Mais diferenças, menos desigualdades

Os ismos estão cada vez mais fortes. Os grupos, minoritários ou não, se organizam entre iguais, em nome desta ou daquela causa, que pode até ser nobre, mas que separa, discrimina e tenta fazer o outro calar a boca.

Roberto é uma pessoa assertiva e direta. Mais do que isso, ele é convicto e possuiu fortes crenças sobre a maior parte das coisas. Frequentemente faz uso do preto ou do branco, não deixando muito espaço para o cinza. Mesmo quando muda de opinião, ele o faz sem dificuldades ou contradições. Mudou de ideia e pronto. Nem lembra mais que um dia pensava diferente. Roberto possui uma cultura diversificada, lê muito, viaja e é bem antenado. Pode desagradar alguns por considerá-lo como o “cara que sabe de tudo”. Outros, porém, são gratos a Roberto que, por ser prestativo, está sempre sendo útil a alguém, por meio de seus conhecimentos e convicções. No linguajar de Roberto, são muito utilizadas palavras como: certamente, absolutamente, naturalmente e indiscutivelmente. Pode se dizer que Roberto é firme e bom de respostas.

Mas como Roberto pode ter tantas certezas? É o que questionaria Lúcia. Sendo também uma pessoa muito bem instruída, do tipo que não para nunca de estudar e que emenda um curso no outro sobre diferentes tipos de conhecimento, Lúcia é reflexiva e está sempre avançando nas suas incertezas. De que maneira o que aprendeu aqui impacta com o que havia aprendido ali e como estas duas coisas se relacionam? Lúcia costuma aprofundar no porquê das coisas, nas possíveis causas e em outras possibilidades, na busca de caminhos e alternativas. Pode desconcertar alguém ao fazer questionamentos inesperados, destes que levam as pessoas a parar para pensar sobre um outro ponto de vista. Pode se dizer que Lúcia é boa em fazer perguntas.

Foto: Reprodução/LinedIn

Sendo complementares em seus estilos, Roberto e Lúcia poderiam fazer uma grande dupla. Poderiam, mas não é o que acontece. Colegas do mesmo departamento e com metas comuns, não conseguem fazer uso destas forças complementares. Ao invés disso, querem que o outro mude e pense da mesma forma.

Não é um privilégio de Roberto e de Lúcia. Em todos os espaços, encontramos pessoas que, mesmo com as melhores intenções, querem fazer prevalecer o seu funcionamento mental. Não apenas a sua verdade, mas também a sua maneira de processar uma informação, de lidar com as diferentes situações.

Estudos comportamentais demonstram que existem pessoas que são boas comunicadoras, se relacionam com facilidade e tendem a ser inovadoras. Outras, mais conservadoras, optam pela segurança e planejam as principais ações. Algumas precisam de mais informações, gostam de gráficos e são detalhistas. Há ainda as que são grandes realizadoras, competitivas e que fazem acontecer. Há as mais intuitivas, as mais práticas, as que se voltam mais para as pessoas ou para resultados. Há pessoas de todos os tipos e todos são complementares e igualmente importantes.

Precisamos valorizar as diferenças. Parece algo que não precisa ser dito, de tão evidente. No entanto, ainda não aprendemos esta lição tão simples. Os “ismos” estão mais fortes do que nunca. Os grupos, minoritários ou não, se organizam entre iguais, em nome desta ou daquela causa, que pode até ser nobre, mas que separa, discrimina e tenta fazer o outro calar a boca.

Não precisamos de rótulos que separam e nem que todos sejam iguais, funcionem da mesma maneira e pensem da mesma forma. Que para o próximo ano, possamos construir um mundo mais feliz, com mais valor para as diferenças e menos desigualdades.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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