Felicidade, muito além de um domingo de sol

Há pessoas que possuem na sua balança muito propósito e pouco prazer e outras, ao contrário, muito prazer e pouco propósito. Você já pensou como anda a sua balança?

Adoro domingos de sol. Faço minha corrida, pego um bom livro, tomo minha cerveja e desfruto da companhia da minha mulher, da família e dos amigos. Tenho na vida a lembrança de domingos perfeitos, verdadeiros momentos mágicos e prêmios da vida. Mas a felicidade não é constituída apenas por momentos. No artigo da semana passada, abordei a questão da seriedade, como parte da felicidade, que não se limita à alegria. Ela possui outras importantes dimensões. Sigo agora trazendo novos ingredientes para o nosso chope, ou café, se você preferir.

Como seres humanos, precisamos de vivências prazerosas, necessitamos sorrir, desfrutar. Não faz parte da nossa natureza a busca da dor ou do vazio do sabor. Não nos conforta a ideia de que a felicidade virá depois da vida, como quiseram que acreditássemos. Queremos prazer e muito mais do que isso, queremos ser felizes. Para isso, precisamos de um sentido. A ausência dele está diretamente relacionada a doenças como a depressão e a outros tipos de sofrimentos

Palavras como missão, propósito e legado não necessariamente geram prazer, mas compõem uma dimensão importante da felicidade. Já pensou se todos os dias fossem um domingo de sol? Que graça teriam?

Imagem: Reprodução/LinkedIn

Mantenho há várias décadas uma carga horária diária entre 12 e 16 horas entre trabalho, estudo e dedicação voluntária. Também me divirto bastante enquanto faço isso. Não sei se isto diminui o mérito, mas acho que não.

Paul Dolan no seu livro Felicidade Construída coloca o prazer e o propósito em uma balança. Há pessoas que possuem na sua balança muito propósito e pouco prazer e outras, ao contrário, muito prazer e pouco propósito. Cada um de nós será mais feliz com um determinado tipo de balança. Você já pensou como anda a sua?

Na construção da felicidade consciente, causa que abraçamos no MCI, algumas práticas formam quase que um consenso, seja pela ciência, filosofia ou religião. É o caso do altruísmo, da gratidão, do desapego, do desfrute do belo e da resiliência. Todas correspondem a emoções positivas que fortalecem conexões neurais positivas. Do ponto de vista mental, elas nos aproximam da felicidade. Há, porém, ainda algo maior, se ultrapassarmos a barreira da psicologia e da neurociência. Estas práticas, segundo boa parte de crenças milenares, nos fazem evoluir espiritualmente.

As quatro grandes religiões da história – o hinduísmo, o budismo, o cristianismo e o islamismo – relacionam felicidade e espiritualidade. No hinduísmo original, por exemplo, eram considerados três níveis de felicidade: o material ou sensual, o mental e um terceiro mais profundo, o espiritual. Meishu-Sama, fundador da Igreja Messiânica Mundial, de origem japonesa, afirma que a evolução espiritual é a única maneira de evoluir a felicidade de cada indivíduo e da própria humanidade. Os trabalhos de Sócrates, Platão e Aristóteles, assim como os estudos da psicologia positiva, parecem convergir na mesma direção, ainda que com nomenclaturas diferentes.

E o dinheiro, onde entra? Há uma relação clara entre o atendimento de necessidades básicas e o incremento da felicidade, como Maslow nos ensina. Dinheiro e condições materiais pesam, porém, até um certa quantidade, não sendo linear a afirmação “mais dinheiro, mais felicidade”. Pesquisas mostram que a partir de determinado volume, o impacto é quase zero, podendo até ter efeito contrário. Consumismo e felicidade não seguem a mesma curva. Na relação dinheiro e felicidade, outros aspectos são mais determinantes, como abordo no livro O Espírito do Dinheiro, dentre eles: como ganhamos o dinheiro, nossa relação com o dinheiro e a maneira como fazemos uso do dinheiro.

Para a felicidade, outras dimensões podem ser acrescentadas, como a qualidade de nossas relações, a superação de metas e a capacidade de vivenciarmos plenamente o nosso momento presente. Assim, felicidade é algo muito além do prazer e de um domingo de sol, incluindo também as dificuldades, a tristeza e as segundas-feiras cinzentas. Mas isto é assunto para o artigo da próxima semana.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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