Pesquisadores de diversas áreas do conhecimento participaram da elaboração das duas obras que visam ressaltar a importância dos ‘resgate’ destas culturas no ensino.
Os povos originários são aqueles que estavam presentes antes mesmo da colonização do Brasil, em 1500, não necessariamente ocupando os mesmos espaços daquela época, já que muitas etnias têm uma forma completamente peculiar de enxergar a territorialidade, as posses e o mundo. Os Yanomami, por exemplo, enxergam a terra como sendo uma só, pertencente a todos.
Essas culturas passaram por um processo de ‘apagamento’, uma desconsideração de suas culturas em prol da de seu colonizador. A colonização foi chamada de “descobrimento”, como se já não existissem seres humanos no território que hoje é denominado brasileiro.
Posteriormente, outros povos foram vítimas desse distanciamento cultural, em especial aqueles que eram trazidos à força do continente africano para que fossem escravizados.
Em 2008, a lei de número 11.645 foi estabelecida, modificando duas leis anteriores, para incluir a obrigatoriedade da temática “história e cultura afro-brasileira e indígena” no currículo oficial da rede de ensino nacional, buscando resgatar a importância destes povos na formação da educação do brasileiro – dentre as populações mais miscigenadas do mundo – que deve compreender sua origens por diferentes perspectivas etnoculturais.
Pensando nesses aspectos e atendendo a legislação vigente, dois livros foram produzidos na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e participação de inúmeros pesquisadores, os volumes ‘Literatura Indígena: Práticas Leitoras para a Sala de Aula’ e ‘ Leituras Africanas e Literatura Afro-Brasileira: Práticas Leitoras para a Sala de Aula’.
O Portal Amazônia conversou com Adriana Cristina Aguiar Rodrigues, coordenadora do projeto e professora do curso de língua e literatura portuguesa na Ufam, para compreender a importância do estudo destas culturas para a formação educacional brasileira.
Culturas que formam a identidade brasileira
A cultura brasileira é verdadeiramente ampla, única e miscigenada, com influências europeias, indígenas e africanas, principalmente. Estas últimas duas estão enraizadas nos costumes do povo brasileiro, mesmo que não seja de forma perceptível: dormir em redes, tomar banhos diários, a vestimenta utilizada, os pratos típicos.
O brasileiro é fruto de experiências culturais diversas, muitas das quais foram apagadas no decorrer do tempo, muitas vezes até mesmo de forma intencional.
“Nossa perspectiva identitária contemplava, até certo ponto, apenas as contribuições europeias portuguesas, advindas da colonização, desconsiderando as contribuições advindas dos povos originários e dos povos africanos em situação de diáspora [separação de um povo por conta de um preconceito, ou perseguição política e etnocultural]”,
explica a professora.
Este projeto surge, então, não apenas para atender as leis que foram instituídas, mas visando as demandas das próprias comunidades indígenas, fundamentalmente as da Amazônia, já que diversos estudantes dessas etnias não percebem a representação de suas culturas em sala de aula. Demandas essas que, segundo a coordenadora do livro, “vem desaguar em diversos documentos que requerem uma reformulação dos modos como a gente vem ensinando, olhando e se relacionando com essas culturas”.
Cristina ressalta ainda que esse estudo é de “necessidade urgente”, principalmente quando se considera que essas leis foram instituídas há cerca de 15 anos e que nesse período a sua instituição no ensino superior permanece deficitário e no ensino básico é praticamente inexistente, apesar de ter melhorado, e muito, em relação ao que era antes, ainda existe a necessidade do cumprimento de práticas educacionais que deem mais destaque às culturas que passaram por este processo de apagamento.
Sobre o projeto
Os livros ‘Literatura Indígena:Práticas Leitoras para a Sala de Aula‘ e ‘Leituras Africanas e Literatura Afro-Brasileira: Práticas Leitoras para a Sala de Aula’, foram desenvolvidos com a participação de diversos pesquisadores, que trabalham os temas com focos de estudo diversos.
Participaram de sua realização uma ampla equipe de professores e pesquisadores de universidades variadas e com escopos de estudo diferentes, contemplando antropologia, letras, dentre outras áreas do conhecimento.
*Estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar