Professor no Acre chega a ranking de mais citados em publicações científicas

Com mais de 30 anos de atuação, Marcos Silveira coordena o Laboratório de Botânica e Ecologia da Ufac e diz que passeios com a família na infância despertaram interesse pela ciência.

Marcos Silveira dedica carreira a pesquisas na Amazônia. Foto: Marcos Silveira/Arquivo pessoal

Formado na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o biólogo Marcos Silveira leciona desde 1992 na Universidade Federal do Acre (Ufac). Em sua trajetória no Acre, coordenou estudos como a pesquisa que detectou 16 espécies de fungos comestíveis na área de proteção ambiental (APA) Lago do Amapá, mesmo local onde uma nova espécie de maracujá foi descoberta durante expedições que renderam um artigo na revista científica Phytotaxa, e tem Silveira como um dos autores.

O professor também tem mestrado em Botânica pela UFPR e doutorado em Ecologia pela UnB. “Nos 10 primeiros anos atuei primordialmente com a botânica, coordenei o convênio entre a universidade e o Jardim Botânico de Nova York. Através do convênio instalamos três parcelas permanentes para monitorar a floresta e publicamos a primeira lista de espécies da flora acreana”, conta.

A dedicação à pesquisa e os esforços pela ciência levaram Silveira ao ranking anual de melhores cientistas do site Research.com. Entre 96 brasileiros, ele ocupou a 52ª posição, e no ranking global, chegou à posição de número 3.545.

A lista considera a quantidade de materiais publicados e quantas citações os listados possuem. A colocação dos cientistas é determinada pelo chamado ‘Discipline H-index’ (D-Index). O professor da Ufac aparece com 11.819 citações e 80 publicações até dezembro do ano passado.

 Ciência é compartilhamento

Silveira explica que nos últimos anos as pesquisas no Acre passaram a integrar uma rede internacional, onde são requisitados por estudantes de pós-graduação e pesquisadores de todo o mundo. Na avaliação dele, o monitoramento periódico permite conhecer a taxa de mortalidade e relacioná-la a eventos climáticos como as secas severas.

“Assim, o compartilhamento das informações conduz à coautoria e ao aumento da produção científica, alvo do ranking em questão. A mensagem oriunda dessa experiência revela que sozinhos não vamos longe ou não vamos a lugar nenhum. Para irmos mais longe na solução de problemas globais precisamos seguir juntos e há muitas pessoas especiais caminhando do nosso lado”, 

ressalta.

Silveira é coautor em diversos estudos, e ressalta a importância de compartilhar o conhecimento. Foto: Marcos Silveira/Arquivo pessoal

Nascido no interior de São Paulo, na cidade de Tatuí, o professor atribui à infância o interesse pela ciência. Ele diz que constantemente fazia passeios à zona rural e a outras regiões do estado paulista.

Mesmo com a origem em outra parte do país, Silveira ressalta que a Amazônia é um vasto campo para a ciência, e tem importância global para pesquisas. “A Amazônia está no centro de muitas discussões sobre emergência climática e precisamos suprir a sociedade com informações confiáveis. Para sermos bem-sucedidos precisamos banir a ignorância científica”, destaca.

Novo artigo publicado na Nature

A mais nova produção com coautoria de Silveira é um artigo publicado na revista Nature que trata sobre regiões de floresta tropical que são mais suscetíveis a condições climáticas mais secas. O estudo buscou compreender como a floresta amazônica deve lidar com efeito de secas futuras, em especial, com a redução da sua capacidade remover carbono do meio ambiente.

O trabalho foi liderado por Julia Tavares, como parte de seu doutorado pela Universidade de Leeds, e supervisionado por David Galbraith. Entre os 80 pesquisadores da Europa e América do Sul, oito tem ligação com a Ufac: Marcos Silveira e Sabina Ceruto, professores do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza, e seis ex-alunos do PPG em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, Martin Acosta, João Rodrigues, Renata Teixeira, Richarly Costa, Letícia Fernandes e Wendeson Castro. Os quatro primeiros foram orientados por Silveira.

Grupo de pesquisadores acreanos assina coautoria de estudo sobre efeito de secas em florestas tropicais. Foto: Marcos Silveira/Arquivo pessoal

Tavares ressalta que a Amazônia não é apenas uma grande floresta, mas sim um aglomerado de regiões que abrangem diferentes zonas climáticas. O objetivo do estudo foi observar como essas diferentes zonas lidam com as secas. “Desde locais que já são muito secos até aqueles que são extremamente úmidos. Queríamos ver como esses diferentes ecossistemas florestais estão lidando para podermos começar a identificar regiões que estão em risco particular de seca e condições mais secas”.

A pesquisa avaliou a eficiência das árvores no transporte de água pelo sistema condutor, e a resistência delas às pressões negativas provocadas pela falta de água no solo, uma vez que a pressão negativa pode causar a cavitação do sistema condutor e a morte da árvore por embolia.
Para a análise, os cientistas mediram 540 árvores e 129 espécies arbóreas durante um ano em 11 locais das regiões oeste, centro-leste e sul da Amazônia, nos territórios de Brasil, Peru e Bolívia.
“Esse trabalho reflete a preocupação da comunidade científica com a vulnerabilidade das árvores em relação às mudanças climáticas, especialmente no que diz respeito à mortalidade provocada pelos eventos recorrentes de secas severas”, diz o estudo.
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