternativas criativas. Que sempre poderemos desfrutar o belo, mesmo nas coisas mais simples, e que a arte pode alimentar o nosso espírito.

Lembrar de tudo que os estudos nos ensinam sobre nós mesmos nos devolve esperança e algo que nunca deixamos de ter: a possibilidade de, diante de qualquer situação, fazer dela uma semente para o nosso crescimento e um tijolo de nossa felicidade. De Frankl, uma mensagem para todos nós: não é hora de desistir de viver e ser feliz!

Julio Sampaio

Mento-Coach e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching

Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros

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