TCC propõe inclusão das danças do Melody e Tecno-Melody em aulas de Educação Física no Pará

Joliene Pinto diz que a pesquisa busca um diálogo entre corpo, a dança e o ritmo do melody paraense para aulas práticas de educadores físicos.

‘O Arrasta Povo do Pará, a (Re) Existência das Ruas: Possibilidades do Melody e Tecno-Melody a partir das Intersubjetividades Culturais’. Este é o título do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), da estudante do curso de Educação Física na Universidade do Estado do Pará (Uepa), Joliene Nascimento Pinto.

Joliene explica que a intenção é utilizar um ritmo oriundo das periferias do Pará para desenvolver uma proposta pedagógica voltada ao curso de Educação Física. Ela observa que o seu TCC está em sintonia com as proposições da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a disciplina de Educação Física (EF), no que se refere à inclusão de danças regionais no currículo escolar.

A universitária afirma que, o fato do Pará ser um Estado multicultural repercute na oferta de uma diversidade de opções, no currículo escolar. “Mas o conteúdo das danças no espaço escolar sofre a influência da hierarquização de conhecimentos acadêmicos urbanos cêntricos e eurocêntricos, que invisibilizam o cotidiano da realidade vivida por um povo”, diz. Ou seja, entre outras contribuições, o TCC busca incluir na matriz curricular um ritmo periférico.

Sob orientação do professor Adnelson Araújo dos Santos, o trabalho foi aprovado e contou com apoio do Grupo de Estudos INcorpoRe (Uepa) e Gipe-Corpo da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O TCC pretende promover um diálogo entre corpo, dança e o melody paraense nas aulas de Educação Física.

A acadêmica observou que as danças regionais paraenses que mantêm relação com as questões afro indígenas como carimbó, retumbão e lundu são destaques. Porém, ritmos paraenses que dialogam com os fenômenos das aparelhagens não são abordados como conteúdo na disciplina de Educação Física. 

“O que se percebe é que as escolas paraenses são excluídas da vivência do melody, que é recorrente em áreas periféricas, onde também está concentrada a maior parte das escolas públicas”, 

esclareceu.

Foto: Marcelo Rodrigues

A egressa do curso de Educação Física da Uepa percebeu a necessidade de visibilizar esse ritmo nas aulas, sistematizando o melody e como este infere e interfere nas camadas populares da sociedade paraense.

O estudo ressalta que o ritmo faz parte do cotidiano dos alunos e traz a discussão de “potencialização da (re)existência cultural de uma grande parte do povo paraense”. Assim, a aluna buscou uma proposta pedagógica, na qual o melody “tem como finalidade apreender a realidade vivida através de seus ritmos num diálogo pedagógico nas aulas de educação física”, disse.

Segundo Joliene, a escola é o espaço onde as aulas de educação física são promotoras da construção do pensamento teórico e a (re) afirmação da identidade cultural do educando. Assim, tanto para a formação acadêmica, quanto para o contexto social, o estudo possibilita a compreensão do fenômeno do melody dentro da sala de aula.

“As aulas com a tematização do melody acabam se tornando fundamentais nesse processo de formação do discente, por conta da visibilidade da cultura popular presente nas periferias de Belém, possibilitando o diálogo sobre essa diversidade cultural e disseminando os costumes e valores desta cultura”,

destacou.

Proposta pedagógica

O objetivo do estudo é trabalhar de forma interdisciplinar com o ensino da Geografia, onde fará cartografias territoriais, os espaços de produção do melody e sua contextualização com a população.

“E a interdisciplinaridade com a Língua Portuguesa, para a compreensão da língua em que é constituída através do melody e que na maioria das vezes, são comunicações e/ou dialetos, que só são compreendidos por aqueles que vivenciam o fenômeno do melody”,  

disse Joliene Nascimento.

Outra forma de comunicação ritmada pelo melody é o corpo, “que manifesta movimentos e corporeidades no encontro de pessoas que partilham da mesma vivência e experiência, expressando-se em um corpo dançante potencializado e potencializante”.

Além disso, trabalhar com o conteúdo dança, como objeto de estudo das práticas corporais, favorece a discussão das diferenças regionais da dança dentro da identidade, do seu pertencimento e do seu território, “provocando um excelente debate cultural dentro das aulas de educação física”, explicou a pesquisadora.

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