Jogo apresenta universo Yanomami para crianças

O jogo 'Eli e a Queda do Céu em território Yanomami', produzido por grupo da UFSCar, transforma o pensamento do xamã e ativista Davi Kopenawa em ferramenta de alfabetização e educação ambiental.

O jogo ‘Eli e a Queda do Céu em território Yanomami’ transforma o pensamento do xamã e ativista Davi Kopenawa em ferramenta de alfabetização e educação ambiental. Imagem: Hugo Cestari

Um herói indígena infantil, chamado Eli, percorre a Floresta Amazônica enfrentando entes malignos, que encarnam aqueles que derrubam as árvores, queimam a mata, poluem as águas e extraem minérios movidos pela ganância. Esta é a proposta de ‘Eli e a Queda do Céu em território Yanomami‘, jogo em formato de plataforma digital criado pelo laboratório Leetra, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que se dedica à investigação de práticas linguageiras e identitárias, ao letramento digital e à literatura ameríndia, sob a coordenação da professora Maria Sílvia Cintra Martins, professora do Departamento de Letras da UFSCar.

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Inspirado no livro ‘A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami‘, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, o jogo pretende ser, ao mesmo tempo, um material de apoio para práticas interdisciplinares de alfabetização e letramento e uma introdução lúdica à cosmovisão indígena e às questões ambientais que afetam toda a humanidade.

“A ideia era criar uma ferramenta pedagógica que ajudasse professores da educação infantil e do ensino fundamental 1 a trabalhar com conteúdos sobre povos indígenas, conforme determina a Lei 11.645/08”, diz Martins. “Os docentes manifestam grande demanda por esse tipo de material e o jogo pode facilitar muito o trabalho em sala de aula”.

Sequência de jogos

O novo jogo dá continuidade a uma trajetória iniciada pelo Leetra com os jogos ‘Jeriguigui e o jaguar na terra dos Bororos‘ e ‘Kawã na terra dos indígenas Maraguá‘, ambos apoiados pela FAPESP por meio do projeto ‘Tradução, poética e artefatos culturais em práticas de letramento na educação infantil‘. “Os dois projetos anteriores tiveram excelente retorno de professores e alunos”, recorda a coordenadora.

Jogo apresenta universo Yanomami para crianças
Imagem: Reprodução/Leetra/USFCAR

“As crianças jogaram com interesse e curiosidade e os educadores viram neles um recurso concreto para abordar a diversidade cultural brasileira. O sucesso nos levou a propor um novo projeto, centrado na experiência Yanomami. Para isso, nos baseamos nas obras A Queda do Céu e O Espírito da Floresta, de Kopenawa e Albert”.

O roteiro do jogo foi então desenvolvido em parceria com engenheiros e designers especializados em games. O resultado pode ser acessado gratuitamente no site do laboratório.

O personagem central, o menino Eli, não existe nos textos de Kopenawa – é uma criação original da equipe. “Queríamos um protagonista infantil que permitisse às crianças se reconhecerem nele”, afirma Martins. “Eli tem traços xamânicos e enfrenta os entes malignos da floresta, símbolos dos males denunciados por Kopenawa: o desmatamento, as queimadas, a poluição, a mineração ilegal, a destruição da Terra”.

O jogo inclui ainda livretos de iniciação à língua Yanomami, uma inovação que amplia sua dimensão educativa e intercultural. A ideia é que o material seja utilizado tanto por crianças quanto por educadores, de forma autônoma ou mediada em sala de aula. “Dependendo da idade, a criança pode jogar sozinha, mas o ideal é que haja o acompanhamento. Assim, as questões levantadas no jogo – ambientais, culturais e linguísticas – podem ser aprofundadas”, argumenta Martins.

Os ensinamentos de Kopenawa

Publicada originalmente em francês, em 2010, e em português, cinco anos mais tarde, A Queda do Céu é considerada uma das obras mais importantes da antropologia contemporânea. O livro reúne as palavras do xamã Davi Kopenawa Yanomami narradas ao antropólogo francês (nascido no Marrocos) Bruce Albert ao longo de mais de 30 anos de convivência.

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Na obra, Kopenawa descreve sua iniciação xamânica, denuncia a devastação da floresta e alerta para o perigo de um colapso cósmico: a “queda do céu”, que seria provocada pela ganância. A dimensão ecológica e espiritual do texto transformou-o em referência mundial em debates sobre meio ambiente, colonialismo e direitos indígenas.

“Os males que afetam o povo Yanomami dizem respeito também à nossa sobrevivência e à do planeta”, comenta Martins. “Transformar essa visão em jogo é uma forma de fazer crianças e adultos pensarem juntos sobre o que estamos fazendo com a Terra”.

O jogo ‘Eli e a Queda do Céu em território Yanomami‘ pode ser acessado AQUI.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por José Tadeu Arantes  

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