O fenômeno é causado por linhas de instabilidades que são normalmente formadas próximas da costa
“A tarde molhada de chuva não é novidade para quem vive aqui (…)”, o início da canção “Belém do Pará”, de João Alexandre, exemplifica bem a rotina dos moradores da capital paraense com a famosa chuva da tarde. Sim, os habitantes de Belém convivem com um tempo instável, que culmina com fortes chuvas nos fins das tardes da capital paraense.
Linhas de Instabilidade (LI)
De acordo com o professor Glauber Cirino, da Faculdade de Meteorologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA), a chuva da tarde é uma realidade em Belém. O fenômeno é causado por organizações convectivas, especialmente de mesoescala (de aproximadamente 10-50 km), denominados de linhas de instabilidade (LI) que são células convectivas formadas por nuvens ‘cumulonimbus’ próximo da costa NE da América do Sul (AS). São importantes sistemas produtores de chuva na bacia amazônica que adentram o continente e começam no oceano, estimulados pela circulação e brisa e forte aquecimento da superfície, típico das zonas equatoriais.
“Essa área tem bastante energia vinda do sol, por tanto, a superfície aquece bastante, e existe a entrada de fluxo de umidade para o continente, ou seja, essas duas variantes se misturam e instabilizam o ar próximo à costa. Os fortes ventos atuam ainda transportando umidade e calor para o continente adentro, gerando assim, bastante chuva”, explicou Cirino.
O professor destaca que as fortes chuvas nos fins das tardes não acontecem só na capital paraense. “Outros lugares, com as mesmas características, também contam com as chuvas vespertinas. Normalmente, se tem o efeito de linhas de instabilidade, causando chuvas que contribuem anualmente com a precipitação da capital”, contou.
“Existem situações em que as linhas de instabilidade enfraquecem, enquanto em outras elas ganham força. Elas podem atingir regiões distantes como Santarém e Manaus. Inclusive, a chuva típica em Santarém é a chuva matutina”, informou o professor.
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)
Outro fenômeno também é responsável pelas chuvas da tarde: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Segundo Cirino, esse é um sistema de grande escala, intimamente ligado com os ventos alísios que confluem à superfície induzindo fortes convecções e cobertura de nuvens na faixa equatorial, produzindo instabilidade, descargas atmosféricas (raios) e inúmeras tormentas “A ZCIT, basicamente, divide o período chuvoso do menos-chuvoso na capital e em muitas outras regiões ao norte do estado”, destaca o Professor .
Este sistema acompanha o movimento do sol, e nos meses de janeiro a maio, se posiciona mais ao Sul do HN, influenciando fortemente o tempo atmosférico em cidades como Belém, localizadas próximo do 0° grau de latitude. Nestes meses, ZCIT e LI são responsáveis quase que 100% pela distribuição das chuvas, embora outros fenômenos de escala local possam ainda atuar”, disse Cirino.
Chuva Convectiva
Sobre a questão da chuva isolada em Belém, Cirino explicou que são frequentes, especialmente nos meses menos chuvosos (julho-outubro), ‘Chuvas Convectivas’. “No mapa, a cidade de Belém está na porção nordeste do Estado do Pará, ou seja, existe uma proximidade com o Oceano Atlântico, que é uma grande fonte de umidade, fundamental na geração de brisa e ventos entrando na porção mais ao norte do Estado. Os ventos do oceano deslocam muita umidade e a superfície, muito aquecida (o ano inteiro), também funciona como fonte de umidade para atmosfera, gerando então pancadas de chuva, denominadas ‘chuvas convectivas (precipitação convectiva)’, observadas em áreas isoladas da capital e em vários outros municípios”, disse.
Este fenômeno, entretanto, não costuma exceder 30 min e não contribuem muito para melhorar o desconforto térmico frequentemente reportado pelos Paraenses.
“As chuvas isoladas acontecem por causa da precipitação convectiva, ou seja, em dias de sol forte, a atmosfera recebe uma quantidade grande de umidade o que gera chuvas isoladas. Já a instabilidade causa chuvas mais fortes, que duram entre 1h e 1h30, essas chuvas estão ligadas a mesa escala e alcançam toda a região metropolitana de Belém”, contou o professor.
Sombrinha, a amiga do paraense
Assim como o agasalho é um item primordial no guarda-roupa dos moradores do Sul e Sudeste, para o paraense o item de regra é a sombrinha, também conhecida como guarda-chuva. “Aqui temos as chuvas rápidas e temporais, mas, apesar da chuva o tempo continua quente, úmido e instável, então, a sombrinha acaba sendo bastante utilizada pelos paraenses”, aconselhou Círino.