Escolhas que fazem a nossa história

Ignácio e Maria Lúcia. Duas histórias que começaram parecidas, mas que se distanciaram pelas escolhas que foram feitas.

Ignácio começou a beber cedo. Aos 13 anos embriagou-se pela primeira vez. Liderou uma arrecadação de dinheiro junto aos coleguinhas da rua e conseguiram, não se sabe como, comprar uma garrafa de cachaça. Cada um tomou um gole e passou adiante. Era já muita adrenalina, pois se os pais descobrissem, todos ficariam em apuros. O medo gritou mais alto e um gole foi suficiente. Não para Ignácio que ficou com o restante da bebida. Algum tempo depois, Ignácio estava fora de si, cambaleando pela rua, com uma garrafa de cachaça na mão.

Dona Tereza, sua mãe, foi chamada e, meio que desesperada, meio que envergonhada, tentava levar o filho para casa. Era já uma senhora, mais jovem do que parecia, talvez pela obesidade, talvez pela vida dura que sempre tivera. Enfrentara os efeitos da bebida com o seu pai, que batia na mãe e nos filhos. Depois, novo confronto com o álcool, desta vez com o seu marido, pai de Ignácio. Era agredida à noite, para no dia seguinte, receber carinhos e perdoar o marido. Ela sabia que ele não era má pessoa. Era normalmente dócil, pacato até, lavava a louça nos almoços de domingo, e dava presentes nos dias especiais. Não quando ia para o bar em frente a fábrica onde trabalhava. Nestes dias, ao chegar em casa, era um outro homem. “Mudava como o Hulk”, dizia ela, “só que para o mal”. Ainda segundo Dona Tereza, Ignácio estava copiando o pai. Ignácio, na verdade, foi além. Antes de completar 20 anos, ele já estava marcado pelo álcool, numa luta que não o deixava se firmar em nenhum dos campos de sua vida. Ainda hoje, já tendo passado dos 40, não mudou esta realidade. Tudo por causa do pai, dizia Dona Tereza.

Reprodução: Internet

Maria Lúcia poderia ter tido uma história parecida. Era a mais velha de duas irmãs e um irmão. Era ela que enfrentava o pai alcoólatra, protegendo os menores da violência. Para isso, ficava nas ruas de Copacabana, durante todo o dia, até a mãe chegar do trabalho. Não que fosse uma garantia, pois também a mãe acabava sendo protegida por Maria Lúcia, que agia como uma menina destemida, corajosa e, para o pai, abusada, o que era imperdoável. Maria Lúcia apanhava forte, física e emocionalmente. Era uma leoa feroz, mas frágil.

Maria Lúcia cresceu com diversos traumas, dificuldades de aprendizado e outras limitações. No entanto, criou um propósito que parecia inabalável: criar uma família feliz, o que nunca tivera. Não seria vítima do álcool e da violência, não reproduziria a história de sua família.

Casou-se cedo, teve duas filhas e tornou-se um exemplo para elas. Lutou para preservar o seu casamento, mesmo diante de crises. Faleceu cedo, vítima de um câncer, após mais de 30 anos de casada. Foi amada pelo marido, que esteve ao seu lado até o fim. Ele a homenageou com um livro sobre o que aprendera com Maria Lúcia, a respeito do amor e de uma família feliz, seu ideal.

Ignácio e Maria Lúcia. Duas histórias que começaram parecidas, mas que se distanciaram pelas escolhas que foram feitas. Não somos predestinados a seguir este ou aquele papel. Somos personagens criados por nossas escolhas. Recebemos de Deus este presente, do qual não temos como fugir. Isto é muito bom e é, ao mesmo tempo, rigoroso. Mesmo que quiséssemos, como fugir da responsabilidade da escolha? Se o fizéssemos, já estaríamos fazendo uma escolha, não é mesmo? Não sei quanto a você, caro leitor, mas penso que é muito bom ter esta consciência. Estamos na direção de nossas vidas. Nossas escolhas fazem a nossa história.

Julio Sampaio (PCC, ICF)

Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching

Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros

Texto publicado no Portal Amazôna e no https://mcinstitute.com.br/blog/

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