Está tudo sob controle?

Há o que está ao nosso alcance, e o que precisa ser feito. E há o momento de soltar, de deixar fluir, de confiar, de entrar na dança das incertezas.

Tudo foi planejado minuciosamente. O plano saiu da cabeça e foi escrito, lido, relido, corrigido e aperfeiçoado por especialistas no assunto. Os riscos foram identificados, mensurados e devidamente tratados. Os recursos financeiros são mais do que suficientes e as pessoas sabem o que precisa ser feito. Mais do que isso, elas estão comprometidas com a causa. Tudo está sob controle. Epa! Está mesmo sob controle?

Infelizmente as coisas parecem tomar outro rumo. Sim, um acidente, uma fatalidade, uma coincidência indesejada. Talvez tenha sido o que podemos chamar de azar. Perdemos o controle. Neste momento, não nos sentimos felizes.
De repente, tudo se mostra diferente. Não é que o tal acontecimento pode ter sido bom? Novas possibilidades se abriram e o horizonte é mais promissor. Aquilo que era ruim, agora, parece uma bênção. Talvez tenha sido o que podemos chamar de sorte. Retomamos o controle. Neste momento, nos sentimos felizes.
Dentre as contradições inerentes à felicidade, uma das maiores é a tal questão do controle. Racionalmente, sabemos que temos controle sobre muito pouca coisa e sempre por tempo limitado. Por outro lado, estamos no volante das nossas vidas e cabe a nós fazermos as nossas escolhas. Aprendemos que é importante sonhar, projetar o futuro e transformá-lo em um plano de ação. Mas para o quê, se tudo é tão incerto?
Imagem: Reprodução/LinkedIn

Há os que pensam que talvez seja melhor largar o volante de vez e que “seja o que Deus quiser”. O veículo pode bater na primeira árvore do caminho. Não parece ser uma boa ideia. Outros se agarram tensos ao volante com as duas mãos, quase colando-o ao peito, como fazemos quando estamos aprendendo a dirigir. Afinal, o que seria aprender a dirigir? Na imagem que faço na minha mente, é como se o Waze ora nos indicasse um caminho, ora outro, para chegarmos no mesmo destino.

No coaching profissional, temos uma máxima que é: “confie no processo”. Significa que é preciso nos preparar da melhor forma, o máximo possível e, a partir daí, aguardar o que vier. Começamos uma reunião de coaching sem ao menos saber o assunto que o cliente trará, qual é o seu objetivo e o que ele esperará do encontro. Isto fará parte do acordo de coaching da sessão, mas só saberemos quando o “jogo” tiver começado. Ë fundamental confiar no processo. Gosto de pensar que confiar no processo é confiar no universo, confiar numa força superior. Os melhores resultados que já obtive foi quando confiei.

Na vida e nos negócios não é diferente. Há o que está ao nosso alcance, e o que precisa ser feito. E há o momento de soltar, de deixar fluir, de confiar, de entrar no ritmo das incertezas. É o ponto que estamos no controle e que, ao mesmo tempo, não estamos. É semelhante à dança de um casal que é levado pela música ou ao estado de flow, descrito por Mihaly Csikszentmihalyi. Abraham Maslow, um dos primeiros a produzir estudos que viriam a servir de base para a criação da psicologia positiva, se referiu a momentos culminantes. Também é o que podemos chamar de desapego, uma das práticas essenciais na construção de felicidade.

Com tudo isso, para lá e para cá, resta a pergunta que não quer calar: afinal, está tudo sob controle? 

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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