Línguas indígenas devem ter espaço em todos os níveis de ensino, diz professora

A necessidade do ensino das línguas indígenas em todos os níveis da formação educacional é um dos alertas feitos pela linguista Bruna Franchetto, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo a autora do artigo Línguas Silenciadas, Novas Línguas, publicado no livro Povos Indígenas no Brasil 2011-2016, devem existir, no Brasil, em graus variados de vitalidade, em torno de 160 línguas indígenas, distribuídas em 40 famílias, duas macrofamílias (troncos) e uma dezena de línguas isoladas. “As línguas indígenas, todas ameaçadas, enfraquecidas, devem ter seu lugar, sua voz, em todos os níveis de ensino.” 

Foto:Reprodução
Os dados sobre o número de línguas indígenas existentes hoje no Brasil não são exatos. Linguistas ligados ao Museu Paraense Emílio Goeldi apontam a existência de 150. Uma pesquisa elaborada pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), divulgada em março do ano passado, diz que restam hoje 181 línguas, das quais 115 faladas por menos de mil pessoas. Esse número também é o considerado pelo Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília (UnB), com base nas projeções do linguista Aryon Dall’lagna Rodrigues (1925-2014).
A estimativa mais generosa aparece no Censo de 2010, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta a existência de 274 línguas faladas por 305 povos indígenas.
Há ainda comunidades que se apropriam de uma língua, seja com vizinhos falantes de variedade ou língua aparentada (geneticamente e/ou historicamente), seja por meio da recriação de uma engenharia sociolinguística, por exemplo, o Patxohã, a língua dos guerreiros Pataxós.
Para a professora Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, responsável pelo Laboratório de Línguas da UnB, uma língua morta é irrecuperável, mesmo quando há um trabalho de registro e documentação. Ela afirma, no entanto, que é possível criar uma língua a partir dos dados. “Mesmo que você tenha filmes, situações cotidianas de fala, que tenha muitos textos escritos, vocabulário, como é que vai ressuscitar uma língua? Você pode criar uma nova língua a partir desses dados se a comunidade assim desejar.”
No caso de uma língua em desaparecimento, mesmo na impossibilidade de revitalizar essa língua em sua totalidade, Ana Cabral destaca a necessidade de o conhecimento ser trabalhado pela comunidade. É possível trazer esse conhecimento para dentro de uma comunidade, mesmo que esta não consiga reconstituir uma língua, diz a professora. “Mas é importante que a comunidade reconheça aquelas palavras. Isso é forte para a identidade desses povos.”
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