As vantagens de trabalhar com um amigo são muitas, mas há ocasiões em que isto traz alguma dor. Somos seres humanos imperfeitos, emocionais, aprendendo a viver enquanto vivemos!
Reencontro Leandro depois de alguns anos. Mudou com a família para uma capital do Nordeste e vive um pouco isolado. Ele, com um pouco menos de 60 anos, está bem. Parece mais jovem e aparentemente bem saudável. Brinca que está aposentado, mas ainda não. Administra alguns bens e investimentos e adequou o seu padrão de vida, com um bom plano financeiro. Transparece que gostaria de voltar ao mercado, mas sabe que a idade não favorece. Indiscutivelmente, tem muito a agregar e seria um desperdício não o fazer. É possível que, passada a pandemia, Leandro vá fazer algum tipo de empreendimento.
Somos amigos desde quando éramos jovens e a vida fez com que trabalhássemos juntos em diferentes empresas e cidades. Ele, como filho de militar, estava sempre disposto a mudanças. Leandro era um ótimo profissional e mais de uma vez o indiquei para alguma empresa ou o contratei para um cargo de confiança. Em uma ocasião, demiti o Leandro. Ele estava à frente de um projeto que estava sendo questionado pelos investidores. Os resultados não vinham bons e o negócio exigia mais investimentos, sem uma garantia de retorno. Eu acreditava na sua viabilidade e estava tentando convencer os investidores disto. Também tentei convencer Leandro, que não acreditava ser possível reverter os resultados. Disse para ele: “Leandro, preciso de alguém que acredite no projeto. Se você não acredita, terei que substitui-lo”. Ele foi honesto e manteve a sua posição. Eu o demiti. Pensei que era o fim de nossa amizade.
Também demiti o Luiz Carlos. Era um amigo de longa data. Nossas esposas eram amigas e nos frequentávamos nos finais de semana. Comíamos pizza, tomávamos cerveja e nos divertíamos. Confiávamos um no outro. No entanto, Luiz distratou um funcionário de forma inconcebível e descobri que não era o primeiro caso. Isto contrariava completamente os meus valores e o da empresa. Na demissão, discutimos e ele saiu batendo a porta. Foi um rompimento custoso.
Teve ainda o Mauro, um outro amigo. Ele havia mudado de cidade a meu convite para cuidar de um novo negócio. Os resultados eram satisfatórios, mas Mauro mostrava-se insatisfeito com tudo. Com a empresa, com as pessoas, com a cidade, com a vida. Eram muitas as reclamações. Sabemos que reclamações geram reclamações, que se alastram e contaminam todos. Em muitas coisas, ele podia ter razão, mas reconheço que este é um limite meu. Tenho baixa tolerância a lamúrias. Após uma conversa sincera, desliguei-o do projeto.
Passados alguns anos, reencontrei os três, em momentos muito próximos. Era como se a vida estivesse me comunicando algo. Eu estava receoso. Não sabia que tipo de sentimentos eles haviam desenvolvido neste período. Me surpreendi e me emocionei ao perceber que continuávamos amigos. Confiamos uns nos outros e sabemos que cada um foi o melhor que conseguiu ser naquelas situações. Sabemos que fomos sinceros, tentando ser coerentes no que acreditávamos ser o certo. Mas o que era o certo?
Muita gente não gosta de trabalhar com amigos. Não é o meu caso. Sem dar preferências, se tiver esta possibilidade, acho ótimo. Gosto também de transformar colegas desconhecidos em amigos. As vantagens são muitas, mas há ocasiões em que isto traz alguma dor. Somos seres humanos imperfeitos, emocionais, aprendendo a viver enquanto vivemos.
Leandro, Luiz e Mauro. Três vencedores e três amigos que tiveram a grandeza de serem maiores do que um momento difícil para qualquer pessoa, como é o de uma demissão. Eles não cultivaram mágoas, o que nos permitiu nos reencontrar, compartilhar as novas histórias e brindar o valor de uma amizade de vida. Minha gratidão aos três.
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros
Texto publicado no Portal Amazôna e no https://mcinstitute.com.br/blog/