Recentemente, em reunião com um alto executivo, ele parecia querer falar de Deus, mas se engasgou, ficou sem jeito e procurou que palavra utilizar. Pega mal falar de Deus.
Vemos nos filmes de época que a segunda guerra era acompanhada pelo rádio ou pelo jornal do dia seguinte e nunca em tempo real. Quando chegavam notícias de pessoas conhecidas ou quando algum parente era convocado, a guerra se aproximava. Na maior parte do tempo, porém, era distante, algo que acontecia em outro continente.
Depois veio a guerra fria. Ela nos mantinha em alerta. A terceira guerra poderia destruir o mundo. No entanto, era uma possibilidade que ficava cada vez mais distante, a humanidade parecia que caminhava para tempos duradouros de paz, sobretudo com o fim da União Soviética e da derrubada do muro de Berlim. A tecnologia em velocidade crescente trazia o que antes era ficção e ia ainda além das previsões mais otimistas. Não lembro de ter lido ou ouvido nenhuma história de ficção sobre o que hoje temos na palma de nossas mãos (em bilhões de mãos do planeta) com o smartphone. Nem no desenho animado dos Jetsons. A promessa era de um mundo melhor e de paz. Teríamos nós, humanidade, finalmente deixado a selvageria e nos tornado civilizados?
Hoje a guerra também está na palma de nossas mãos e em tempo real. É claro que você e eu não estamos insensíveis a tudo isto. Como ser feliz ouvindo, lendo, assistindo a bombardeios que, até o momento em que escrevo este texto, mataram 1700 pessoas, assim, sem mais nem menos? Com um simples aperto de um botão foram quase duas mil vidas. E se fosse o tal botão vermelho capaz de destruir metade do mundo, antes que um outro destrua a outra metade?
No mundo hoje temos, segundo a CNN, cinco grandes guerras: Israel e Hamas, Azerbaijão x Armênia, Rússia x Ucrânia, Guerra da Síria e a guerra civil no Iêmen. Cinco grandes guerras. Mas são muito mais do que essas. E as guerras do tráfico? As guerras veladas entre os países e entre as grandes empresas? As guerras entre as torcidas de futebol? As guerras entre os vizinhos? As guerras entre departamentos dentro de uma mesma empresa? As guerras dentro das famílias, entre irmãos, pais e filhos ou entre casais? Decididamente, parece que em todos os lugares, fazemos guerras.
Algumas questões parecem relevantes. Primeiro: é preciso que seja assim? Segundo: há alguma grande causa para sermos assim? Terceiro: Podemos nós, insignificantes seres, modificar este quadro?
Para a primeira questão eu diria com muita convicção: não, não é necessário que seja assim. Não precisamos viver em grandes e pequenas guerras. “Faça humor, não faça guerra” era o nome de um programa humorístico dos anos 70, que tinha, dentre outros, o gênio Jô Soares.
Para a segunda questão, eu afirmaria: sim, dentre todas as causas, creio que há uma grande causa para este estado: a educação materialista, que está presente nas nossas escolas, nas famílias, nas empresas, nas redes e na mídia, fortalecendo uma cultura egoísta, superficial e imediatista.
Deus não está morto, como bradou Friedrich Nietzsche, em sua visão de mundo niilista, defendendo a ausência de sentido da vida.
Deus não está morto, mas nós queremos o deixar de fora das escolas, da ciência, das empresas e até mesmo das famílias. Queremos aprisioná-lo nas igrejas, dissociando-o da vida prática. Agimos como o jovem inseguro que, para se auto afirmar e mostrar independência, nega os próprios pais. Confundimos religião com espiritualismo, negamos o invisível (como se o pensamento e os sentimentos também não fossem invisíveis) e nos enterramos de materialismo.
Recentemente, em reunião com um alto executivo de uma empresa, ele parecia querer falar de Deus, mas se engasgou, ficou sem jeito e procurou que palavra utilizar. Pega mal falar de Deus. Nas escolas, o que estamos aprendendo? O que estamos ensinando? Que só o dinheiro e o conhecimento técnico interessam?
Terceira e última questão: nó podemos mudar esta situação, mesmo sendo individualmente tão pequenos?
A resposta é sim, mudando a nós mesmos e contribuindo com o nosso entorno. Exercendo práticas como a gratidão, o plantar felicidade, a resiliência, o belo e o desenvolvimento de um propósito, de acordo com o que entendermos ser a nossa missão. São práticas que nos aproximam da felicidade consciente e ajudam a transformar este mundo que, se não o destruirmos antes, um dia será civilizado.
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
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