Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
Diz a sabedoria popular que aos avós não cabe educar, excluindo as situações de ausência dos pais. Em condições normais, os avós teriam direito até a deseducar. Os pais, como vimos, deveriam ir além de oferecer bem-estar aos filhos, mas atuar na sua formação para que desenvolvam um modelo de pensar e de agir que os aproximem da felicidade.
Algumas destas qualificações envolvem: a gratidão, o altruísmo, a resiliência, o desapego, a autorresponsabilidade, o cultivar sonhos, o desfrute do belo e da arte. Ufa! Parece muita coisa, mas a cada evolução em um destes itens, por menor que seja, os aproximará da felicidade. É uma trajetória de um jogo infinito e sempre teremos um passo a dar a mais, não é mesmo?
Mas, se aos pais cabe educá-los, qual o papel dos avós neste processo? Não vou me deter na questão das heranças, algumas benéficas, outras não. No caso de heranças materiais, normalmente são valorizadas, mas não costumam ser as mais importantes e nem sempre são duradouras.
Há situações em que os avós vivem próximos e desfrutam do dia a dia das crianças. Há outras que os avós vivem longe, em um bairro distante, em outra cidade, ou mesmo em outro país. Em um mundo globalizado, isto pode ser bem comum. No meu caso, por exemplo, tenho seis netos. Cinco deles moram no exterior e uma netinha em outra cidade. Qual poderia ser o meu papel na contribuição para a felicidades deles?
Refletindo sobre isso, o que vem primeiro à mente é a educação que as minhas filhas, as mães deles, receberam, e que, não sendo determinante, certamente terá alguma influência. Vale para os acertos e para as falhas também. Eles poderão ser reproduzidos ou evitados, cabendo a elas, tais escolhas, conscientes ou não.
As histórias que os pais contarem sobre os avós influenciarão também. Mais do que isso, porém, pesará o convívio, o diálogo, por menos frequente que sejam. Creio que momentos de netos com avós ficam nas lembranças, mesmo que guardados em algum local de suas mentes, para reaparecer quando forem mais adultos. Não são encontros formalmente educativos (lembrando que não nos cabe), mas o exemplo fala mais forte do que instruções. Muitas das qualificações listadas acima poderão ser transmitidas praticamente sem palavras, mas por atitudes e pela nossa maneira de ser.
Mas existe um tipo de influência que normalmente é desconsiderada. Mokiti Okada fala que todos nós possuímos elos invisíveis (ou espirituais) e que influenciamos e somos influenciados por eles. Há influência por meios destes elos na relação com todos com quem temos uma ligação. No caso de um homem público, um professor, um sacerdote ou um líder profissional, isto implica em um tipo de responsabilidade extra. Segundo Okada, os elos são extremamente fortes, por exemplo, entre um casal apaixonado e entre pais e filhos. Para parentes consanguíneos, estes elos são indissolúveis, como se fosse uma espécie de genética. Ele chega a afirmar: “para que os pais melhorem os filhos, é preciso que melhorem a si mesmos”.
De minha parte, estendo este raciocínio para os avós. Para mim, este é o caminho mais eficaz para nós, avós, contribuirmos para a felicidade de nossos netos. É sermos ainda melhores pessoas do que já somos e sermos mais felizes, não por fatores externos que independem de nós, mas desenvolvendo internamente as qualificações de um modelo mental e prático que nos aproximem da felicidade. Transmitiremos isto a eles pelos elos invisíveis.
Para nós avós, de quebra, fortaleceremos o desapego, uma destas qualificações. Fazemos isso, amando à distância e confiando no universo.
E você, o que pensa? Qual a maneira mais eficaz dos avós contribuírem com a felicidade dos netos?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista