Cada um faz o que gosta

Era um casal improvável, mas a vida os reaproximou. Hoje, cada um faz o que gosta, no entanto, só um deles parece feliz.

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

O encontro foi casual. Há muito não via Gladimir e Marina, colegas dos tempos em que ainda éramos jovens. Era um improvável casal pelas diferenças de personalidade. Eles namoraram durante um período, casaram-se e separaram-se com pessoas diferentes, e a vida os reaproximou anos depois, para um novo casamento.

– Que bom vê-los! Feliz ano novo. Como foi a passagem de ano? Saudei-os com entusiasmo.

– Garças a Deus que o ano terminou. Foi um péssimo ano. Não via a hora dele acabar – Resmungou Gladimir.

– Mas aconteceu alguma coisa? Alguma doença na família ou coisa assim? Perguntei surpreso, já um pouco preocupado.

– Nada disso – se antecipou Marina – Está tudo bem. Tudo normal. Estamos com saúde, nossos filhos estão bem e vamos levando a vida sem dívidas.

– Sim, tudo normal para um país como o nosso, que só piora, em todos os sentidos. Não é possível que a gente ache normal a economia como está e principalmente a política, que é uma verdadeira vergonha. Posso afirmar com segurança. As coisas estão piorando e vão piorar ainda mais – Interrompeu Gladimir, cada vez mais exaltado.

Tentando mudar de conversa, que parecia não ir em uma boa direção, fiz uma pergunta que veio à cabeça.

– Bom, e o trabalho de vocês como está?

Foi Marina que falou primeiro:

– Estamos aposentados e usufruindo esta fase boa da vida. Estou aprendendo coisas novas e me dedicando a trabalhos voluntários junto a crianças e idosos, que me realizam bastante. De vez em quando ainda faço um ou outro atendimento clínico (ela é psicóloga), mas sem aquela obrigatoriedade de cumprir horário todos os dias.

Gladimir seguiu na sua frequência:

– Sim, estamos aposentados e tendo de trabalhar porque a aposentadoria não dá para nada. O pior é que nem sempre aparece trabalho (ele é advogado) e quando surge são clientes exigentes, que não querem pagar ou pagar muito pouco. Você me conhece e sabe que não tenho paciência. Acabo largando o caso no meio do caminho e nem recebo. Quando não tem trabalho, não há o que fazer. Entra dia e sai dia e é um tédio só.

– Bom – disse eu, tentando levantar o astral – mas que bom que vocês estão com saúde. Estão com bom aspecto.

– Como assim? Você deve estar brincando. Olha só para nós. Nem digo por mim, que já estou acabado há muito tempo. Mas a Marina parece aquela menina que nós conhecemos quando éramos jovens? Nem sombra do que já foi – Gladimir parecia estar brigando comigo, mas agora ele atingiu uma outra pessoa.

– Pera aí, Glad – falou indignada Marina – o que você quer dizer com isso? Eu estou muito bem, sim senhor. Faço academia, caminho e me mantenho em forma. Meu único problema é estar casada com um reclamão que não sabe valorizar o que tem.

– Já vem você com esta história. Vive dizendo que eu reclamo de tudo. Eu sou realista. O que eu não sou é “Poliana”, do tipo que vê tudo colorido, quando o cenário está negro – Ao dizer isto, Gladimir virou-se para mim – Me diz se eu estou errado. Você que vive falando em felicidade, pode alguém ser feliz no meio deste caos?

– Eu…

– Não precisa responder – Marina reagiu antes que eu pudesse dizer alguma coisa – Eu sou feliz e estou aprendendo a construir, como você diz, felicidade conscientemente, independentemente dos acontecimentos e das pessoas a minha volta. Você pode entender bem por que, não é? Mas sou grata a Deus por isso também.

Foi bom ver Gladimir e Marina. Eles seguem juntos, cada um fazendo o que gosta. Ele de reclamar, ela de agradecer. No entanto, só um deles parece ser feliz.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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