Há algo que emerge disso, e que nos traz muita esperança: as pessoas capazes de serem felizes são as pessoas capazes de chorar.
“Chorei quando vi o jornal Nacional hoje”. Foi o que a minha esposa me disse quando cheguei em casa numa noite, nesta semana. “Muita gente morrendo por falta de ar! Imagina, por falta de ar!”. Certamente ela não foi a única pessoa que chorou ao ver as imagens. Os dias seguintes trouxeram outras, tão graves quanto àquelas. No momento em que escrevo este artigo, elas ainda estão acontecendo, e, contrariando o que parecia impossível, a situação vai se agravando.
Minha esposa nasceu em Manaus e tem familiares e amigos que vivem nesta capital. Diariamente chegam notícias de alguém que foi contaminado, que está internado, ou que partiu. Estas notícias vêm do país todo, mas principalmente do Amazonas. No início, conhecíamos poucas pessoas atingidas, mas a doença foi se aproximando, se aproximando, e hoje, todos nós conhecemos histórias de alguém muito perto. Tão perto, que chegamos a sentir como se fosse conosco. É bom saber que somos humanos e que não perdemos a capacidade de chorar.
Particularmente, me tocou uma imagem que não apareceu nas reportagens, mas nos bastidores. É de uma jornalista da Rede Amazônica que desabou em prantos, ao encerrar a apresentação de um dos jornais na TV. O momento foi registrado pelo emocionado Elizandro Oliveira, diretor de jornalismo.
Peço desculpas se estou cometendo uma indiscrição, pois creio que a imagem circulou apenas internamente. Mas eu precisava citá-la pois é mesmo um símbolo muito forte. Uma realidade, não apenas de um, mas de uma equipe de pessoas que, como diz o jornalista Carlos Alberto Di Franco, se imbuíram de um propósito, o de oferecer algo vital: informação segura e confiável. Di Franco, como eu e alguns outros colegas, temos o privilégio de participar do Conselho Consultivo do Grupo Rede Amazônica e podemos, deste ângulo, sentir o quanto isto é humanamente verdadeiro, o que nem sempre é possível para o telespectador. Podemos dizer também destes jornalistas: são pessoas e profissionais que não perderam a capacidade de chorar. Isto as tornam pessoas com capacidade de serem felizes.
A felicidade para ser colhida precisa ser plantada. Ela não está apenas no riso, nas brincadeiras e nos momentos prazerosos. Ter um propósito é uma maneira de ser feliz, como nos ensina a psicologia. Mas é um tipo de felicidade que gera sacrifícios, esforços e muitas vezes, lágrimas. Quem educou ou educa filhos, ou cuida de um idoso com Alzheimer, apenas para citar dois exemplos, sabe do que estou falando.
Esta sequência de artigos (no total de 20) que se encerra na próxima semana (iniciaremos uma nova série em fevereiro) trata de temas relacionados à felicidade corporativa. Sinto que não me afasto do tema ao lembrar que, com tanta dor e sofrimento, há algo que emerge disso, e que nos traz muita esperança: as pessoas capazes de serem felizes são as pessoas capazes de chorar.
Julio Sampaio
Mento-Coach e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros.