Está difícil contratar e criar vínculos?

Uma empresa feliz não é aquela que vai criar salas com sofás, montar uma programação de festas de confraternização, permitir que as pessoas trabalhem de bermuda ou levar o cachorro para o escritório.

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

“Está difícil contratar. Ocorre em todos os níveis, mas, na base da empresa, cada vez é mais complicado. Os jovens de hoje parecem que não querem saber de emprego. Alguns até se candidatam, passam por todo o processo, fazem entrevistas, exames médicos etc. e depois de alguns dias, desistem. Já tivemos casos de saírem após um único dia de trabalho e até um que desistiu antes do primeiro dia. Alguns nem avisam. Simplesmente abandonam o emprego e deixam para resolver a papelada qualquer dia para frente. Outros iniciam, passam por todo um treinamento e depois trocam de trabalho, por uma diferença irrisória de salário. Não há o menor vínculo com nada e nem com ninguém. Quando se precisa de um empenho um pouco maior, a reação é de total indiferença, como se não tivessem nada com o assunto. No mês passado, precisamos que a turma trabalhasse, excepcionalmente, em um domingo. Oferecemos como atrativo 100% a mais do valor hora e mais refeição, lanche, transporte etc. A empresa precisava. Pouquíssimos responderam positivamente. Seria uma questão só nossa ou é de mercado? Será que se aumentarmos os salários, conseguiríamos contratar e, mais do que isso, manter estas pessoas?”

O desabafo é de um empresário, sócio de uma companhia de médio porte. Certamente, não é um caso isolado. Talvez você mesmo esteja vivendo algo parecido ou sabe de alguma empresa que está. Em reuniões de conselho ou de consultoria, é uma pauta bastante presente. Apesar de vivermos no Brasil um momento, que se pode considerar de pleno emprego, não é uma questão conjuntural, restrita a agora, ou mesmo limitada ao nosso país. Trata-se de uma tendência que já vem de anos e parece não ter fronteiras.

Ouvi de um jovem uma vez: “Pelo que me pagam, prefiro eu pagar pelo meu tempo”. Lógico que o jovem pensava em poder comprar o tempo dele com o dinheiro que recebia de mesada dos pais. Outro jovem, este americano, me falou: “Não quero passar seis ou oito horas por dia no trabalho. Quero viver”.

Nas empresas, tenho ouvido diferentes discussões e propostas para lidar com a questão. Boa parte delas analisa a melhoria de remuneração ou de benefícios. Em alguns casos, pode funcionar parcialmente, mas são soluções de curto prazo. Não se sustentam por muito tempo e nem são capazes de sensibilizar todo mundo. Além disso, há um limite para o aumento de custos de pessoal, regulado pelo próprio mercado. Não vale também pensar que a IA (inteligência artificial) resolverá o assunto.

Para o curto prazo, vale diferentes tipos de iniciativas, mas é preciso pensar além, uma vez que, como defende Simon Sinek, negócios são um tipo de jogo infinito, pelo menos, para as empresas que permanecem no jogo. É o objetivo de todas elas.

Pensar no longo prazo para atrair e criar vínculos, é pensar em se tornar uma empresa melhor, um ser vivo melhor. É o mesmo que se aplica às pessoas. Tornar-se uma pessoa melhor é o único meio para ser um melhor pai ou mãe, profissional ou qualquer coisa. Ser uma empresa melhor é crescer em resultados e ser uma empresa mais feliz, algo que começa agora a ser percebido.

Uma empresa feliz não é aquela que vai criar salas com sofás, montar uma programação de festas de confraternização, permitir que as pessoas trabalhem de bermuda ou levar o cachorro para o escritório. Tudo isto pode ser válido, ou não, de acordo com a realidade de cada uma, mas não é o que será decisivo.

Ser uma empresa feliz envolve muito mais coisas, como tratado em outros artigos, dentre eles: “O resultado indireto da felicidade para as empresas” e o “Para que serve uma diretoria de felicidade?”. No momento, o que pretendo defender é que, no longo prazo, para atrair e criar vínculos, será preciso ser uma empresa melhor, uma empresa feliz. Continuo na próxima semana.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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