“Deixe de ‘H’!”: irreverência é com a Bhanda Bhaixa da Hégua

O ‘H’ extra no nome vem da expressão ‘isso é H’, ou seja, isso é mentira. Muito utilizada quando uma pessoa diz que vai fazer algo, quando se sabe que ela não vai.

Celebrada anualmente no ‘Domingo Magro’ de Carnaval, a Banda Bhaixa da Hégua surgiu em Manaus (AM) como uma opção de celebração das tradicionais festas momescas de rua. Desde sua concepção, a Bhaixa da Hégua está atrelada ao lado mais irreverente do Carnaval, utilizando do humor e das charges até mesmo em sua logo. 

Foto: Paulinho Tavares/Acervo pessoal

“A Bhanda da Bhaixa da Hégua foi fundada em 1991 após o fim da Banda do Mendes, que ficava no térreo do Hotel Amazonas. No Centro da cidade surgiram duas bandas: a Bica e a Bhaixa da Hégua. A Bica no sábado e a Hégua no domingo. A Bica ocorria no Sábado Magro de Carnaval e a turma querendo continuar a bebedeira no Domingo Magro, para não ficarem em casa, resolveu criar a Bhanda da Bhaixa da Hégua. Então, as fundações das duas bandas partem deles. São os mesmos, tanto da Bhaixa da Hégua como da Banda da Bica, os mesmos frequentadores e idealizadores”, revela Paulo Tavares, o “Paulinho”, atual presidente da Bhanda da Bhaixa da Hégua. 

Segundo Tavares, oficialmente, a banda somente existiu “de direito” em 1991, porém ela tem a mesma idade da Bica. “Em razão de documentação, ela passou a existir oficialmente um ano após. Ou seja, a banda mais antiga de Manaus é a Bhanda da Bhaixa da Hégua em razão da época em que começaram as festas, mas a Bica tratou primeiro de criar o estatuto e de consolidar os seus sócios fundadores, então ficou legalizada um ano antes da Bhaixa da Hégua”, explica.

E a irreverência típica e conquistadora da banda começa, claro, com o nome.

“A referência da Hégua se da em razão da Rua Inocêncio de Araújo. À época, anos 50, tinha um senhor que criava duas égua e elas serviam de referência a rua, tanto que ninguém chama a rua pelo nome. Na realidade, até hoje, todo mundo só chama “baixa da égua”. O H de Bhanda da Bhaixa da Hégua, se deu em razão de um jargão da época, que sempre que alguém era convidado para alguma festa e deixava alguma dúvida as pessoas diziam você é só H, você não vai não'”, 

explica Paulinho.

Foto: Paulinho Tavares/Acervo pessoal

“A Bhanda da Bhaixa da Hégua faz um Carnaval irreverente com temas para folia, sendo que a Bica sempre tem o tom de crítica e de puxar a orelha de alguém. Estas são as diferenças entre as duas bandas mais antigas de Manaus”, afirma.

Outro símbolo da irreverência é a própria égua, ícone inconfundível que popularizou a banda. 

“A Hégua, símbolo do bloco, foi inspirada na Roseane Collor, ex-primeira dama do Brasil, mulher do então presidente da República, Collor de Melo, e a boneca da Hégua em forma de charge, tem o rosto da primeira dama”,

revela Paulinho.

Segundo ele, foi enviada uma carta para o gabinete do presidente pedindo autorização para seguir com a ideia. “Eles acharam o maior barato e responderam que sim, que podiam fazer a boneca da primeira dama. Infelizmente, a carta presidencial desapareceu e até hoje ninguém sabe quem levou”, completa.

Foto: Paulinho Tavares/Acervo pessoal

Para o presidente da banda, cada edição ao longo dos mais de 30 anos deixou sua marca. “Mas acho que a segunda edição entrou para a história. O então diretor da cerveja Antárctica, Odilon Andrade, doou cino mil litros de chopp para o evento, para serem distribuídos de graça para os participantes da banda. A turma pulou Carnaval e bebeu de graça até cair no chão, a lotação da época foi oito mil pessoas. Todas porres e felizes no Carnaval da Hégua”, relembrou.

Tradição que segue pensando no povo

Para Paulinho, a Bhanda da Bhaixa da Hégua é uma das maiores referêmcias dos Carnavais tradicionais de Manaus. 

“A manutenção da tradição do verdadeiro Carnaval de rua que se mantém vivo até hoje, sem cobrança de taxa, ingresso ou qualquer tipo de valor, essa é a diferença da Hégua para as demais bandas”, 

declara o presidente sobre a função social e cultural da banda, de permanecer acessível e incentivar não só a alegria, mas também o comércio local.

Carnaval Amazônico 

O Carnaval Amazônico é um projeto realizado pela Fundação Rede Amazônica, correalizado pelo Grupo Rede Amazônica, com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas. Ele visa resgatar a importância histórica das tradicionais bandas e blocos de Carnaval de Manaus.

Flashs ao vivo, clipes das bandas, campanhas educativas (conscientização contra direção perigosa, combate à exploração sexual de mulheres e crianças e infecções sexualmente transmissíveis) e campanhas ambientais (plantio de mudas de árvores em área pré-selecionada, programa de coleta de resíduo e compensação da emissão de carbono) também fazem parte do projeto.

O Carnaval Amazônico busca unir tradição, cultura e entretenimento, levando um pedaço da Amazônia para o público de toda a Região Norte.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Victor Xamã: a renovação do rap que vem da Amazônia

Expoente do estilo na região Norte, artista chama atenção por timbre grave e rimas que falam do cotidiano de quem vive entre as agruras da cidade grande e a maior floresta do mundo.

Leia também

Publicidade