Jogo promove resgate do conhecimento astronômico da etnia Tupinambá, no Maranhão

O objetivo é educar sobre a etnoastronomia tupinambá de maneira lúdica, tanto dentro quanto fora das escolas, como destaca o criador.


No cruzamento entre ciência, cultura e entretenimento, um grupo de estudantes criou jogo de cartas que diverte e também educa, tendo como foco o conhecimento em etnoastronomia dos Tupinambás do Maranhão. Intitulado de ‘Ayrumã’, o projeto da empresa Crafteca Studio foi pensado pelo estudante de Física da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Hérisson Chaves Ribeiro. O jogo tem como objetivo principal resgatar e difundir os conhecimentos ancestrais que esta etnia utilizava para interpretar o céu e suas influências no cotidiano.

Concretizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio do editais Centelha e Economia Criativa, a proposta do grupo é disseminar o jogo para todo o Brasil.

Foto: Laércio Marques

A ideia de criar o jogo nasceu a partir de uma palestra na UFMA, quando foi discutido o profundo entendimento dos Tupinambás sobre os corpos celestes.

‘Ayrumã’ utiliza a mecânica de vazas, popular em jogos de cartas e tabuleiro, onde cada jogador contribui com cartas para formar uma vaza, competindo para ganhar pontos conforme as regras do jogo, que se assemelha ao truco. O objetivo é educar sobre a etnoastronomia tupinambá de maneira lúdica, tanto dentro quanto fora das escolas, como destaca o criador.

O projeto de Hérisson Chaves se mostra inovador ao unir cultura e educação com a proposta de um jogo de tabuleiro, inspirado em conhecimentos indígenas. “Nosso jogo ensina, diverte e preserva a cultura indígena, promovendo sua história e fortalecendo o conhecimento da identidade desta população”, diz Hérisson Chaves.

Foto: Laércio Marques

O histórico desse conhecimento tupinambá data 1612, quando o padre Claude D’Abeville, em suas observações, registrou a rica cosmologia desses indígenas, que contrastava com as visões científicas eurocêntricas da época. Enquanto na Europa se debatia o geocentrismo, os tupinambás já compreendiam aspectos do heliocentrismo, mostrando uma avançada percepção do cosmos.

Muitos conceitos usados pelos povos originários iam contra as teorias científicas da época. Como exemplo, o fenômeno das marés, que Galileu Galilei atribuía à translação da Terra; e os tupinambás entendiam como resultado da interação com a lua. D’Abeville menciona que os tupinambás dominavam cerca de 30 constelações. Esses conhecimentos dos povos nativos do Maranhão iam de encontro ao geocentrismo defendido pela Igreja Católica na Europa, evidenciando a compreensão tupinambá do heliocentrismo como descrição precisa do cosmos.

O criador do projeto enfatizou a importância do apoio da Fapema, no desenvolvimento do jogo, que incluiu estudos sobre a história da etnia, consultorias especializadas e vários testes de recepção do produto.

“Foi essencial, pois permitiu viabilizar diversas etapas fundamentais para o desenvolvimento do projeto. Com o suporte da Fapema, conseguimos financiar a pesquisa e o desenvolvimento do jogo. Isso incluiu a realização de estudos de campo, a coleta de dados, consultorias especialistas e a elaboração do conteúdo educacional. Sou muito grato à Fapema por viabilizar esse projeto”, ressaltou.

A ideia também foi reconhecida na edição deste ano do 47º Festival Guarnicê, vencendo a categoria Voto Popular.

Projetos futuros

Para avançar na distribuição do jogo, o grupo vai concluir o desenvolvimento do módulo educacional do produto e elaborar um modelo de negócios direcionado às escolas. Segundo o criador, testes realizados em uma unidade escolar constatou que o jogo foi bem recebido pelos alunos, contribuindo no desenvolvimento das regras.

Está em planejamento, o lançamento de uma versão digital do jogo, para facilitar o acesso às amplas possibilidades de abordagem da temática etnoastronômica dos tupinambás. Esta adaptação digital permitirá explorar, de maneira mais dinâmica e interativa, os conteúdos educacionais relacionados à cultura indígena, proporcionando uma experiência mais imersiva e acessível para estudantes e educadores.

Além disso, há uma parceria com uma luderia local, para comercializar o jogo e será lançada uma campanha de financiamento coletivo para expandir a distribuição do jogo pelo Brasil, que somará no aumentar da popularidade e no alcance de um público diversificado. “Acreditamos que o jogo representa uma ferramenta valiosa para promover o interesse pela diversidade cultural e pelo conhecimento deste povo indígena”, evidencia Hérisson Chaves”.

*Com informações de Fapema

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