“É uma pergunta simples, mas capaz de gerar importantes reflexões, assim como respostas muito diferentes.”
Encerrei o último artigo destacando que meus estudos demonstram que três fatores influenciam os nossos créditos ou débitos invisíveis quanto ao dinheiro. São eles: a maneira como ganhamos o dinheiro, a forma como o utilizamos e a nossa relação com ele. Gosto de pensar numa espécie de engrenagem, em que uma alimenta e faz girar a outra roda. Começaremos hoje a ver a primeira roda desta engrenagem que é como ganhamos o nosso dinheiro.
Para a maior parte de nós, a maneira de ganhar nosso dinheiro vem por meio do trabalho e aí estamos falando de um vasto e rico mundo. Por que trabalhamos? Fiz esta pergunta centenas de vezes a inúmeras pessoas. É uma pergunta simples, mas capaz de gerar importantes reflexões, assim como respostas muito diferentes.
Tenho um amigo, por exemplo, que durante toda a vida disse que só trabalhava por dinheiro. Que trabalhava para um dia poder não trabalhar. Seu maior objetivo era a aposentadoria. Poupava metade do seu salário e conseguiu se aposentar um pouco depois dos 50 anos. Empenhava-se muito e se destacava no que fazia, sendo muito bem remunerado.
Um outro amigo comum declarava o contrário: tinha prazer em trabalhar e se envolvia em vários projetos simultâneos. Que o faria mesmo se não precisasse de dinheiro. Ele trabalhava horas a mais do que o devido e sentia-se muito bem com isso. Conseguiu realizar coisas que o gratificaram bastante. Também era bem pago e reconhecido profissionalmente.
Ambos foram bem-sucedidos em seus objetivos, embora pensassem bem diferente. O que eles tinham em comum? Os dois vivenciaram plenamente o que desejavam, o que acreditavam. Dos dois foi exigido algum esforço. Tanto para o amigo que trabalhou muito (mesmo que tivesse prazer, não significa que era sempre) quanto para o que economizava 50% do que ganhava, abrindo mão de vários prazeres pessoais. Assim, diria que este é o primeiro aspecto: colocar em prática, de verdade, o que é importante para você. Não o que é importante para qualquer outro, mas para você. Isto por si só gera um tipo de merecimento positivo na colheita.
O fato de ambos terem seguido caminhos tão distintos e chegado onde queriam não significa que não exista um melhor, aquele que potencialmente nos fará mais feliz e a quem está ao nosso redor. Acredito firmemente que isto ocorre quando identificamos um sentido maior no que fazemos.
Foi o que ocorreu recentemente com um faxineiro de um hospital, aparentemente uma pessoa muito humilde, durante a pandemia do Covid-19. Ele foi abordado por um jornalista que perguntou se ele não tinha medo de ser contaminado pela doença. Ele disse que sim, da mesma maneira que os médicos e os enfermeiros, mas que, como eles, estava ali para salvar vidas. O repórter se emocionou e não conseguiu ir adiante na entrevista.
Ter um sentido maior no que fazemos nos dá força. Traz à tona o que temos de melhor. Nos faz ir além e evoluir. Nos faz viver. Recomendo para todos o clássico livro “Em Busca do Sentido” de Victor Franklin. O autor sobreviveu a Auschwitz porque desenvolveu um sentido maior.
E como podemos desenvolver um sentido em nossa vida e no nosso trabalho? É aí que entram dois fatores que muitas vezes são utilizados como sinônimos, mas que são essencialmente diferentes, embora complementares. Refiro-me à Missão e ao Propósito. Só que isto veremos no próximo artigo.
| Julio Sampaio é mentor e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute e diretor da Resultado Consultoria.